terça-feira, 25 de setembro de 2012

Eleições 2012: Cachoeira Paulista/SP - Respostas


Com o objetivo de contribuir para o debate público nas eleições municipais deste ano, o Beco Livre quis fazer valer o seu nome ao ceder este espaço de maneira isenta e imparcial para a exposição dos planos de governo dos candidatos a prefeito da cidade de Cachoeira Paulista/SP. Sobretudo através de dados disponibilizados na internet, foi feito um questionário em que foram levantadas questões julgadas mais relevantes devido a sua discrepância em termos do índice ou ainda se relacionadas a situação empírica encontrada no município. 

Fazemos isso por acreditar que a política participativa é o único caminho para o fortalecimento do regime democrático e, para que isso ocorra, o voto consciente é fundamental não só para a escolha mas também para a futura cobrança de seu cumprimento.

Foi assim que mais precisamente no dia 11 de agosto começamos uma campanha virtual para tentar entrar em contato com os três candidatos, como pode ser visto aqui. Como pode se ver, infelizmente, não foi bem sucedida. Conscientes da possível ineficácia do contato virtual, dado que o acesso ainda não é democrático nesse país, optamos pelo contato físico: no dia 6 de setembro entregamos pessoalmente e em mãos, nas sedes dos comitês eleitorais, uma carta de apresentação e o questionário impresso e nominal aos três candidatos como pode ser visto aqui.

Preocupados com a transparência na publicação dessas respostas estabelecemos a data de 23 de setembro como limite para o envio, dado que a publicação de uma em detrimento de outras poderia resultar em fraude. Infelizmente, mesmo com esses esforços, não foram todos os candidatos que responderam. O resultado você confere a seguir.

Beco Livre: O IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) da cidade de Cachoeira Paulista aponta que o Ensino Municipal obteve em 2009, na última avaliação disponibilizada, a nota 4,7 para o 5º ano e a nota 4,0 para o 9º ano. Indo de 0 a 10, essa a avaliação aponta que a nossa Rede de Ensino Municipal não alcança nem o nível satisfatório (em 2011, o total da verba federal repassada para o município destinada à educação básica foi de R$ 634.742,70). Qual é o seu plano de governo, de ordem prática e objetiva, para reverter esse quadro? 

João Bosco Torrada (PMDB)
A educação é base fundamental para o desenvolvimento de um povo. Sempre há o que melhorar nessa área vital, sendo necessário um investimento constante. Em nosso Plano de Governo propomos: 
-Projeto Educação Integral: aumento do número de escolas com período integral para os alunos, implementando no currículo atividades externas, aulas de artes e teatro, além das aulas educativas ambiental, segurança e trânsito. Atividades essas exercidas no contra turno do período escolar.
- Programa de Desenvolvimento do Profissional da Educação: programa que possibilitará ao professor da rede municipal de ensino o incentivo para participação em programas de pós-graduação, contribuindo para a melhoria da qualidade do ensino da educação básica e com a garantia da formação continuada e permanente do professor, e com possibilidades de progressão e promoção na carreira.”
O IDEB tem seu índice pontuado de 0 a 10. O Governo, entretanto, determina metas mínimas a serem atingidas pelas escolas, tenho como proposta e meta exceder em todas as nossas escolas municipais tais índices mínimos. Mais do que a busca de um índice nossa proposta é o aprendizado dos alunos, tornando nosso ensino municipal comparado ao ensino de países desenvolvidos.

João Luiz (PT): Sem resposta.
Domingos Geraldo (PR): Sem resposta.

Beco Livre: Segundo o IBGE, o Índice de Gini de Cachoeira Paulista é de 0.41, o que aponta que a pobreza atinge 23,87% da população da cidade, isto é, mais de 6 mil cachoeirenses. Dentro de seu plano de governo, quais serão as políticas sociais voltadas para essa população carente? 

João Bosco Torrada (PMDB): A população carente necessita não apenas uma política social que vise uma melhor distribuição de renda, necessita de formação profissionalizante e programas de geração de emprego. Enumero abaixo minhas propostas de políticas sociais e de geração de renda enumeradas em nosso Programa de Governo:
“- Bolsa Municipal: Assistência para famílias de baixa renda não atendidas pelos programas assistenciais federais e estaduais.
- Modelando Raízes: promover o artesanato Cachoeirense, elegendo um modelo a partir do qual Cachoeira Paulista passe a ser reconhecida, além de incentivar o aprendizado e gerar cultura da produção, possibilitando a geração de renda.
- Acesso a Universidade: criação de cursos pré vestibulares gratuitos visando alunos da rede pública que queiram preparar-se para ingresso nos cursos universitários.
- Profissionalize-se: aumento do número de cursos profissionalizantes em convênio com SENAI, SESI, SENAC para atendimento da demanda de profissionais, principalmente na área de turismo.”
Pretendo ainda manter as boas iniciativas já realizadas em nosso município, como os cursos do Via Rápida em parceria com o Governo Estadual, os cursos profissionalizantes do CRAS e os de formação profissional de iniciativa da Administração Municipal que pretendo fomentar.

João Luiz (PT): Sem resposta.
Domingos Geraldo (PR): Sem resposta.

Beco Livre: Em 2011, a prefeitura municipal de Cachoeira Paulista recebeu R$ 272.124,60, referentes a royalties de petróleo e gás natural, através do governo federal. No seu plano de governo, qual será a prioridade na aplicação dessa verba na cidade? 

João Bosco Torrada (PMDB):  Essa verba compõe a arrecadação Municipal, que segundo legislação somente não pode ser utilizada para compor a folha de pagamento dos funcionários da Prefeitura, podendo ser empregada em recuperação do meio ambiente, infraestrutura, saúde, educação, programas sociais ou qualquer projeto municipal que seja relevante para o município.

João Luiz (PT): Sem resposta.
Domingos Geraldo (PR): Sem resposta.

Beco LivreTratando-se de um problema crônico nacional, o nepotismo (contratação de familiares das autoridades políticas no serviço público) vem sendo duramente combatido pelo Supremo Tribunal Federal. Ele se manteria pela perpetuação e o acúmulo dos chamados “cargos de confiança” do poder executivo na escolha dos funcionários em detrimento aos concursos públicos (não forjados). Qual será o seu critério na seleção dos funcionários que comporiam seu governo? Quais medidas práticas você tomará para combater o nepotismo?


João Bosco Torrada (PMDB):  Acredito que cargo público como a própria nomenclatura dispõe deve ser preenchido com o profissional mais preparado para exercê-lo, a fim de preservar o bem comum. De acordo com nossa legislação isso se dá por meio de concurso público, elaborado por empresa preparada para tal, com lisura e transparência em todos os procedimentos. Os cargos comissionados que a própria legislação permite sua contratação sem concurso público, deve ter suas indicações pautadas pela mesma lisura de todos os atos administrativos, sendo o único critério a competência profissional para a ocupação de tais cargos, sendo o nepotismo uma prática incompatível com a boa administração pública.

João Luiz (PT): Sem resposta.
Domingos Geraldo (PR): Sem resposta.

Beco Livre: Segundo o Censo 2010, a principal fonte de renda da cidade são os serviços voltados para o turismo religioso, já que, atualmente, a indústria e a agropecuária municipal não contribuem de maneira expressiva para a economia da cidade. Desse modo, em 2011, a prefeitura recebeu do governo federal R$ 17.949,75 destinados ao “Apoio a projetos de infraestrutura turística”. No seu plano de governo, como essa verba será aplicada? Quais são os seus projetos para aprimorar a infraestrutura turística de Cachoeira Paulista?

João Bosco Torrada (PMDB): O turismo religioso, o comércio e serviço agregado devem ser incrementados, tendo em vista o potencial turístico de nossa região. Entretanto não podemos permitir que tais atividades cresçam de forma desordenada, o que geraria transtornos a toda população. Em nosso Plano de Governo propusemos:
“- Desenvolvimento Sustentável do Turismo: Elaborar diretrizes e infraestrutura que assegurem ao município um desenvolvimento sustentável para o turismo, com normatizações e funcionalidades públicas que visem o incentivo e o estímulo do turismo.” A diretrizes elaboradas servirão de base para que sejam pleiteados novos recursos junto aos Governos Estadual e Federal através de projetos específicos. Tratando-se de verbas com destinação previamente determinada, estas serão aplicadas fielmente de acordo com os projetos aprovados.

João Luiz (PT): Sem resposta.
Domingos Geraldo (PR): Sem resposta.

Beco LivreCachoeira Paulista localiza-se no chamado “Vale Histórico” devido às fortes evidências deixadas fisicamente pelo período colonial na região pelo ciclo do café. Após décadas de declínio e descaso, atualmente, pode-se observar nas cidades vizinhas uma preocupação na manutenção e restauração desse patrimônio arquitetônico e cultural. Infelizmente, o que se percebe em Cachoeira Paulista é o movimento oposto: a Estação Ferroviária da cidade, considerada a segunda maior do país, está em ruínas e sem previsão de restauro; o Teatro Municipal, um dos mais antigos do estado, está de portas fechadas há anos sem contar que casarões e estátuas históricas continuam sendo demolidas para dar lugar a estacionamentos e asfalto. Há no seu plano de governo alguma medida para preservação do patrimônio histórico da cidade? Qual a medida prática pretende para a Estação Ferroviária e o Teatro Municipal?

João Bosco Torrada (PMDB): Os monumentos históricos são os cartões de visita de uma cidade, e estes uma vez expostos, devem ser mantidos e conservados como sendo a exposição de nosso cuidado com a cidade, seu povo e principalmente sua cultura e história. Em nosso Plano de Governo me preocupei com cada um dos nossos patrimônios histórico-culturais. Estação Municipal – Somente em 2010 é que a Prefeitura Municipal recebeu a guarda provisória desse Patrimônio, que até então era de uma empresa privada (MRS). Já existe um projeto protocolado no CONDEPHAAT e IPHAN visando sua restauração. Tenho um Projeto de revitalização de seu entorno, o que já tornaria esse Patrimônio um ponto de visitação:
“-Estação Viva: Revitalizar a antiga Estação Ferroviária e seu entorno, transformando em um centro de visitação, eventos e cultura.”
Teatro Municipal – Não há documentação de propriedade, escritura definitiva desse prédio, o que impossibilita qualquer projeto de solicitação de verbas seja do Governo Federal ou Estadual para sua manutenção. Nosso projeto é buscar a regularização de tal documentação e iniciar, mesmo que com verbas exclusivamente municipais reformas que possibilitem sua utilização, até mesmo para promover encontros da ACLA – Academia Cachoeirense de Letras e Artes. Complemento deixando claro minha preocupação com a história e cultura de nossa cidade ao deixar registrado como proposta de Governo: 
“História é Cultura: Revitalização de espaços culturais já existentes, como o Teatro Municipal, Parque Ecológico e a preservação do acervo do Museu Municipal Dr. Costa Junior, inclusive com a criação de acervo tecnológico. Além de incentivo e apoio a ACLA. Com o propósito de proteção ao patrimônio histórico/cultural.”

João Luiz (PT): Sem resposta.
Domingos Geraldo (PR): Sem resposta.

Beco Livre: É notória a falta de opções na vida cultural de Cachoeira Paulista: não há cinema, nosso Teatro não é aberto há anos, nossa Biblioteca e Museu mal recebem o investimento necessário para sua manutenção e a vida noturna depende das poucas iniciativas privadas. Os poucos grandes eventos com investimento público são as Festas de Santos, populares quermesses, que mesmo dada sua devida importância e tradição na cidade contribuem pouco para a valorização da produção cultural local. O que se percebe é que, por falta de opção, cada vez mais os cachoeirenses buscam isso nas cidades vizinhas. Qual o plano de governo para a revitalização e compra de novo acervo para da Biblioteca Municipal? Há previsão de investimento na reestruturação do Museu e no incentivo a atrair exposições itinerantes que vão além do acervo fixo? Há preocupação de incentivar a vinda de apresentações artísticas e musicais para a cidade? Quais serão as medidas práticas de investimento para a devida valorização dos artistas, escritores e músicos locais? Quais serão os investimentos em cultura em longo prazo?

João Bosco Torrada (PMDB): Compreendo sua preocupação, da qual também compartilho, pois nossos jovens tem poucas opções de lazer. Pretendo, além da revitalização da Estação, transformá-la em um espaço de lazer e eventos. Tenho ainda outros projetos para criação de eventos e locais para incentivo da cultura e lazer:
“- Calendário Oficial de Eventos Culturais: Criar e garantir um calendário com a realização de eventos culturais no município.
- Biblioteca Cidadã: ampliar a Biblioteca Municipal e instalar biblioteca pública nos bairros, todas com acervo atualizado e acesso à internet.
- Centro Cultural: Criar o Centro Cultural, para funcionar como um ambiente de estímulo a cultura e a arte, com exposições permanentes e cursos, além de criar um calendário municipal da cultura Cachoeirense. 
- Cultura na Praça: Ampliação do Praça Cultural para apresentação de Conjuntos Musicais, peças teatrais e apresentação de Grupos de Dança na Praça Prado Filho aos domingos e na Praça dos bairros.”

João Luiz (PT): Sem resposta.
Domingos Geraldo (PR): Sem resposta.

Beco LivreNão sendo um problema restrito as grandes cidades, a quantidade de carros vem aumentando consideravelmente em Cachoeira Paulista e, somado ao grande número de ônibus nos fins de semana por causa do turismo, não são raros alguns congestionamentos. Estudos em transporte urbanístico apontam o uso de meios alternativos ao carro como solução a essa problema crescente. Felizmente, um dos meios mais usados na nossa cidade ainda são as bicicletas, porém não há nenhuma política pública direcionada a proteção e o estímulo a esse tipo de transporte. Há no seu plano de governo planejamento da construção de ciclovias ou outro tipo de estímulo a meios alternativos de transporte? Quais são suas metas para o transporte na cidade?

João Bosco Torrada (PMDB):  Pretendo criar uma rota alternativa para os ônibus e veículos dos turistas, o que evitaria alguns congestionamentos. Realmente há que se incentivar o uso de bicicletas e também o cuidado com os ciclistas com a construção de ciclovias. Mas mais do que essas medidas pretendo promover um estudo completo do trânsito de nossa cidade, não somente visando a melhoria do fluxo como também um estudo dos fluxos das ruas com pesquisas junto a população. Pretendo nessa área utilizar minha experiência profissional com os mais de 30 anos na Polícia Rodoviária Federal.

João Luiz (PT): Sem resposta.
Domingos Geraldo (PR): Sem resposta.

Beco LivrePor fim, esse questionário só foi elaborado graças a Lei da Transparência, que entrou recentemente em vigor no intuito de divulgar através da internet a aplicação do dinheiro público. Como governo estadual e federal já colocaram em prática agora as prefeituras municipais é que são chamadas a aderir a essa divulgação pública de suas receitas e despesas. Além de estimular a participação da população na gerência pública, a transparência aparece como forte aliada no combate à corrupção. Há no seu plano de governo algum projeto nesse sentido?

João Bosco Torrada (PMDB):  Concordo plenamente com a disponibilidade das informações sobre os gastos públicos, nosso Plano de Governo já registrado no TSE tem uma diretriz destinada a transparência do dinheiro público municipal e boa gestão do bem público, transcrevo abaixo tal diretriz de nosso Plano de Governo:
“TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO PÚBLICA E ADMINISTRATIVA 
Programas
1. Gestão do Dinheiro Público: melhorar o processo de disponibilização na internet de todos os pagamentos efetuados pela Prefeitura, identificando o fornecedor e o valor dos pagamentos.
2. Pregão Eletrônico e/ou presencial: garantir a realização de todos os processos licitatórios possíveis através de pregão eletrônico e/ou presencial.
3. Fortalecimento da Ouvidoria/Corregedoria: fortalecê-la como um instrumento indispensável para garantia da lisura, transparência e ética no trato do interesse público.
4. Garantia de uma Política de Correção Salarial ao Servidor Público, com a elaboração do Plano de Cargos e Salários.
5. Prefeitura conectada: Interdisciplinaridade das Secretarias Municipais agindo em conjunto para que as ações elaboradas por uma Secretaria contem com apoio integral de outra.”

João Luiz (PT): Sem resposta.
Domingos Geraldo (PR): Sem resposta.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Eleições 2012: Cachoeira Paulista/SP - Carta e Questionário

Depois de algumas dificuldades em estabelecer uma comunicação virtual com os candidatos, entre as 15h e 16h30 do dia de hoje foram entregues os questionários impressos, acompanhados de uma carta de apresentação, na sede dos comitês eleitorais municipais de cada uma das três coligações. O andamento da resposta dos candidatos você pode ver no post anterior ou clicando aqui.

Considerando que agora há certeza do recebimento por parte dos três candidatos, tornamos pública logo a seguir a carta e o questionário reproduzidos exatamente como foram entregues (com exceção das imagens).

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Caro candidato,

Primeiramente irei me apresentar: sou cachoeirense, não sou filiado a partido algum e nem milito por nenhum candidato. Atualmente resido fora da cidade por motivos de profissionais, mas faço questão de fazer parte do colégio eleitoral de Cachoeira Paulista por me considerar cidadão dessa cidade.

Há alguns anos, junto com colegas de faculdade, mantenho um blog na internet chamado Beco Livre (http://becolivre.blogspot.com) que discute, dentre outras coisas, política. Pensamos que o período eleitoral é muito importante para reforçar o debate público sobre a nossa cidade, mas consideramos que isso não tem sido suficientemente abordado pela imprensa. Desse modo, através dessa carta, o convidamos e cedemos o nosso espaço para uma exposição mais profunda do seu projeto de governo.

Embasado no Censo de 2010 e nos dados disponíveis no Portal da Transparência, além de inquietações pessoais como cachoeirense, fiz um questionário com nove perguntas que envolvem os assuntos que considerei serem mais relevantes. Em sua elaboração prezei pela impessoalidade e a imparcialidade no tratamento de questões estritamente públicas. Peço que o senhor responda o mais rápido possível através do email becolivre.livre@gmail.com


Respeitando o princípio democrático envio uma cópia idêntica dessas perguntas tanto ao senhor como aos outros dois candidatos: assim que nos enviarem as repostas elas serão publicadas e divulgadas integralmente no blog.

Aguardo a sua resposta e agradeço pela atenção.

ASG


(03/09/2012) - Não havíamos estipulado uma data por considerarmos que o longo tempo existente desde o primeiro contato seria suficiente, mas dado que encontramos certa dificuldade de comunicação com alguns candidatos estipulamos a data de 23/08/2012, isto é, duas semanas antes das eleições como o prazo limite de envio das respostas que serão publicadas integralmente e em conjunto para que não haja a possibilidade de fraude ou favorecimento de nenhum candidato. As respostas dos três candidatos estarão em uma mesma publicação intitulada Eleições 2012: Cachoeira Paulista/SP - Respostas e transcritas de acordo com a ordem de recebimento. 

Questionário

1. O IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) da cidade de Cachoeira Paulista aponta que o Ensino Municipal obteve em 2009, na última avaliação disponibilizada, a nota 4,7 para o 5º ano e a nota 4,0 para o 9º ano. Indo de 0 a 10, essa a avaliação aponta que a nossa Rede de Ensino Municipal não alcança nem o nível satisfatório (em 2011, o total da verba federal repassada para o município destinada à educação básica foi de R$ 634.742,70). Qual é o seu plano de governo, de ordem prática e objetiva, para reverter esse quadro?
FONTES: http://ideb.inep.gov.br/ e http://www.portaltransparencia.gov.br


2. Segundo o IBGE, o Índice de Gini de Cachoeira Paulista é de 0.41, o que aponta que a pobreza atinge 23,87% da população da cidade, isto é, mais de 6 mil cachoeirenses. Dentro de seu plano de governo, quais serão as políticas sociais voltadas para essa população carente?
FONTE: http://www.ibge.gov.br

3. Em 2011, a prefeitura municipal de Cachoeira Paulista recebeu R$ 272.124,60, referentes a royalties de petróleo e gás natural, através do governo federal. No seu plano de governo, qual será a prioridade na aplicação dessa verba na cidade?
FONTE: http://www.portaltransparencia.gov.br

4. Tratando-se de um problema crônico nacional, o nepotismo (contratação de familiares das autoridades políticas no serviço público) vem sendo duramente combatido pelo Supremo Tribunal Federal. Ele se manteria pela perpetuação e o acúmulo dos chamados “cargos de confiança” do poder executivo na escolha dos funcionários em detrimento aos concursos públicos (não forjados). Qual será o seu critério na seleção dos funcionários que comporiam seu governo? Quais medidas práticas você tomará para combater o nepotismo?

5. Segundo o Censo 2010, a principal fonte de renda da cidade são os serviços voltados para o turismo religioso, já que, atualmente, a indústria e a agropecuária municipal não contribuem de maneira expressiva para a economia da cidade. Desse modo, em 2011, a prefeitura recebeu do governo federal R$ 17.949,75 destinados ao “Apoio a projetos de infraestrutura turística”. No seu plano de governo, como essa verba será aplicada? Quais são os seus projetos para aprimorar a infraestrutura turística de Cachoeira Paulista?
FONTE: http://www.portaltransparencia.gov.br e http://www.ibge.gov.br

6. Cachoeira Paulista localiza-se no chamado “Vale Histórico” devido às fortes evidências deixadas fisicamente pelo período colonial na região pelo ciclo do café. Após décadas de declínio e descaso, atualmente, pode-se observar nas cidades vizinhas uma preocupação na manutenção e restauração desse patrimônio arquitetônico e cultural. Infelizmente, o que se percebe em Cachoeira Paulista é o movimento oposto: a Estação Ferroviária da cidade, considerada a segunda maior do país, está em ruínas e sem previsão de restauro; o Teatro Municipal, um dos mais antigos do estado, está de portas fechadas há anos sem contar que casarões e estátuas históricas continuam sendo demolidas para dar lugar a estacionamentos e asfalto. Há no seu plano de governo alguma medida para preservação do patrimônio histórico da cidade? Qual a medida prática pretende para a Estação Ferroviária e o Teatro Municipal?


7. É notória a falta de opções na vida cultural de Cachoeira Paulista: não há cinema, nosso Teatro não é aberto há anos, nossa Biblioteca e Museu mal recebem o investimento necessário para sua manutenção e a vida noturna depende das poucas iniciativas privadas. Os poucos grandes eventos com investimento público são as Festas de Santos, populares quermesses, que mesmo dada sua devida importância e tradição na cidade contribuem pouco para a valorização da produção cultural local. O que se percebe é que, por falta de opção, cada vez mais os cachoeirenses buscam isso nas cidades vizinhas. Qual o plano de governo para a revitalização e compra de novo acervo para da Biblioteca Municipal? Há previsão de investimento na reestruturação do Museu e no incentivo a atrair exposições itinerantes que vão além do acervo fixo? Há preocupação de incentivar a vinda de apresentações artísticas e musicais para a cidade? Quais serão as medidas práticas de investimento para a devida valorização dos artistas, escritores e músicos locais? Quais serão os investimentos em cultura em longo prazo?

8. Não sendo um problema restrito as grandes cidades, a quantidade de carros vem aumentando consideravelmente em Cachoeira Paulista e, somado ao grande número de ônibus nos fins de semana por causa do turismo, não são raros alguns congestionamentos. Estudos em transporte urbanístico apontam o uso de meios alternativos ao carro como solução a essa problema crescente. Felizmente, um dos meios mais usados na nossa cidade ainda são as bicicletas, porém não há nenhuma política pública direcionada a proteção e o estímulo a esse tipo de transporte. Há no seu plano de governo planejamento da construção de ciclovias ou outro tipo de estímulo a meios alternativos de transporte? Quais são suas metas para o transporte na cidade?

9. Por fim, esse questionário só foi elaborado graças a Lei da Transparência, que entrou recentemente em vigor no intuito de divulgar através da internet a aplicação do dinheiro público. Como governo estadual e federal já colocaram em prática agora as prefeituras municipais é que são chamadas a aderir a essa divulgação pública de suas receitas e despesas. Além de estimular a participação da população na gerência pública, a transparência aparece como forte aliada no combate à corrupção. Há no seu plano de governo algum projeto nesse sentido?

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Eleições 2012: Cachoeira Paulista/SP - Candidatos

É com muita satisfação que anunciamos a primeira contribuição do Beco Livre para fortalecer o debate público sobre as eleições municipais, com a proposta de promover um debate virtual entre os candidatos a prefeito de Cachoeira Paulista, minha cidade natal e distrito eleitoral.

No intuito de fazer valer o espaço livre que ainda é a internet, e o nome desse blog, entramos em contato com os candidatos para estimular uma exposição quantitativa e qualitativamente maior de seus planos de governo.
Como também somos livres de rabo preso, salientamos que nesse debate prezaremos por total transparência e imparcialidade na divulgação: enviamos mensagens idênticas aos três candidatos e publicaremos suas respostas na íntegra e por ordem de recebimento.

Pedimos encarecidamente que os cachoeirenses que lerem esse post ajudem a divulgar, já que não temos nenhum tipo de patrocínio ou verba para isso. 

Por fim, estimulamos também aos moradores de outros municípios a fazerem o mesmo: busquem informações públicas sobre a sua cidade e questione os candidatos, faça valer o princípio democrático e participativo em seu município nessa eleição.

Update (03/09/2012) - Não havíamos estipulado uma data por considerarmos que o longo tempo existente desde o primeiro contato seria suficiente, mas dado que econtramos certa dificuldade de comunicação com os candidatos estipulamos a data de 23/08/2012, isto é, duas semanas antes das eleições como o prazo limite de envio das respostas que serão publicadas integralmente e em cojunto para que não haja a possibilidade de fraude ou favorecimento de nenhum candidato. As respostas dos três candidatos estarão em uma mesma publicação intitulada Eleições 2012: Cachoeira Paulista/SP - Respostas e transcritas de acordo com a ordem de recebimento. 

 Essas informações serão atualizadas de acordo com o atual status de comunicação 
(por ordem alfabética) 

Domingos (PR) Vice: Dr. Rodrigo
Coligação: Cachoeira de Todos nós  (PR / PSD / PV / PT do B)

1º Contato: 11/08/2012 Mensagem via Email - Aguardando Reposta.
2º Contato: 20/08/2012 Mensagem via Twitter - Aguardando Resposta.
3º Contato: 06/09/2012 Questionário e Carta impressos entregues para Josemar na sede do Comitê Eleitoral - Aguardando Resposta.

João Luiz (PT) Vice: Dadá Diogo
Coligação: Cachoeira Virando a Página! (PP / PDT / PT / PTN / PPS / PRTB / PSB / PRP / PC do B)

1º Contato: 11/08/2012 Adicionado como contato no Facebook - Aguardando Resposta.
2º Contato: 19/08/2012 Mensagem via Facebook Pessoal e Facebook Campanha  - Aguardando Resposta.
3º Contato: 05/09/2012 Mensagem via Canal Youtube - Aguardando Resposta
4º Contato: 06/09/2012 Questionário e Carta impressos entregues para Letícia na sede do Comitê Eleitoral - Aguardando Resposta.

Torrada (PMDB) Vice: Dra. Carmem
Coligação: Ética, Trabalho e Fé (PRB / PTB / PMDB / PSC / DEM / PHS / PMN / PSDB)

1º Contato: 11/08/2012 Adicionado como contato no Facebook - Aceito em 12/09/2012
2º Contato: 19/08/2012 Mensagem via Facebook Pessoal e Facebook Campanha - Respondida em 19/08/2012.
3º Contato: 20/08/2012 Questionário por email - Dúvidas enviadas por email em 28/08/2012
4º Contato: 03/09/2012 Dúvidas respondidas por email.
5º Contato: 06/09/2012 Questionário e Carta impressos entregues para Adão na sede do Comitê Eleitoral - Respondido em 11/09/2012

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Ana Maria Braga e o culto da individualidade.


Uma das maiores descobertas que tive esse ano foi me deparar, sem querer, com o disco intitulado Sou eu tendo como intérprete a famosa apresentadora global Ana Maria Braga. Esse álbum é composto por quinze faixas que trazem, em sua maioria, mensagens motivacionais narradas na voz da apresentadora e tendo de fundo tanto sons ambiente, como músicas de elevador, ou até mesmo merengues. 

Antes que questionem minha sanidade mental ou critiquem meu mau gosto, explico: não é a alta qualidade sonora e estética dessas faixas que me chamou a atenção e sim o conteúdo, ou seja, as analogias, as ideologias e os pressupostos contidos em cada uma delas. Digo isso porque, a meu ver, o conjunto dessas mensagens traz consigo uma espécie de manifesto político e sociológico da contemporaneidade, presente sobretudo nas sociedades americanas e europeias: o culto exacerbado da individualidade, refirmada pela identidade exclusiva e acoplada a necessidade imediata de ascensão social como símbolo de sucesso e status.

Sem dúvida a maior obra-prima desse álbum é a faixa onze intitulada Conselhos. Ela é a mensagem maior, a cereja do bolo. Não caberia aqui uma análise profunda dessas palavras tão diretamente proferidas e defendidas pela narradora: nela é possível estabelecer ligações teórico-metodológicas com o referências a Karl Marx, São Paulo de Tarso, Pierre Bourdieu, Nietzsche e sobretudo Max Weber além de ter como pano de fundo uma polêmica sobre darwinismo social. Um verdadeiro manifesto do modus operandi e do habitus dessa contemporaneidade, proferidas do ponto de vista diretamente do nativo. Consciente, assim, da minha incapacidade de uma análise séria que contemple a magnitude dessa obra, escolhi a faixa quinze (Sou eu) que além de finalizar e dar origem ao título desse álbum, também é capaz de resumir pontualmente os ideais que norteiam o restante das faixas.


Sou eu. Eu sempre fui assim.

Nessa primeira estrofe a cantora já delimita de maneira objetiva e determinista a sua individualidade: ela É e SEMPRE foi do jeito que se encontra. Isso aponta claramente para a impossibilidade de mudança, posto que a sua personalidade é determinada pelo que sempre foi e não pelo que virá a ser. Essa afirmação traz consigo subentendida a noção de determinismo biológico, ou seja, que as pessoas já nasceriam com as suas características ao invés de as adquirir socialmente. O ser humano seria um ente fechado em si mesmo e determinado pelo que considera que seja inato.

 Sou meu guia, meu caminho, eu sou dona de mim. Se sou feliz, é desse jeito.
Não é por obrigação é por direito! 

Aqui ela aponta que independe de outros seres humanos pra viver, que independe da vida social e de relações que interfiram na sua capacidade de ver o mundo: sendo dona de si mesma, é ela quem guia os seus próprios passos e trilha o seu próprio caminho. Não há necessidade de receber auxílio ou se informar dos resultados práticos de suas ações no contexto social, o que importa é a sua felicidade. Aqui se mostra um dos cumes da individualidade exacerbada presente na música: sabendo em si mesma o que deve ser feito sem se importar com os reflexos de suas ações, tudo pode ser justificado se for feito em nome da felicidade. Se ela é feliz sendo fechada em si mesma, ela tem o direito de ser assim. Nada a pode impedir de ser feliz, nem mesmo a desgraça alheia importa. Se ela sempre foi do jeito que é, aqui ela manifesta o desejo de nunca mudar, de permanecer consigo mesma e fazendo o que bem entender para ser feliz.

Sou eu, muito prazer. Olhar um livro aberto pra quem sabe me ler. 

Essa é uma das poucas referências que ela faz a outra pessoa além de si mesma e, mesmo assim, é apenas para se apresentar. Diria que o muito prazer traz em si uma certa dose de ironia, uma vez que ela não se apresenta para estabelecer uma relação e sim para se deixar ver, como um livro. Um livro exposto, aberto, mas não qualquer livro: um livro restrito a certas pessoas capazes de o ler. Essa é uma das características da individualidade exacerbada, a noção de exclusividade. Sendo um individuo único e exclusivo ela se poe na posição de um livro extramente interessante capaz de fazer saltar o interesse do público em geral em o conhecer.  
 O que eu já ri e o que já chorei pra aprender que ainda é pouco o que já sei.

Como é típico da individualidade exacerbada, esse trecho traz um pouco de modéstia, mesmo que falsa, para mostrar que além de única, exclusiva e extremamente interessante, ela é uma pessoa que mantém a humildade, isto é, não se deixa levar pelas inúmeras características que poderiam a tornar uma pessoa rude. Ela assume que ainda não sabe de tudo e que por isso muito sofreu. Reparem que esses são os únicos motivos de sua alegria e de sua tristeza: a falta de conhecimento próprio.

Flores na varanda, a lua sobre o mar, a vida convidando pra dançar.

Não há dúvida que aqui se encontra um evidente caso de antropocentrismo. Não bastasse ela ser fechada em si mesma para os outros seres humanos, ela também acredita que todo o mundo e o universo giram em sua volta. A existência tanto das flores como até mesmo da lua e do mar são um sinal da vida a convidando pra dançar, isto é, viver e ser feliz. Há um claro subjugamento da natureza e do cosmos em função da sua felicidade. Uma instrumentalização da natureza, julgada inferior, para saciar as vontades do ser humano.

No espelho uma menina, brincando de esconder. Se mostra e ri pra mim, quando me vê.

Obviamente não poderia faltar nesse culto ao eu uma referência ao espelho, símbolo maior do narcisismo presente nessa obra. Como alguém que cultua tão fiel e decididamente a sua individualidade, o espelho é a oportunidade de contemplar a si mesmo e ter a constatação empírica da sua exclusividade. É interessante perceber aqui a quantidade de referências a si mesmo em apenas poucas palavras: a menina no espelho obviamente é ela mesma (ideia que será retomada mais adiante) e sendo ela mesma ela se mostra e ri pra ela mesma quando vê ela mesma. A exacerbação da individualidade chega a um ponto que remete a certa esquizofrenia compulsiva pelo próprio corpo digna da madrasta de Branca de Neve.


Sou eu, quem mais podia ser? Deslumbrada, apaixonada pelo dom de viver. 

Novamente ela remete a sua individualidade exclusiva: tudo que foi dito até agora é vivenciado unicamente por ela e mais ninguém. Quem mais poderia ser assim a não ser ela? O tom de indagação retórica remete a uma obviedade a ser percebida pelo seu interlocutor. Sendo tudo o que é, exclusiva e individualmente, é apaixonada pela vida. A própria vida, é claro.

Se deus me deu, ah, ninguém me tira: nem inveja, nem maldade nem mentira.

Algo muito importante e esclarecedor pode ser analisado a partir desse trecho: a questão da determinação divina. Se desde o início ela ressalta que o seu jeito de ser, exclusivo, não é passível de mudança por ser eterno e contínuo desde o seu nascimento, aqui ela expõe que quem determinou isso foi deus. Desse modo, foi deus quem lhe deu tudo o que tem e tudo o que ela é, e nada é capaz de tirar isso dela. É aí que ela traz pela segunda e última vez uma referência a outras pessoas além dela: as que tem inveja, são más, mentem e querem destruir tudo o que ela é. Dito de outro modo, a cantora  seria boa, humilde e apaixonada pela vida por intermédio de deus sendo que o resto dos seres humanos seriam invejosos, maus e mentirosos buscando interferir na sua vida para a desgraça e a destruição da sua individualidade exclusiva e exemplar. 

Flores na varanda, a lua sobre o mar, a vida convidando pra dançar. No espelho essa menina, sorrindo para mim: sou eu, ah, eu sempre fui assim.

Após repetir o refrão antropocêntrico, ela então muda o trecho sobre o espelho e traz a tona o que já estava óbvio: a menina refletida é ela mesma e do jeito que ela sempre foi. É assim que, por fim, ela traz a última característica típica do individualismo exacerbado e narcisístico: a negação da velhice. Mesmo sendo uma idosa, a cantora afirma que ao olhar para o espelho vê uma menina e é isso que ela passa a buscar, ser efetivamente uma menina através da negação da maturidade tanto emocional como propriamente física na busca da juventude eterna, pois tendo a concepção que a juventude seria o ápice da vida, o auge da felicidade plena, ela tem que ser mantida custe o que custar.

Sou eu. Euzinha! Sou eu. 

terça-feira, 19 de junho de 2012

Insubmissão, sentimento e política

Como venho martelando continuamente em meus últimos devaneios, o que tem me incomodado, pelos mais diversos motivos, tem sido a criação de paradigmas sobre a realidade. Dito de outro modo, a instauração de verdades absolutas que deixamos nos guiar cotidianamente sem questionar os seus motivos. Mas se não há a verdade a ser seguida, o que seguiremos? Se a ciência não dá conta da realidade, qual outro método usamos? Em suma: posto tudo isso, o que deve ser feito? Afinal, apontar os erros e desconstruir o dado é mais fácil quando não há preocupação em descobrir alternativas.

Bom, partindo da premissa já discutida de que toda ordem é em si delimitadora da multiplicidade do mundo real, ou seja, a fantasia de uma lógica própria da funcionalidade do mundo que inexiste na prática, trago a minha solução apologética: nada mais óbvio para se combater o rancor da racionalidade da teoria e a ciência do que o sentimento expresso pela arte ou mesmo o afeto. 

Isso mesmo, o sentimento (mas sem pieguismo) me parece a linha de fuga fundamental para se quebrar esse ciclo vicioso do pragmatismo e da funcionalidade perpetuada por milênios e fortificada nos últimos séculos. 


A lógica perversa da dialética finita, isto é que tem uma síntese a ser alcançada, precisa ser superada através da constatação óbvia de que a dialética que move o mundo é permanente, plural e múltipla. É preciso perceber que enquanto buscarmos um sistema que se resolva em si, enquanto buscarmos a solução final para as linhas da vida continuaremos retendo, delimitando, enquadrando e violentando o mundo de possibilidades e experiências a serem descobertas e reinventadas.


Em outras palavras, o que defendo aqui como compromisso político é a insubmissão. 


Veja bem, como insubmissão não considero aqui a reação já que essa implicaria, em contrapartida, uma opinião formada que vai em direção oposta a estabelecida. A insubmissão, pelo contrário, pressupõe que não há uma direção a ser tomada a não ser a indiferença frente aquilo que é estabelecido. É simplesmente ignorar os caminhos apontados pela razão e seguir as linhas de fugas possíveis. É estar comprometido com a defesa da multiplicidade e contra tudo aquilo que estabeleça um poder (centralizado ou não). É contribuir para a criação de formas de escape a ordem. 

É assim que chego ao sentimento como fonte de insubmissão: diferentemente da racionalidade funcionalista e pragmática, que age de maneira violenta e coercitiva, é o sentimento aquele que deve ser enfatizado em prol de uma maior compreensão do experienciado. Criar novas sensações e não as reproduzir. Libertar a potência sentimental do ser humano aprisionada pelo raciocínio lógico: ao invés de reconhecer e sistematizar o que é sentido é preciso apenas sentir. 

Basta ao culto dos grandes pensadores: é preciso valorizar os grandes sentidores.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Verdade como poder

Um dos efeitos mais perversos da delegação da experiência individual pra terceiros, que tratei na minha última publicação, é o estabelecimento da verdade absoluta. Qualquer coisa absoluta é, em si, incompleta. Assim, toda verdade é relativa de acordo com a perspectiva dos seus locutores. 

O discurso científico, nesse sentido, tendo uma perspectiva carregada sobretudo de racionalidades acríticas, isto é, presas a técnicas e tecnologias funcionalistas de desenvolvimento que reproduzem uma maneira de pensar dominante, adquiriu hoje um discurso legítimo em praticamente todas as esferas do campo social. O discurso científico/racional/metodológico se tornou parâmetro de análise e legitimação de tudo: essa seria a verdade, absoluta. 

É inquestionável que a produção dessas verdades se dá muitas vezes pela mais boa vontade dos envolvidos. Não digo que exista um plano diabólico e maquiavélico entre uma cúpula de cientistas malucos que querem dominar o mundo, pelo contrário, penso que muitos deles buscam mesmo verdades absolutas e acreditam que existe um caminho certo a ser seguido pela humanidade para a evolução completa do gênero humano.

Mesmo não acreditando em evolução social e desacreditado cada vez mais dos métodos científicos, fato é que  uma vez que uma "verdade" é proferida por uma dessas pessoas, independente da boa vontade, elas podem e geralmente passam a ser utilizadas como forma de poder e dominação.  Em outras palavras, o discurso científico adquiriu tanta legitimidade que tudo aquilo que é dito por ele, isso é, todo resultado de uma pesquisa passa a ser tido como uma verdade absoluta e inquestionável. O único motivo de se estabelecer uma verdade como opção absoluta é excluir as demais opções como inverídicas.

O perigo é que uma verdade inquestionável resulta em ações inquestionáveis: é desse modo que grande empresas, hospitais psiquiátricos, cadeias, escolas e sobretudo o Estado ditam suas normas e coagem seus pares através da força. Se aquilo é verdade, deve ser defendido independente das opiniões contrárias. Usando da violência ou não.

O que é desconsiderado nisso tudo é que toda verdade é na realidade uma ficção: a verdade é a ficção aceita pela maioria.

Desse modo, a meu ver, o único meio de se desenvolver um olhar crítico para a realidade sem se deixar levar por uma única ficção é desestabilizando o poder através da potencialidade do falso. Mas deixarei isso para minha próxima divagação....

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Sobre House, M.D.

Nessa semana, chegou ao final a série que atingiu a notável marca de programa televisivo mais assistido da história, segundo o Guinness. Em um episódio agridoce, como definiu seu criador, House, M.D. pôs ponto final a oito temporadas de drama, mistério e comédia no mundo médico. A seguir, traçarei minhas impressões sobre a epopéia do médico ranzinza e misântropo.

Em primeiro lugar, acredito que o grande mérito de House, M.D. foi seus personagens. Ou, pelo menos, os principais. House, Wilson, Foreman, Chase e Thirteen, durante sua participação na série, explicitavam marcas do passado meticulosamente construídas - e reconstruídas mediante situações do presente e expectativas do futuro. Suas personalidades não foram estáticas ao longo da série: como na vida real, seus traços identitários foram dinâmicos. Contudo, essa evolução dos personagens foi complexa: sem metanóias e continuidades inverossímeis, a ambiguidade moral e as descontinuidades foram coerentemente marcantes. House, por exemplo, não caminhava em um traço continuamente decadente à autodestruição: tinha altos, baixos e períodos estáveis - sempre coerentes com os acontecimentos retratados na série. Ao mesmo tempo, não era simplesmente antissocial ou egoísta. Sua misantropia era fundamentada por uma trajetória complexa de vida - com traumas e glórias na infância e na vida adulta - e em certos momentos encontrava válvulas de escape, como com Stacy, Cuddy, Wilson e na bela sequencia no início da sexta temporada, pós-internação. Assim, a ambiguidade moral foi marcante em diversos personagens, inclusive House, fazendo com que fosse dificil taxá-lo simplesmente de egoísta (quando, nessas válvulas de escape, teve ações altruístas) ou imoral (quando possuía um quadro moral próprio e alternativo, mas não ausente). O próprio racionalismo exacerbado não era contínuo e pleno: ao mesmo tempo que defendia um ateísmo ardoroso perante certos pacientes, inquietava-se diante da possibilidade de um sentido para a vida. A cena em que coloca uma chave de fenda na tomada para ver o que seria uma experiência de quase-morte foi bastante emblemática, bem como o diálogo com suas várias facetas travado no episódio final.
O mistério constante e a racionalidade típica de Sherlock Holmes - inspiração para a série - na resolução de problemas também foi um atrativo, assim como um humor sarcástico, de recusa ao politicamente correto, à polidez, à hipocrisia. Um humor crítico e inteligente, fosse dirigido a questões pontuais dos personagens ou a questões existenciais da vida humana. A relação dialética, de contrariedade e complementariedade, entre House e Wilson também foi particularmente interessante. Mais até, eu diria, que a relação entre os inspiradores Holmes e Watson. Fossem conceitos sociológicos, House e Wilson seriam, respectivamente, conflito e consenso, estratégia e entendimento, ação racional-teleológica e ação racional-valorativa, racionalidade instrumental e racionalidade comunicativa. O desenrolar da série conduziu a uma relação de interdependência e choque constante, na qual duas formas de saber e viver opostas se conflitam, se completam, se provocam, de forma que grandes diálogos foram essenciais para compreender a trajetória dos personagens. A última temporada culminou essa relação extremamente delicada em um final surpreendente. Claro que toda essa trajetória foi possibilitada por dois grandes atores - Hugh Laurie e Robert Sean Leonard - que agora estarão livres para brilharem mais nas telonas. Olivia Wilde foi outro destaque de atuação, e já deu indícios do que poderá fazer na sétima arte com um bom trabalho em Tron - The Legacy. Por fim, Jesse Spencer evoluiu de maneira assombrosa ao longo da série - assim como seu personagem - e o último episódio levanta a dúvida se poderá se iniciar um eventual Chase, M. D., o qual não me agradaria.

A coerência e verossimilhança observada na construção dos personagens não se estende a todos os aspectos da série. Aquele hospital, evidentemente, está fora de qualquer realidade. A eterna impunidade de House, a organização e o sentido de seu departamento, o abuso do método de tentativa e erro, bem como outros tantos aspectos são completamente irreais. Creio que esse é um dos pontos falhos da série - mas, caso não fosse assim, a trama seria outra. Outro problema foi a repetição de exatamente o mesmo modelo de episódio por todos esses oito anos. A proposta foi eficaz nas três primeiras temporadas, mas acabou por se desagastar. É verdade que alguns dos melhores episódios foram a partir da quarta, como o comovente duplo House's Head/ Wilson's Heart (4ª), o interessante Broken (6ª), o dramático Bombshells (7ª) e o tenso Nobody's Fault (8ª). Mas, em todos esses casos, foi necessário fugir do esquema padrão. Talvez se houvessem mais episódios fora do modelo, a série teria segurado melhor a audiência a partir da sexta temporada. Fiquei incomodado, ainda, com as duas personagens introduzidas na última temporada, que pouco colaboraram para a trama.

[Atenção: spoilers a seguir] Quanto ao final: esperava algo diferente, mas não posso dizer que não gostei. Foi coerente com os personagens, mantendo a descontinuidade e a complexidade da evolução das identidades. Achei que o paciente poderia ter sido explorado mais profundamente, enquanto personagem, constituindo um alter-ego mais provocativo ao protagonista. Outro problema da reta final da série foram algumas pontas soltas que deixaram de ser amarradas, como a questão do irmão do Wilson e a conturbada e significativa relação de Foreman com sua família. Além disso, a ausência de Cuddy dentre as alucinações que representaram os vários aspectos da personalidade de House no episódio derradeiro foi bastante incoerente, já que sua relação conturbada com a ex-chefe marcou o último aprofundamento depressivo do anti-herói. De todo modo, creio que Kutner, Amber, Stacy e Cameron demonstraram bem a complexidade do perfil psicológico de House. Respectivamente, parece-me que simbolizaram: o espírito curioso e racional; o sarcasmo e contrariedade diante da vida humana; a resignada esperança no amor e no sentido da vida; o amor próprio que beira o egoísmo. Este último foi o que House precisou enfrentar, em seu interior, com mais afinco para tomar a decisão que marcou as últimas cenas. E aqui cesso meu semi-spoiler.

Foram essas minhas impressões ao longo desses oito anos. Gostei da série e, apesar da tristeza pelo fim da trajetória, sinto que acabou no momento adequado. E que venham novos seriados!



quarta-feira, 16 de maio de 2012

Experimentar é preciso!

A meu ver um dos maiores equívocos da humanidade tem sido a delegação da experiência. Mesmo que essa prática não seja nova, me parece que na contemporaneidade ela se solidifica por trás de um discurso científico monopolizante da verdade. 

Digo que não é nova porque se remontarmos há certo tempo esse discurso monopolizante vinha da instituição política e monárquica detentora de poder que era da Igreja durante a Idade Média. Foi essa uma das críticas e o estopim da Reforma Protestante: que as pessoas abdicando desse aparato institucional como mediador pudessem acessar uma experiência religiosa mais genuína posto que direta.

Bem, hoje quem domina o discurso monopolizante é a ciência. Que roupa usar, que comida pode ser digerida e quando, qual postura se deve ter no corpo para cada ambiente frequentado, como o sexo deve ser conduzido, qual música e qual cor são ideais para um melhor humor, como manter esse bom humor no trabalho e até mesmo como defecar.  Para tudo que foi dito, entre centenas de outras coisas, existe pelo menos um especialista que vai apontar como você está fazendo tudo errado. E que esse erro é o culpado pela sua infelicidade.

E pra isso não é preciso ler os últimos compêndios ou assinar aquela revista científica norte-americana: basta acessar a internet ou a televisão que sempre, invariavelmente, vai ter alguém ou alguma coisa ditando como você deve viver a sua vida para ser feliz e saudável.


Se por um lado essa lógica de desenvolvimento tecnológico alucinante acoplada a necessidade imediata de transmissão de saberes é a grande responsável por grandes feitos da humanidade, o que deve ser respeitado, ela traz consigo a lógica perversa de restrição da produção de conhecimento.

Esse totalitarismo do conhecimento acumulado abafa de maneira assustadora a capacidade de criatividade e espontaneidade daqueles que não sabendo dos meandros e modos de operação dessa esfera social são jogados ao limbo dos incultos, estúpidos, primitivos ou mesmo selvagens.

Usando a metáfora de um emaranhado de linhas, a experiência da vida como é vivida não se apresenta, e nem pode, de maneira uniforme, clara e objetiva: pelo contrário, uma visão mais crítica de como percebemos o mundo indica que ele é muito mais complexo do que qualquer objetivação seria capaz de dar conta.

Indo mais além, a objetivação que fazemos do mundo é em sim um empobrecimento atroz da realidade por nós experienciada diariamente justamente porque não temos capacidade cognitiva, no modo objetivo em que insistimos em propagar, de apreender o que nos é dado.

Ora, sendo todo tipo de objetivação um empobrecimento, tomar essas objetivações como detentoras da verdade é de uma estupidez até mesmo em nível objetivo. Todo conhecimento é adquirido através da fugacidade de uma experiência.

Em outras palavras, aceitar como única verdade aquilo que nos é imposto pela ciência e a razão, por doutores e especialistas, é enjaular todo o mundo de possibilidades e conhecimentos que podem ser adquiridos através de novas experiências. É transformar um emaranhado de linhas em uma reta. Muitas delas que só podem ser descobertas através das negações do senso comum mais generalizado.

A todo aquele que almeja adquirir conhecimento é preciso antes experimentar novas formas de defecar, de se vestir, de se alimentar, enfim, de viver.

Experimentar é preciso!

sábado, 12 de maio de 2012

Esfera Pública Virtual?

Depois de muito tempo, cá estou. Novamente a divagar.

Os debates recentes sobre a construção e a radicalização da democracia têm sido muito marcados pelo termo "esfera pública". Talvez, no Brasil, a concepção mais difundida de esfera pública seja aquela desenvolvida pelo filósofo alemão Jürgen Habermas (já mencionado neste blog), que se refere ao conjunto de espaços não-estatais e não-mercadológicos de debate, discussão política, protesto, manifestação e formação de uma opinião pública, a fim de pressionar o Estado e colocar na agenda pública as demandas levantadas e consolidadas. Embora essa concepção de esfera pública me pareça insuficiente para reclamar uma radicalização democrática - porque não afeta a estrutura do Estado (nem do mercado), apenas o pressiona e tenta conduzi-lo "de fora" -, não me debruçarei agora sobre essa crítica. Minha postagem será conduzida por três perguntas fundamentais, em torno da mudanças provocadas pela emergência do cyberespaço: 1) Há, de fato, a emergência de uma "esfera pública virtual", como apontam alguns estudiosos do tema? 2) Quais os alcances e limites dessa suposta esfera pública virtual no que diz respeito à influência sobre o Estado? 3) Considerando os meios de comunicação em massa um ator bastante atuante na formação da opinião pública, qual o impacto da difusão da internet? Longe de pretender dar respostas definitivas a essas questões, exporei os caminhos pelos quais as tenho pensado. Por isso, toda crítica às reflexões são bem vindas.


Esfera pública virtual

Parece-me consensual que, no mínimo, alguma mudança acontece em relação ao debate político e às formas de pressão sobre o Estado desde que a internet se "popularizou" (considerando que ainda marginaliza uma grande parte pobre da população) e as redes sociais se tornaram espaços de divulgação de ideias, debate político, articulação de grupos e formação de opinião. Acredito que esses espaços, bastante frequentado por jovens, políticos "profissionais", ativistas de movimentos sociais e ongs, são espaços públicos por definição: o que está em jogo é a argumentação e, fora a grave restrição imposta aos "excluídos digitais", há uma certa democracia no interior do debate. Com o risco amenizado de serem interrompidos ou constrangidos por homens brancos heterossexuais (dominantes na esfera pública tradicional), mulheres, homossexuais e negros colocam seus posicionamentos políticos com maior tranquilidade e fomentam correntes contra-hegemônicas de opinião. Abaixo-assinados virtuais e blogs de diversos temas participam fortemente da formação de opinião e desenvolvem formas inteiramente novas de pressão institucional - cuja eficácia, sem dúvida, deve ser questionada. Além deste processo virtual de formação de opinião e debate, as redes sociais e blogs diversos são espaços de articulação e divulgação de protestos e manifestações no "mundo real", material. 
Nem tudo são flores: esses espaços virtuais não possuem uma moralidade inerente - e nem deveriam -, de forma que também são aproveitados pelo que há de mais podre em nossa sociedade "civil": neo-nazistas, masculinistas, integralistas, racistas, xenófobos, homofóbicos, fundamentalistas violentos, torcidas organizadas de futebol (que fomentam a violência e agendam guerras por esses espaços) e outros tipos de opressores. 
De todo modo, mesmo considerando aquelas demandas justas e legítimas, que se referem ao reconhecimento e efetivação de direitos sociais e políticos, é preciso questionar os alcances desses cyberespaços.

Limites e alcances

Acredito que as mudanças são irreversíveis e geram processos inteiramente novos. Não acredito, contudo, que esses novos processos sejam meros substitutos dos antigos e não me parece que um dia terão condição para tal. Isso porque o Estado e o mercado - principais alvos dessas organizações -, embora tenham sua "virtualidade" (seus websites, seus sitemas virtuais de intercâmbio e negociação, etc), são geograficamente existentes e materialmente concretos. A opressão do Estado (de diversas orientações políticas) e do mercado são materiais, encarnadas, concretas, enraizadas no "mundo real". Embora a virtualização do debate tenha gerado uma nova forma de discussão, tematização, dramatização e formação de opinião, as grandes instituições visadas permanecem existentes no mundo material, e nele continuam a oprimir seres humanos. Ao mesmo tempo que há novos alcances e novas formas de desobediência civil (Anonymmus é o grande exemplo), corre-se o risco de considerar suficiente a manifestação e articulação nesses espaços. Considero que o grande potencial está na articulação entre o debate e formação de opinião pública no mundo virtual, de um lado, e formas historicamente consolidadas de protestos nas ruas, nos espaços materiais e geográficos de opressão: em frente a embaixada, dentro da assembleia, na praça pública, na ocupação de predios, na greve. Esse foi o grande ensinamento deixado pela Primavera Árabe. O "mundo virtual" foi imprescindível para a articulação e canalização de insatisfações, mas a derrubada do Estado opressor só ocorreu mediante a materialidade das ruas, das lutas concretas. Ademais, há lutas profundamente enraizadas na materialidade, como movimentos por terra e moradia, para as quais os espaços virtuais têm uma contribuição bastante limitada.


Democratizar a informação

O oligopólio dos meios de comunicação em massa (televisão e rádios, principalmente) é um dos principais problemas no processo de formação de opinião pública no Brasil. Se consolidar uma concepção de mundo contra-hegemônica é sempre desafiador, a questão complica-se quando poucos magnatas, de posicionamentos políticos semelhantes e alianças obscuras, dominam o setor das comunicações. Esse ponto sempre foi um câncer em nossa esfera pública, comprometendo a legitimidade da opinião pública. Tais meios selecionam e reelaboram informações mediante interesses diversos, muitas vezes "desinformando" a sociedade civil de forma a imunizar as instituições centrais da opressão humana. A "popularização" da internet e suas redes sociais, embora não resolva o problema, parece ser uma escapadela ao acesso de informação selecionada e escrita por outros critérios. Portais e blogs fora do eixo hegemônico constituem-se ricas fontes de informação crítica - ou simplesmente nua e crua. Um exemplo dessa situação é o caso Pinheirinho, sistematicamente ocultado ou amenizado pelos grandes meios de comunicação, que ganha visibilidade e criticidade mediante esses meios. Novamente, faço uma ressalva e aponto um risco: a internet está mais popular que outrora, mas ainda exclui uma grande margem da população das classes subalternas. Dessa forma, não podemos ter simplesmente uma visão celebratória da "internet democrática" e ignorar que a parte massiva da população tem acesso à informação pelos velhos e dominados meios. Nesse sentido, cabe lutar por uma popularização real da internet, sem as aspas, que permita o acesso amplo e irrestrito a tais fontes alternativas de informação. O risco, nesse caso, é acreditar que a internet já é uma alterntiva ao oligopólio da televisão e do rádio, deixando de lutar contra este. Ademais, nesse caso também a internet gera uma "banda podre": posicionamentos racistas, xenófobos, autoritários e machistas - alguns dos quais já hoje considerados "politicamente incorretos" para serem veiculados na televisão - encontram nesses blogs e portais seu espaço - muitas vezes em formas de humor opressor.

Em suma, busquei defender que o advento e "popularização" da internet, com suas redes sociais e fontes alternativas de informação, constituem uma nova "mudança estrutural da esfera pública", gerando novas possibilidades de articulação, formação de opinião e manifestação política. Todavia, busquei relativizar uma visão celebratória: há uma ampla margem de cidadãos digitalmente excluídos; as formas antigas e persistentes de opressão do Estado e do mercado são materialmente existentes e sua superação não pode prescindir da materialidade; e há formas antigas e persistentes de manipulação da informação pelos meios de comunicação em massa. Acredito que o grande potencial desses novos espaços públicos de luta política é, justamente, na articulação com as formas historicamente consolidadas de manifestação e luta, que não prescindem das ruas no "mundo real".