sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Comentários Breves sobre as Eleições

Boa tarde, meus caros.



Tempos de eleições nos despertam reflexões variadas, tendo eu grande dificuldade na escolha de um tema a ser abordado aqui. Assim, optei por fazer alguns breves comentários, oriundos de reflexões que surgiram em minha nebulosa mente durante esses dias, seja em relação às eleições no geral, em nosso modelo democrático-participativo, seja em relação a estas eleições.



- Em primeiro lugar, é comum ouvir de um público contrário a Lula que seu governo deu apenas continuidade ao governo FHC. Olhando apenas um lado da questão, de um ponto de vista mais amplo e estrutural, não é mentira: o modelo de Estado, a relação entre Estado-mercado, Estado-Igreja, etc. não mudaram; as medidas mais radicais demandadas pelos Movimentos Sociais que compuseram o próprio partido não foram atendidas. Enfim, desse ponto de vista mais amplo do modelo do Estado e sua relação com o mercado, nada mudou. Contudo, de um ponto de vista menos total, olhando com cautela as diversas vertentes que compõem o processo político, há mudanças relevantes: nas políticas sociais (que não divergem apenas quantativamente das do governo anterior, como gosta de dizer Serra), na política externa, nas relações econômicas exteriores (fortalecendo relações sul-sul e o Mercosul), etc. Não se trata, desse ponto de vista menos totalizante, de uma mera continuidade, mas de uma nova condução em alguns setores que compõe a política nacional.

- Em relação a esse público, normalmente médio-classista e pessedebista, eu observo uma fúria e um medo desmedidos e mal-justificáveis em relação à continuidade do governo Lula. A fúria costuma ser pautada nas denúncias de corrupção, nas alianças com figuras controversas e na crença de que a Bolsa-Família gerou um sem-número de folgados que não querem mais trabalhar Concordo que os casos de corrupção e as alianças são absurdos, mas, se o critério for estritamente esse, essas pessoas não deveriam votar no PSDB, que se aliou com ACM, Arruda, Quércia, etc. Isso além dos casos de corrupção em MG, das compras de votos por FHC para reeleição, etc. Em relação ao medo, este é mais infudado ainda: e-mails encaminhados anônimos, pseudo-pensadores e organismos da imprensa dão a entender, quando não dizem, que o PT está se tornando um governo ditatorial, anti-democrático, que vai restringir as liberdades de imprensa, manifestação religiosa, de expressão. Não há fundamento nenhum que justifique isso. O fato de Lula estar discordando explicitamente de um setor da imprensa não o fez tomar medida alguma de censura. O argumento do medo está sendo usado contra a Dilma de maneira abusiva e infundada, ainda que sem a presença ilustre de Regina Duarte.

- Já desconexo desses dois primeiros pontos, quero ressaltar uma terceira reflexão que venho fazendo. Há um e-mail circulando com as biografias dos candidatos ao Senado. Não vou nem discutir aqui a tendenciosidade das biografias, pois por mais que houvesse uma tentativa de imparcialidade por parte do autor do e-mail, é impossível ser imparcial quando se trata de política. Por seu caráter não-dogmático e aparentemente imparcial, este e-mail tem feito muito sucesso, levando muitos amigos meus a repensarem seus votos ao Senado. Contudo, a biografia é colocada na mensagem como fator essencial para escolha do voto. Conhecer o caráter ético do político e seu histórico no poder público é importante, claro. Mas tão importante quanto isso, ou mais, é conhecer a história do partido e a atuação do candidato em seu interior, sua proposta de governo, seus princípios fundantes, sua atuação em âmbito estadual, etc. Se olhamos para a biografia, analisamos apenas a questão moral, e não político-programática do candidato, o que pode ser perigoso.

- Sempre convém lembrar que a democracia vai muito além do voto. Temos direitos políticos adquiridos que nos dão condições para lutar pelas nossas demandas nos quatro anos que virão. Podemos nos organizar, protestar, fazer greve, mandar projetos de leis de iniciativa popular, abaixo-assinados, plebiscitos populares, etc. Há várias formas que a sociedade civil possui para se organizar, dentro e fora das instituições democráticas, na luta pela presença de suas demandas na agenda política. Não podemos nos iludir com a aparência de que a política se faz apenas nas eleições.



- Por fim, deixo claro que meu voto pessoal será em Plínio de Arruda Sampaio, do PSOL. Este blog não é um jornal ou um partido, de forma que cada membro tem sua opinião pessoal que pode ser livremente expressa, como fez meu grande amigo em seu post Kill Dill. Plínio, portanto, é o meu voto, não o candidato defendido pelo blog. Voto em Plínio porque acredito que é possível e necessário que as mudanças caminhem além de questões pontuais ou políticas públicas específicas, mas que afetem a estrutura econômica, a relação capital-trabalho em favor dos prejudicados por essa mesma estrutura. Não falo, ainda, em construção do socialismo, mas em dar um primeiro passo no sentido de contestar e lutar contra o domínio irrestrito do mercado, em favor do trabalhador agrícola e urbano, empregado ou desempregado.

Bom, há mais coisas que eu gostaria de partilhar, mas está ficando enorme.

Por ora, fico por aqui.

Não espero vossa docilidade.

Abraços,

Enrico



Nota póstuma: como já estava subentendido, voto em Dilma no segundo turno.

5 comentários:

  1. Finalmente vc acertou uma! Excelente texto.

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  2. hahahhaha, acabei de adicionar um último tópico que você não vai gostar.

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  3. Mesmo votando no candidato errado, vc continua bem. O esfusiante espírito democrático que envolve a nação nesse fim de semana me incentiva a não discordar de vc.

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  4. Brother excelente texto. As diferentes visões da política ajudam a construção de uma democracia mais robusta.

    Bizarro, não concordo com sua cutucada de candidato errado.....mesmo pq o seu é o certo?

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  5. Do começo ao fim me sinto comtemplada com o seu texto!!

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