sábado, 26 de dezembro de 2009

Resposta do leitor

Azedíssimos leitores,

Um dos vossos colegas que visita costumeiramente este espaço achou por bem enviar-nos sua resposta à última postagem. Sendo assim, reproduzo abaixo o texto escrito pelo leitor Bruno Santos. Um abraço e boas festas a todos.

Casmurro.





Universidade Pública: interessa-nos como ela deve ser.


Caro Casmurro e leitores,

Três imagens ilustram o texto: uma universidade pública, a estadual de Campinas, vista por cima, uma criança pobre e suja e o símbolo da maior universidade pública brasileira, a Universidade de São Paulo. O paralelo entre as três imagens mais o texto pode dar a deduzir, a cada um cabe a sua opção, mas de forma visível que a produção universitária deveria ser mais bem utilizada para solucionar questões como, a exemplo da imagem, a pobreza. Não que não produza soluções, porque o texto diz que sim, então, de antemão pode-se dizer que a universidade pública tem as soluções para a pobreza, só que não são aproveitadas, não pela sociedade, mas pelo Estado. Nada mais arrogante, mas até aí compreensível dado o porte de gênese autoral acadêmica do texto. Mas minhas ponderações não são em relação ao texto e a forma como foi construído e sim ao conteúdo.

Antes de tudo, um leitor atento, logo atentaria em antemão para os propósitos oficiais dessas autarquias submetidas ao governo do Estado de São Paulo, que as mantêm de fato, e não a sua “questionável” autonomia figurada na reitoria, institutos e faculdades e departamentos. A UNICAMP se destina a formação de profissionais liberais, técnicos em ciências (incluindo humanas), técnicos em artes e na docência, valorizando ideais da pátria, ou seja, volta-se ao mercado nacional e na compreensão de questões nacionais, puramente cientificas com viés humano, ou melhor, antropocêntrico. A USP, um pouco mais diferente, parece colocar o quesito do profissionalismo em menor instância, dando ênfase maior à investigação em ciências (pesquisas) e na docência e valoriza também a formação para professores do ensino superior. Em ambos os casos, a docência deve ser entendida como a licenciatura voltada ao ensino básico ou algo como “A universidade ao serviço da educação brasileira”, até hoje, quase sempre a condená-la em metodologia e perspectiva, mas enfim.

Acho fundamental ter isso em mente antes de se supor, por conta própria, o que deve ou não a universidade, a sociedade e o Estado fazer com a produção acadêmica. Pode-se discutir o modelo daquilo o que DEVERIAM, aí já consta outro tempo verbal, todos esses atores fazerem em relação a produção acadêmica, porque aí são os nossos achismos de um mundo melhor. Mas infelizmente, para muitos, o mundo é esse mesmo que esta aí. Mas o que deve, é o que consta em constituições e outras leis vigentes.

Em primeiro lugar, muito do que é produzido não passa de lixo acadêmico fundamentado na vaidade de seus autores, os mesmos autores que após produzi-los tornam-se mestres e doutores, e o fazem por si mesmos, por um título atribuído a si em finalidade própria não estendido à “sociedade”, compreendendo esta como o conjunto de pessoas que apenas se articulam sem tomar um partido oficial, este é tomado pelo governo – que no caso, não é sociedade. Não cabe aqui relatar se esses mesmos autores se preocupam ou não com a sociedade, até mesmo porque não seria nada compreensível gastarem-se horas de estudos em temas ou improdutivos ou não adequados ao contexto ou impróprios de problemáticas concretas e visíveis por ao menos alguns poucos que os vejam e mesmo assim, por mais humanísticas, artísticas, filosóficas ou tecnicistas que as sejam.

A universidade pública no Brasil não tem uma direção clara e sua prática é totalmente desconexa para com o seu conteúdo teórico idealizado, bem diferente da universidade pública japonesa: menor, menos acolhedora em números, mas muito produtiva para a sociedade e o Estado. Os avanços são sempre os avanços do pensamento e não os avanços das ações, mesmo em engenharias e tecnologias da informação: a própria inserção de capital multinacional na universidade já se revela como incompatível ao seu caráter nacionalista. E nesse ponto não há razão para crer numa imutabilidade social, econômica e cultural relacionada à produção científica: ela existe sim, mas é canalizada em seus fins pouco propositivos, segue adiante.

A ideia insipiente conformada em descaracterizar o “mercado” da articulação social tende a corroborar, sem maiores reflexões em si mesma, outras teses não propositivas aos formadores da sociedade e principalmente em aliená-los nas suas capacidades próprias de orientação individual e coletiva. A universidade pública no Brasil é inchada, cara e ineficiente aos olhos de sua abrangência e as poucas boas e visadas carecem ainda de muitos recursos e eixos de encaminhamento comum, daí as distorções claras em seu interior quando na repartição de recursos às linhas de pesquisa. E pondero o desalinhamento justamente pelas concepções múltiplas sobre a eficiência da produção acadêmica, pois em cada unidade ou grupo de unidades a representar áreas do conhecimento, constrói-se uma dada finalidade dessa mesma produção.

O mercado é visto como uma lombada a levar à letargia do desenvolvimento e, portanto, é de urgente necessidade a intromissão do agente exógeno: o governo. O ponto a unir o mercado como intruso e o Estado como bem feitor das ações públicas é a suposição do “BEM COMUM”. O Bem comum, e quem o define como que seja isso, é o governo, que governa a sociedade. O governo é claramente aquele o qual tem poderes de decisão sobre recursos públicos e não o parlamento, um fragmento político do Estado e nesse ponto meramente político-representativo, e não que seja pouco sê-lo. Aliás, o Estado, ou o governo propriamente dito, não define nada, é uma clara relação de subjugação dos interesses sociais mais concretos pelo grupo político nele instalado, seja “de direita” ou “de esquerda”, no neoliberalismo ou no socialismo e também na saúde e na doença.

A ver o mercado, associado às universidades públicas, como um intruso e o Estado como o bom moço a definir o que é o BEM COMUM para a sociedade, então fica clara aqui a desarticulação de algo aparentemente real: o mercado é um membro da sociedade e o Estado não, portanto, a definir os rumos tomados pelos atores internos do coletivo ‘sociedade’, teria maior autoridade sobre a produção acadêmica justamente o agente direto de sua manutenção: o capital e o trabalho, ou seja, os braços, as pernas e as cabeças do mercado. O mercado tem várias cabeças, pois ele atua em competição a buscar sempre o melhor a tornar máximos os interesses de cada individuo, assim, não cabe pô-lo como uma segunda ordem na lista de espera. O Governo é apenas um transitório a destinar os recursos que cabe às universidades, porque assim foi definido pela sociedade e também pelo mercado que a compõe e muitas vezes isso se deu por meio do parlamento, a casa política de representação dos diversos setores sociais, inclusive, os ligados ao mercado.

Quando a Faculdade de Engenharia dos Alimentos da Universidade X inova nas descobertas de pílulas revolucionárias para emagrecimento, porque assim um laboratório Y entendeu como demanda própria ou mesmo quando um grupo discente a descobre com recursos próprios da Universidade e posteriormente encaminha suas descobertas ao mercado, não o teria feito numa sociedade onde só houvesse pessoas magras ou anoréxicas. Eu, ao menos, nunca vi qualquer obra do mercado ser bem sucedida pela sua completa inutilidade, mas estudos governamentais, aí sim, têm aos montes. Engavetados, e os recursos, provenientes das riquezas produzidas pela sociedade convertidas em impostos, injetados nos ralos da ingerência estatal.

Neste caso exemplar, as pílulas foram dispostas em prateleiras de farmácias ou nos sítios virtuais, tudo regulamentado e fiscalizado conforme aquilo o quê é realmente a função do governo, orientado por normas claras e legais. O conhecimento daquele grupo de estudantes fica, e fica para a Universidade e para os próximos a nela ingressarem, também fica para a sociedade, e aliás: uma vez que seja, foi útil para a saúde de alguns que perderam alguns quilos, diferentemente das pesquisas “autônomas” cheirando a mofo, muito bem servidas como combustível de fogueiras em festas populares.

São exemplos que cabem sim em humanas e artes, por mais que se sugerisse a extinção de música clássica pela refuta da maioria ou falta de grande demanda, ainda assim a universidade a produziria, pois mesmo a minoria que nela estivesse estaria a produzir para uma minoria que por ela se interessasse, e também sem aqui supor o que se classifica como minoria em politizações redundantes, atribuições comuns aos governos de subjugação. E aqui, sem um agente exógeno, e por que não stalinista, a definir a música clássica ou casas de isopor ou arquitetura high–tech e pilhas de zinco como “BEM COMUM”.

O interesse público, e aqueles que se espelham nas possibilidades da universidade em atendê-lo, não podem ser regulados pelas minorias governamentais. A universidade pública autônoma só é efetivamente pública e autônoma quando, até mesmo, se financia dessa forma. Quando até mesmo se destina aos propósitos puros da regulação social, e por que não, mercadológica.

A ver o mercado como intruso, eu vejo um mercado cego, que define e se propõe em finalidades nele concebidas, do começo ao fim. Como se nunca houvesse perdas por apostar naquilo o que seria uma inutilidade completa às pessoas. E imagino o governo como um agente próprio da sociedade, constituinte dela, seja este como for, socialista ou não, sempre a calcular tudo em sua exatidão e racionalidade inquestionável podendo até mesmo se dar ao luxo de concentrar riquezas em pesquisas inúteis e descobertas também a contentar sua vaidade de Ser supremo, acima de todos, acima da própria sociedade e do seu mercado próprio. E se isso existe de fato. Eu desafio que se abram os livros de história ou os clássicos da literatura para comprovar essa dinâmica funcional, a mim surreal.

Bruno Henrique dos Santos
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas
Universidade Estadual de Campinas
br88donut@hotmail.com

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Universidade Pública e Sociedade

Boa noite, leitores afáveis.

Nestes tempos chuvosos que assolam o estado de São Paulo, venho discutir algo que nada tem a ver com o clima. A questão que venho expor é resultado de devaneios que me perseguem desde que iniciei meu curso superior. Eis o dilema: quando ando pelos corredores da biblioteca de minha amável faculdade, me assombro ao tentar calcular a quantidade de livros que há nela - muitos deles, no caso, discutindo os problemas sociais e propondo soluções.



Pois bem, se não falta quem estude esses problemas e proponha soluções, porque, em termos de estrutura social, não há mudanças relevantes a partir desses estudos?

Há, claramente, um abismo entre a intelectualidade e a práxis social. As universidades, os teóricos da sociedade e suas fórmulas inovadoras, os catedráticos em suas salas empoeiradas... fecham-se todos em uma bolha que isola do mundo real uma elite que se arroga saber a realidade do mundo e o sentido da vida (quando não se dedica a provar a inexistência deste último).

Em suma: os estudiosos da sociedade fecham-se em si mesmos e não retornam à sociedade as cifras investidas neles. Não creio que seja culpa deles - a extensão universitária não é valorizada e o governo pouco se apropria dessas teorias em suas políticas públicas. (Há, aqui, a importante discussão se a teoria deve ser construída em função de sua futura práxis ou não. Não acho que deva ser assim, mas acho que os resultados das pesquisas poderiam contribuir mais aos projetos políticos. Estes, no entanto, se voltam mais a interesses particulares e mercadológicos que ao interesse público). Em última instância, ocorre que os resultados tidos de uma estrutura pública, na qual a sociedade investe muito, pouco retorna à própria sociedade.



Por outro lado, a estrutura universitária é mais privilegiada nos cursos em que o mercado está fortemente presente (engenharias, computação, química, etc.). Nesse caso, há um outro problema grave: a estrutura universitária pública, bancada pelo contribuinte, é utilizada em favor do mercado, que direciona as pesquisas e se beneficia de seus resultados. Assim, as pesquisas são guiadas não pelo "bem público", mas pelas empresas que investem. Os resultados não se dirigem à sociedade, mas à essas mesmas empresas e seus acionistas, que enriquecem com as novas descobertas da Academia.

Temos, assim, um paradoxo: de um lado, muitas pesquisas são direcionadas à própria elite intelectual, e não se estende à sociedade. De outro, muitas pesquisas saem, sim, da Academia, porque são direcionadas por empresas privadas, e não pelo interesse público. Em ambos os casos, o alto valor investido nesses meios me parece mal aproveitado, uma vez que se trata de um investimento da sociedade.

Do que se trata, afinal? De má vontade dos reitores? Do próprio modelo da universidade? Ou da forma como os governantes se apropriam desse espaço? Os centros acadêmicos não páram de atacar o governo estadual - e com razão. Mas será ele o único alvo? Ou o buraco é mais embaixo?

Reflitam e comentem. Um abraço, meus caros.

Do seu velho Casmurro.

sábado, 12 de dezembro de 2009

O homem e o mito

Boa noite, caros leitores.

É com prazer que eu e meu amigo sarnento lutamos pela sobrevivência deste espaço. Sendo assim, tentamos manter a versatilidade temática que sempre marcou o bom e velho beco. Por isso que venho falar-lhes de uma questão que nos inquieta a todos.



Não sou filósofo e, embora goste da filosofia, prefiro me dedicar ao pensamento sociológico. Contudo, o autor o qual estudo - que não é filosófo nem sociólogo, mas jornalista - muito me fez pensar com um artigo cuja reflexão venho partilhar.

Neste artigo de 1925, José Carlos Mariátegui discorre sobre a subjetividade do revolucionário e chega no dilema sobre a importância do mito - no caso, o mito de que a revolução constitui a "luta final" pela humanidade. Sem pensar na já batida discussão capitalismo x socialismo, acho que o mais interessante é como o autor se posiciona filosoficamente diante do debate sobre o mito, com uma afirmação que vale a pena citar:

"O ceticismo satisfazia-se em atestar a irrealidade das grandes ilusões humanas. O relativismo não se conforma com o mesmo resultado negativo e infecundo. Começa ensinando que a realidade é uma ilusão, mas termina reconhecendo que, por sua vez, a ilusão é uma realidade. Nega que existam verdades absolutas, mas se dá conta de que os homens têm de acreditar nas suas verdades relativas como se fossem absolutas. Os homens precisam de certeza. Que importa se a certeza dos homens de hoje não é a certeza dos homens de amanhã? Sem um mito, os homens não podem viver fecundamente."

Pois bem. Algumas questões brotam disso: por que os homens "têm de acreditar nas suas verdades relativas" e "precisam de certeza"??? Simplesmente para que levem a revolução às ultimas consequencias, ou para própria felicidade (como se esse fosse um conceito fechado)? Que será mais saudável: uma vida de extremo racionalismo - que culmina num ceticismo que chega a desprover a vida de sentido - ou a prisão dentro dos mitos herdados culturalmente? Será a ignorância uma bênção? Afinal, não é disso que trata o início da Bíblia?

Naturalmente, não tenho essas respostas. Contudo, Mariátegui encerra seu texto com mais uma afirmação inquietante:

"O homem iletrado não se preocupa com a relatividade do seu mito. Não lhe seria possível sequer compreendê-la. No entanto, melhor que o literato e do que o filósofo, geralmente encontra seu próprio caminho. (...) Seu instinto desvia-o da dúvida estéril. Só ambiciona aquilo que todo homem pode e deve ambicionar: cumprir bem sua jornada".


Por fim, é necessário fazer algumas considerações. Mariátegui, no texto, fala especificamente do mito de que a revolução socialista constitui-se a "luta final" da humanidade. Contudo, Mariátegui também reconhece que próprio fascismo só foi tão longe e ganhou tanta adesão pela proposição de diversos mitos (como o da superioridade ariana) e por se contrapor ao ceticismo burguês.

Eis, portanto, a pergunta filosófica final: é possível separar o homem do mito? Não é isso que pretende o culto à Razão?



Deixo-vos refletir, visitantes.

Aquele abraço.

Casmurro.

sábado, 14 de novembro de 2009

Bolsa família e a cultura da meritocracia


Boa tarde, leitores.

Sem promessas de postagens mais freqüentes ou discussões temáticas, estamos de volta. Ou talvez alguns de nós, apenas. Que seja. Não renunciaremos ao delicioso trabalho de nos comunicarmos com a chamada blogosfera e com os internautas que nela circulam.

No último e longínquo escrito deste espaço, esbocei um genérico quadro histórico da degradação do trabalho na América Latina, onde o fantasma da estrutura colonial forja, até hoje, uma distribuição de renda vergonhosa, à qual não parece haver saída. Como tentativas de amenizar a situação sem resolvê-la, no Brasil, forteleceram-se no governo FHC e, principalmente, no governo Lula, políticas - por muitos denominadas "assistencialistas" - de repasse financeiro. O programa mais famoso nesse sentido é o polêmico Bolsa Família.



Digo que o programa é polêmico porque, por um lado, o fato de se receber sem trabalhar desperta a ira da alta classe média e, por outro, essa mesma classe média se vê cada vez mais numerosa devido à distribuição de renda promovida pelo atual governo, à qual o programa citado colabora. Consequencia: enquanto alguns acusam o governo Lula de produzir uma classe de folgados - que vão se acostumar a ganhar sem trabalhar e não quererão mais sair da pobreza por seus próprios esforços - , outros têm um sua mesa um prato de comida que não teriam de outra maneira.

Longe de intentar discutir o caráter político-eleitoreiro do programa (que é existente e não pode ser ingenuamente ignorado), venho questionar o porquê da revolta dos mais abonados em relação à distribuição direta de renda. A resposta que não consigo parar de pensar é: em nossa sociedade, enquanto sociedade capitalista, estamos presos a um critério meritocrático para justificar a estratificação social.

O que isso significa? Ora, na Idade Média, a estratificação era justificada por um critério religioso, por meio de um uso distorcido e interessado dos escritos bíblicos. No capitalismo, a estratificação é justificada pelo mérito. Quem realmente quer, quem realmente se esforça, consegue prosperar. Levando a sério tal argumento, o Bolsa Família aparece como um obstáculo, um gerador de uma cultura oposta, na qual o critério não seria o mérito, mas a necessidade.

Mas, então, quais os problemas da meritocracia, afinal? Aponto três: em primeiro lugar, como estamos falando de uma sociedade com imensas discrepâncias socio-economicas, alguns nascem com mais condições de acesso à cultura, à educação de qualidade, a uma alimentação descente que outros e, portanto, esses poucos têm mais condições de prosperar. Em segundo lugar, alguns nascem com melhores condições mentais de assimilação e aprendizagem que outros. Um dislexo, por exemplo, tem menos chances de prosperar economicamente e muito dificilmente se tornaria presidente de uma grande empresa. Em terceiro lugar, há o aspecto motivacional, cujas condições objetivas são costumeiramente subestimadas. A motivação (no caso, a motivação para ver que é possível superar as barreiras sociais e ascender) é tributária de fatores psicossociais, dependendo das experiências vividas pelo indivíduo. Um exemplo ultra-simplista: alguém que se acostumou a ver seus vizinhos e parentes trabalharem muito, ganharem pouco e não ascenderem, dificilmente acreditará que é possível consegui-lo.

Concluindo: dado que a superação dos três problemas mencionados (socioeconômico, cognitivo e motivacional) independe, em grande medida, da vontade subjetiva do indivíduo, tendo limites objetivamente determinados, temos que a meritocracia na sociedade capitalista aparece com o objetivo de manter uma dada estrutura social. O problema é que o critério meritocrático já foi internalizado de tal forma, inclusive pelas classes subalternas, que é difícil nos libertarmos de tal concepção e pensarmos o mundo a partir do critério da necessidade.

Encerro com um exemplo: por que tantos criticam o José da Silva, que recebe o Bolsa Família e ganha dinheiro sem mérito, e poucos falam, por exemplo, do filho do Abílio Diniz, que, sem trabalhar, foi sempre milionário e pôde se dar ao luxo de passar sua juventude competindo num esporte elitista sem maiores preocupações? Por que o não-trabalho do rico é visto como merecido e o não-trabalho do pobre é visto como folga?

É uma das muitas perguntas para refletirmos a maneira como vemos as coisas que se passam sob nosso nariz.

Agradeço a atenção.

Casmurro

terça-feira, 11 de agosto de 2009

O trabalho em nossas terras

Boa noite, assíduos e amáveis leitores.

O Beco Livre hoje retorna à sua atividade, com algumas mudanças: escalas diárias de temas estão abolidas. Teremos temas mensais que servirão de base para discussões entre as postagens dos integrantes, com a colaboração dos visitantes. Pedimos, portanto, que comentem sempre. Decidimos começar com um tema relacionado com a vida cotidiana de todos nós: o trabalho. Longe de querer definir o que é trabalho, comecemos com uma breve retomada histórica deste tema tão abrangente.

Ora, é sabido que nós, latino-americanos, vivemos uma história de dependência desde as colonizações, que alteraram o caráter do trabalho aqui então existente. Os povos pré-colombianos – desde os mais “primitivos” até os grandes impérios (Incas, Maias, Astecas) – desconheciam a moeda e o salário. Mesmo nos povos onde existia a escravidão, não se tinha um regime de trabalho sistemático e exploratório como o que foi implementado posteriormente. No império inca, por exemplo, a propriedade da terra era coletiva, e a produção era destinada ao Estado teocrático, que distribuía os alimentos pela vasta população.

Com a chegada dos portugueses e espanhóis, os povos nativos foram praticamente dizimados e os sobreviventes foram escravizados ou marginalizados. A Conquista, e sua concepção mercantilista, integrou o Novo Mundo na nascente Divisão Internacional do Trabalho. E da pior forma possível: através da exploração escravista de negros e indígenas, fomos literalmente saqueados. As diversas regiões de produção converteram-se em latifúndios, que serviam apenas ao mercado externo, e a riqueza mineral saía de nossa terra para fazer escala na península ibérica e enriquecer a Inglaterra. Nosso ouro e nossa prata, aliás, foram os financiadores da Revolução Industrial.

Os séculos passaram: a burguesia cresceu, tivemos a explosão do pensamento iluminista na Europa, as revoluções liberais, a ascensão da democracia burguesa, as independências e repúblicas nas colônias, a tardia – e ainda atrasada – industrialização da América Latina, etc. Enfim, chegamos aos nossos dias. Caro leitor, reflita comigo nesta indagação: nosso papel na Divisão Internacional do Trabalho mudou?

Antes, quando colônias, tivemos nossa terra divida de forma desigual; com plantações que atendessem mais ao mercado externo que interno; com trabalho explorado na cidade e muito explorado no campo. Ora, nossa função de colônia era alimentar o capitalismo internacional com nossos minérios e alimentos que saíam daqui a preços ridículos, enquanto nos víamos dependentes dos países mais ricos da Europa ocidental. Estes nos vendiam a preços absurdos inúmeros produtos que não podiam ser produzidos aqui, porque nossas terras estavam submetidas a interesses estranhos.

Repito a pergunta: mudou nosso papel na Divisão Internacional do Trabalho? Somos menos dependentes que antes? Somos menos explorados que antes? Acabou a exploração no campo e nas minas? Se não acabou, quem está ganhando as custas dos camponeses e mineradores? A situação é reversível?

Agradeço vossa atenção.
Casmurro



“A Divisão Internacional do Trabalho consiste em que uns países se especializam em ganhar e outros em perder” (Eduardo Galeano)

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Sobre o uso da força


Caros e assíduos visitantes deste modesto espaço virtual,

Imploro que perdoem este humilde grupo que tem falhado para convosco nas atualizações do sítio em que estais. Buscaremos cumprir melhor nossas obrigações em relação aos que prezam pelas discussões aqui propostas.

Vamos, agora, ao tema desta postagem: aproveitando o momento tenso que vive nosso Ensino Superior Público - com até mesmo uma guerra, ainda que unilateral, entre polícia e estudantes - é sobre o ensino público , o poder político e o uso da força física que gostaria de falar. No entanto, trarei citações que coletei durante a semana para tal reflexão. Façam bom proveito.




"(...)onde existam boas armas convém que haja boas leis" (Maquiavel)


"Em nossa época, entretanto, devemos conceber o Estado contempoâneo como uma comunidade humana que, dentro dos limites de determinado território - a noção de território corresponde a um dos elementos essenciais do Estado - reivindica o monopólio do uso legítimo da violência física. É, com efeito, próprio da nossa época, o não reconhecer, em relação a qualquer outro grupo ou aos indivíduos, o direito de fazer uso da violência, a não ser nos casos em que o Estado o tolere: o Estado se transforma, portanto, na única fonte do 'direito' à violência" (Max Weber)


"Se encontrar um homem com força bem superior à minha e, além disso, o bastante depravado, preguiçoso e feroz para obrigar-me a prover a sua subsistência enquanto nada fizer, será preciso que ele se resolva a não me perder de vista um só instante e ter me amarrado com muito cuidado enquanto dormir, temendo que eu escape ou que o mate, isto é, será obrigado a expor-se voluntariamente a um trabalho muito maior do que deseja evitar e do que dá a mim mesmo" (Jean-Jacques Rousseau)


"Uma vez que exercer o Poder implica necessariamente ter a possibilidade de exercê-lo, o Poder social, em seu sentido mais amplo, é a capacidade de determinação intencional ou interessada no comportamento dos outros" (Norberto Bobbio)


"Temos que nos preparar realmente para que haja descoincidências entre o pensar e o agir. E pensar que é precisamente por isso que é tão importante pensar o agir, como pensar o pensar. Pensar nestas condições desafiantes implica uma transformação da subjetividade: é que só se pode produzir o mundo se nós o pensarmos produtivamente, e não consumisticamente. O que significa que a nossa capacidade de fazermos coisas diferentes pressupõe a nossa capacidade de sermos pessoas diferentes" (Boaventura de Sousa Santos)





Bom, minha idéia não era que as citações se complementassem (de fato, não se complementam). Era apenas trazer elementos para nossa reflexão. Espero que sejam úteis.

Sem mais, encerro aqui.

Um abraço,

Casmurro.

terça-feira, 9 de junho de 2009

09/06/2009 - 17h21 Polícia e estudantes entram em confronto no campus da USP Simone Harnik Em São Paulo Atualizada às 19h50

O Movimento Estudantil é um movimento, tradicionalmente, de protesto. Os estudantes pensam a realidade e, com razão, não se conformam com ela. Podemos argüir que suas premissas estão erradas, que se utilizam arbitrariamente de institutos como greves, piquetes, ocupações e destruição do patrimônio público. Podemos dizer também que estão demasiadamente influenciados por posições político-partidárias. Temo que nada disso seja efetivamente uma falácia.


Por outra perspectiva temos a chance de entender alguns dos questionamentos: o ensino superior público brasileiro vem sendo sucateado ano após ano, mandato após mandato – assim como a educação pública de modo geral. Os interesses do capital privado sobrepõe-se aos interesses de uma educação livre, abrangente, crítica; as pesquisas são financiadas, direcionadas. Eu poderia discorrer aqui sobre uma série de questões que estão na pauta do movimento estudantil hoje, e outras tantas as quais eu creio que ele deveria se preocupar, entretanto, não é preciso. O maior motivo de protesto está, hoje, diante de nós.


Frente a uma manifestação de estudantes que ocorria no dia de hoje, 9 de junho de 2009, a reitoria da USP não hesitou em chamar a polícia militar que, por sua vez, não hesitou em utilizar-se de gás lacrimogênio, bombas de efeito moral e disparos de balas de borracha para com eles. Certamente tal conduta não ocorreu a contragosto da reitoria da universidade. Quais os objetivos dessa conduta? Controlar a multidão ensandecida? Estavam diante de uma ameaça tal que os guiasse para essa conduta? Não, claro que não.


A polícia alega que os estudantes estavam embriagados, fora de si.

Essa fantástica justificativa para essa conduta absurda, brutal, vergonhosa da reitoria da USP – que está reincidindo nesta conduta, conforme ocorrido nas outras manifestações deste semestre – nos mostra que, hoje, o movimento estudantil é caso de polícia.


Politicamente, humanamente, legalmente, o que ocorreu hoje foi uma brutalidade vergonhosa. Tratar os estudantes dessa forma é um comportamento ditatorial, que põe em risco uma de nossas maiores liberdades, a de livre expressão e pensamento.


Onde está o Direito? O certo? O justo? Temos o direito de fazer piquetes, passeatas, manifestações, pensar, expressar. Não faz sentido colocar homens treinados diante de estudantes que manifestam. Não faz sentido usar de poder de coação do Estado para proteger reitorias inábeis politicamente, equivocadas, que não estão comprometidas com seus estudantes.


Se a reitoria da USP estivesse comprometida com seus estudantes, não teria chamado a Polícia Militar ao Campus.


Podemos pensar em inúmeros exemplos que nos mostram que os estudantes não serão ouvidos, serão calados. Os sinais estão sendo claros.


Denuncio o criminoso ocorrido de hoje com um único propósito: eu não vou me calar.



Não nos deixemos calar.

Ateus?

Até que ponto somos realmente ateus quando nos firmamos como tais?

A necessidade humana pela figura de um superior e a busca por uma figura 'religiosa' é muitas vezes confundida com as religiões. Ora, o que são os intelectuais acadêmicos então, que negam o Deus Jesus Cristo, mas tomam para si o Deus Marx, o Deus Foucault, o Deus Bourdieu? São menos cristãos/religiosos do que os que creem na verdade de Jesus Cristo?

A necessidade humana pela criação de uma figura superior que dite a verdade. A noção da supressão de um desamparo com a 'morte de Deus', assim falava Zaratustra!

O que é a nossa vida senão uma reinvenção das práticas cristãs?

A simbologia de Matheus que profetiza aos berros, que trocamos por profetas sindicalistas que berram as causas das injustiças.

A figura do professor que tem um pouco de pastor, um pouco da figura do profeta.

A consciência de aprovação e reprovação. Conceitos cristãos que te dizem para refazer o mesmo na mensuração de um conhecimento, de um altruismo, de um purgatório.

Errado é aquele que nega a existência de Deus, pois este está presente nas pessoas que rezam, que oram, que acreditam. Negar a existência de Deus é negar, e não compreender, todas as pessoas que se baseam nesta existência que pra você não tem sentido.

Quão errado somos nós que compramos o relativismo acadêmico, mas colocamos os nossos Deuses como certos? Como verdadeiros? Como superiores? Que explicam a verdade da (in)existência de qualquer outro Deus!

Quão errado somos nós que 'desmacaramos' os Deuses alheios mas não temos a coragem necessária de fazer o mesmo com os nossos! Tudo isso por não nos vermos como realmente somos: FIÉIS DE DIVERSAS DOUTRINAS.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Sexo



O que te define como homem ou mulher?
Ou melhor, o que nos define como heterossexuais?

Sua roupa me diz algo...

Sua roupa, na verdade, não me diz nada
Sua roupa é apenas a sua roupa

Homossexualidade não está baseada no gosto
nas restrições ou nas abrangências
Discutimos que a opção sexual não importa
mas ao discutirmos sobre ela já estamos
pondo em cheque está predisposição

doentes que compram a alteridade
assim como o desgraçado compra a puta

Temos de lamber todo dia este pus
que sai do ralo das pessoas
ditas 'descoladas'

VINDE A MIM OS FALSOS,
POIS É DELES O REINO DAS APARÊNCIAS

A concretude da minha fala
se dá na sua vida doente
na sua percepção falsa de alteridade

mas se esquece que o fato
de se controlar para aceitar o outro
na verdade é uma negação

a aceitação do homossexual
do preto
do homem
da mulher
não deveria ser educada
deveria, na verdade, não ter de existir

falar de aceitação
é falar do excluido
que tentamos trazer para dentro

Mas dentro do que?

As pessoas
doentes de espirito
com as quais convivemos em casa
na rua
na faculdade!

Engraçado é pensar
que pensarão:
"Só pode ser gay quem escreveu isso!"

Pra você, que a dúvida
lhe é maior do que a própria existência
Não posso nada
a não ser
chorar

Ter que discutir determinadas questões
A força para discutir determinadas questões
é, na verdade, uma vontade
muito grande
de não se discutir nada!

PS:Poema de minha autoria

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Universidade Pública e Política

Boa Noite, caros leitores.

É em meio a um enorme cansaço após um dia repleto de desgastes físicos e psicológicos que vos escrevo. Escrevo, na verdade, enquanto um sujeito de má vontade e pouca simpatia, denominado mestre e doutor, tenta lecionar-me acerca da organização partidária esquerdista às vésperas do golpe militar que nos trouxe tempos sombrios até os anos 80.

Partidos de esquerda, aliás, fazem parte da reflexão que me trouxe aqui. Porque se a vontade de engajamento político me comove mais e mais a cada dia, a possibilidade de engajamento partidário me parece crescentemente desinteressante.

Eis, enfim, minhas perguntas de partida: 1. Quais os alcances e os limites das ações organizadas estudantis protagonizadas pelos órgãos representativos locais (CA's, DA's,...)? 2. Quais os impactos das intervenções partidárias nesses órgãos? 3. As estratégias são democráticas e eficazes?

Para evitar generalizações, terei como base minha experiência pessoal, sem alcunhar os bovinos, e responderei brevemente à cada uma das perguntas que propus, esperando que nossos inteligentes leitores manifestem-se nos comentários.



1. Acredito que as entidades representativas estudantis devem ter como o grande objetivo defender os interesses imediatos e locais dos estudantes. Isso não as impediria de realizar debates e movimentos sobre temas mais amplos, o que além de válido é necessário para uma inserção na conjuntura política contextual. Irrita-me a auto-visão messiânica que têm muitas vezes os líderes, que querem, de dentro da universidade, resolver problemas como o aquecimento global e o embargo à Cuba. Isso gera pautas amplas e distantes das necessidades reais dos estudantes representados e, nos atos realizados, essas necessidades são colocadas em segundo plano.

2. Exatamente pelo ítem anterior é que me incomodam os partidos inflitrados no movimento estudantil. É claro e observável que as chapas que concorrem a tais representatividades são organizadas de acordo com os partidos dos quais os estudantes "politizados" participam. O problema é que se tenta alocar as pautas dos partidos na pauta da luta estudantil, estendendo as razões da luta e ocasionando os problemas do ítem 1.

3. Por fim, dirijo minhas críticas ao modo como se organiza o movimento. Assembléias má divulgadas, excludentes e sem quórum definido previamente; mesas parciais e tendenciosas; artimanhas políticas que favorecem votações em determinado sentido; repúdio a qualquer burocracia, inclusive à necessária... Enfim, poderiam ser listados inúmeros motivos para questionar a legitimidade de certas decisões. Com essas práticas, muitos estudantes, sobretudos calouros, acabam por não serem conscientizados, mas conduzidos.

Em poucas palavras: os meios são mal formulados; os fins são trazidos de fora do âmbito estudantil; e os resultados, para a vida prática dos estudantes, são nulos. Eis minha crítica.

Sem mais, fico no aguardo de vossos elogios e retaliações.

Abraços,

Casmurro

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Pronto para viagem?

Leitores, não entendo nada de cinema. Nadinha mesmo, nem atores, nem diretores, nem se tal filme é Norte Americano ou Europeu, etc e tal.
Considero a sétima arte bem interessante e não sei bem porque cargas d’água não vejo muitos filmes, mas é um fato.
Com os meus amigos de blog recebo constantemente dicas de títulos interessantes que não posso deixar de ver, ando assistindo a eles.
Nesse final de semana vi Diários de Motocicleta e me apaixonei!



O filme foi inspirado nos diários de viagem de Alberto Granado e Ernestro Guevara que relatam as experiências vividas pelos dois em sua viagem pela América Latina.
Como ainda hoje é possível ver, viajando pelos povos Latinos os dois jovens puderam observar desigualdades sociais absurdas, e o enorme descaso de poderosos frente aos mais pobres e marginalizados. Ao mesmo tempo, notaram à força de um povo que não desiste, que tem esperança em dias melhores, e que está disposto a lutar para que eles cheguem. O que ocasiounou nos dois viajantes, juntamente é claro com a alegria de conhecer novos lugares e as belas paisagens, uma indignação profunda, e uma mudança real da forma de pensar, de identidade. Por fim, o que era pra ser uma viagem de espíritos inquietos, tornou-se a centelha para ascender em Ernestro um líder revolucionário.





É um filme emocionante e inspirador, que nos faz rever nossos conceitos e ideais, e nos dá vontade de lutar pelo bom e pelo bem.


E que assim seja.





Aaaaah!! Vale lembrar também que o diretor do filme é brasileiro. Sim, tenho lá meus nacionalismos...





Colombina.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

AMOR, essa palavra

Saudações pessoas!

Primeiramente queria comunicar aos nossos assíduos leitores que houveram mudanças burocráticas em nossa gestão deste meio:
- Primeira: agora as publicações serão a cada dois dias.
- Segunda: não mais seguiremos temas impostos, teremos o livre arbítrio de nossas pequenas mentes.

Pois bem, seguindo este 'livre arbítrio' gostaria de pegar o gancho (desculpe o jargão homo academicus) na última publicação de minha estimada Psiquê e tecer um pequeno debate sobre o 'Amor'.

Confesso que tal palavra sempre me incomodou por ser usada e abusada em tantas ocasiões e muitas vezes sem ter algum sentido relacional entre elas.
Há alguns anos, tomado por dúvidas, resolvi buscar quais seriam as raizes etimológicas de tão complexa palavra. O resultado (ou o que lembro dele) compartilho com vossas senhorias agora (de maneira demasiada resumida).

AMOR em nossa linguagem, deriva de três palavras gregas: Eros, Philia e Agape. Ou seja, uma única palavra nossa, tem três significados diferentes.

EROS:
É aquele sentimento 'enraizado' no ser humano, possessivo, a atração física entre duas pessoas, o impulso 'erótico', carnal. Amor Eros tem tudo a ver com sexo. É justamente o sentimento ocasionado pelo impulso sexual perante o outro. Note bem, a atração sem sentimento é mero tesão. Muito usado por Platão.


PHILIA:
É o sentimento fraternal, de camaradagem, de querer o bem do outro, de irmandade, de amizade. Seria aquilo que se sente por um grande amigo ou quem sabe uma namorada.
É usado muito por Aristóteles.

AGAPE:
É aquela sentimento cego, incondicional, infinito. Se encaixa na concepção de amor divino ou até de paixão.
É o usado na bíblia para se referir a Deus, quase sempre acompanhado de CARITAS (caridade).


Agora venho propor uma discussão:
O problema está no sentimento em si ou tudo é apenas uma questão de semântica?
O amor burguês referenciado na última publicação não seria as concepções EROS+PHILIA+AGAPE em uma só?
É possível sentir mais de dois ao mesmo tempo?
Necessariamente esse sentimento só é possível se destinado a uma única pessoa?

"Enganar-se a respeito da natureza do amor é a mais espantosa das perdas. É uma perda eterna."
(Soren Kierkegaard)

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Amor Burguês?


Queridos leitores, seguindo a nossa nova fase de livre arbitrio total em relação aos temas, hoje quero falar de um assunto polêmico, e dedico este post ao nosso caro Snoopy e seu total despreendimento com o padrão afetivo da sociedade ocidental.





AMOR e MONOGAMIA, sinonimos? Fazendo uma breve trajetória histórica, voltemos a Grécia Antiga: nessa época fantástica que da humanidade, não podemos falar em relações afetivas apenas, mas sim em relações sócio-culturais entre sujeitos. Pois bem, por que isso? Primeiramente porque toda prática de atos sexuais e amorosos eram rigorasamente permeadas por uma série de preceitos que caracterizavam a cultura Grega tal como nós a concebemos: PROMÍSCUA? Pode ser, mas se tirarmos o cárater negativo que é atrabuído ao termo.



Homens se relacionavam com homens, algo que hoje seria chamado de homossexualidade, lá era considerado uma educação cível: um homem (cidadão) mais velho deveria introduzir (haha) um jovem (cidadão) na vida social, ensinando a ele sobre política, filosofia, artes... e amor; ou seja, introduzir o rapaz na vida social, inclusive sexualmente. O mesmo acontecia com as mulheres, apesar dos relatos serem bem menores, porque na real elas não eram consideradas cidadãs.




Enfim, hoje encaramos isso como uma promiscuidade absurda, várias orgias, ausência de pudores etc e tais práticas foram combatidas absurdamente pela nossa querida Igreja Católica, com a instauração do cristianismo como religião oficial do Império Romano (que mantinha MUITAS dessas práticas). A partir daí as relação afetivas ocorreriam apenas com a benção de Deus, sob o sagrado matrimônio, e os atos sexuais seriam destinados a um único e exclusivo fim: reprodução!




Pois bem, mesmo assim não adiantou muito, porque no século XVIII a corte Franscesa (e muitas outras) era quase que um reflexo da Grécia: mesmo com a benção de Deus, atos sexuais fora do casamento eram muito comuns, tanto que sabemos de uma série de reis e rainhas que possuíam vários amantes, há inclusive uma série de insinuações sobre alguns principes não serem filhos do rei, mas do amante "oficial" da rainha. Mas tenho uma dúvida: isso também acontecia na plebe?




Hoje entendemos que o amor e a monogamia caminham juntos, independente de ser uma construção burguesa, a nossa sociedade combate moralmente a traição (e durante um tempo combateu LEGALMENTE)... mesmo rejeitando aos poucos o sexo para a reprodução apenas, consideramos um atentado aos bons costumes orgias como as que aconteciam na Grécia, e a nossa sociedade julga e condena quem pratica atos sexuais com muitos parceiros - usei no masculino, porque acredito que o homem ter várias parceiras é considerado normal.




Mas, obviamente, eu não me coloco a favor de tais julgamentos! Defendo o livre uso do corpo para obtenção de prazeres de acordo com o que cada pessoa deseja. E não considero amor sinonimo de monogamia, apesar de termos mesclado as duas construções. E não dá pra não mencionar o machismo presente em tudo isso, porque o homem ainda precisa de várias mulheres para afirmar a sua masculinidade (devem ter jogado várias pedras em mim agora). Então, para finalizar, eu defendo essa libertação por parte das mulheres também! Porque mesmo com o movimento feminista ainda nos encaram como sujeitos (quando não objetos) sexuais passivos, que devem seguir um modelo cristão aburguesado de acordo com a moral e os bons costumes, que são MUITO opressores.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Música e subjetividade

Boa noite, meus caros.

É com certo ar sombrio que altero minha alcunha para Casmurro. Identifico-me mais com o velho mal humorado que com o jovem inseguro da obra machadiana. Sem mais, vamos ao tema.

Parto minha breve divagação de uma pergunta: por que, independentemente de estilo musical, certas canções fazem mais sucesso que outras? Ou melhor: por que, muitas vezes, uma canção poeticamente fantástica não alcança a popularidade de outra feita embasada sobre um livro de rimas?

Quando ouço "Festa no apê", "Beber, cair e levantar" e outras tantas chego a esta questão, sobre a qual exporei meu pensamento.

Em primeiro lugar, a música é uma feição cultural. Está totalmente ligada às tendências culturais do momento social e seu sucesso é dele dependente. Não quero dizer que só faz sucesso a música que atende ao estilo determinado pelo momento. Mas sim que o sucesso está condicionado à uma potencial receptividade do público, cuja característica é determinada pela cultura.



Mas a cultura não é homogênea. Varia de acordo com localidade, religião, condição social e outras questões. Não há UMA cultura, mas inúmeros grupos culturais, unidos de forma organizada ou não, que apresentam certa receptividade a certo tipo musical. Evidentemente, essas culturas interagem entre si, se auto-influenciam, e sofrem influencias de fatores externos, como culturas estrangeiras, os meios de comunicação em massa e o contexto socio-economico.

Dessa forma, moldam-se subjetividades que potencialmente legitimam sucesso de determinado estilo musical e letra. No fundo, o que as pessoas desejam é se ouvirem nas canções, como certamente diria Levi-Strauss. As pessoas querem músicas que, no estilo e na letra, representem o que elas sentem. Uma pessoa com uma personalidade que tende para a cultura punk, mesmo que nao seja do movimento, irá se ouvir na música punk e apreciá-la.




É evidente que os interesses políticos e as tendências dos meios têm uma essencial importância na divulgação. Músicas que criticam fortemente o sistema e os meios de comunicação não serão bem-vindas. E assim, o grupo cultural que poderia se interessar por determinada banda, não tem acesso. É um problema grave, mas que está sendo - pelo menos um pouco - amenizado pela internet e as facilidades que esta promoveu ao acesso cultural.

Enfim, encerro aqui minha reflexão.

Ela daria muito mais assunto e exemplos, mas temo ficar efadonho.

Um bom final de semana a todos,

Casmurro

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Brave New World

Saudações pessoas!
Sem me esquivar do tema de hoje e quebrando um pouco o ritmo de publicações críticas e polêmicas, venho aqui falar sobre literatura. Como em minha última publicação sobre o tema, continuo minha propaganda sobre as "Distopias Literárias".

A de hoje está em segundo lugar de meu ranking: BRAVE NEW WORLD (Admirável Mundo Novo).



Foi escrito em 1932, por ninguém menos que o genial Aldous Huxley (se você nunca ouviu falar, crie vergonha na cara e pesquise sua biografia).
No Brasil é comercializado pela editora Globo (o que é bem estranho).

Como toda boa distopia o livro se dá em um futuro indeterminado e hipotético. Mas o que mais chama atenção, é que muito do que ali é escrito como hipótese realmente aconteceu ou vem acontecendo, tanto que mais tarde Huxley escreve um ensaio intitulado "Retorno ao Admirável Mundo Novo" onde ele demonstra as realizações "proféticas" do que escreveu.

Dito isso, voltemos a obra. Nesse futuro incerto, a ciência, principalmente a biológica, se desenvolveu a um ponto em que as pessoas são pré-condicionadas desde sua concepção a viverem em harmonia com as regras sociais vigentes.
Isso é possível porque a vida é criada unicamente em laboratórios, de forma que o sexo é feito apenas por prazer e informalmente. Assim, as crianças são educadas sexualmente desde os primeiros anos de vida, em brincadeiras feitas na escola.

Toda ética e valores morais que conhecemos é inexistente, assim como a familia, taxada como "costume de selvagens".
Expressões usadas atualmente com apelo religioso são substiuídas por científicas. ex: Oh, My Freud! ao invés de Oh, my God!

A felicidade e a alienação são trazidas através do SOMA, uma droga sintética que não tinha nenhum efeito colateral e proporcionava aos usuários prazer intenso dissipando todas inseguranças e dúvidas que tivessem. Além de funcionar como pílula para as mulheres permancerem inférteis.



O pré-condicionamento resulta em uma distinção de castas (alfa, beta, gama, delta e ipsilon), distinção essa que pode ser feita fisicamente. Assim, cada casta tem sua função para a harmonia social.

Tudo isso mencionado ocorre em todo o mundo, com uma única excessão: a América Latina.

Em algum momento da história, o povo latino se rebelou contra esse modo de vida e quis continuar com seus costumes e moral. O resto do mundo aceita, depois de muitos debates, e faz da América Latina a chamada "Reserva Histórica" (algo como uma reserva indígena) onde vivem os 'selvagens' que tem os últimos exemplares existentes da bíblia e costumam ler Shakespeare.

Enfim, o enredo do livro se dá quando Bernard Marx visita essa reserva e conhece Linda, uma também civilizada que lá foi morar por ter tido um filho, John.
Bernard, que tinha grande simpatia pela vida selvagem em contraposição a civilizada, leva John como 'exemplo de selvagem' para a metrópole.
O livro desenvolve-se a partir do contraponto entre esta hipotética civilização ultra-estruturada (com o fim de obter a felicidade de todos os seus membros, qualquer que seja a sua posição social) e as impressões humanas e sensíveis do "selvagem" John que, visto como algo aberrante, cria um fascínio estranho entre os habitantes do "Admirável Mundo Novo".

Esse choque entre a cultura dita selvagem e a dita civilizada é incrível ao ponto de ser possível encontrá-la nos dias de hoje, seja na televisão seja na mesa de bar.

ALGUMAS CURIOSIDADES:
- O título do livro é inspirado em uma fala da personagem Miranda, do livro A Tempestade, de William Shakespeare.
- O sobrenome de Bernard Marx faz uma referência ao Karl Marx. De modo semelhante, o nome de outra personagem, Lenina Crowne, é muito semelhante com o de Lenin.
- A música "Admirável Chip Novo" da Pitty foi inspirada neste livro.
- Também a música "Admirável Gado Novo", de Zé Ramalho, cita várias idéias contidas neste livro.
- A banda Iron Maiden tem uma música e um álbum chamados "Brave New World".
- A banda The Strokes tem uma música chamada "Soma", que faz alusão a droga já citada.
- Há um filme com Silvester Stallone, chamado "O Demolidor" que caracteriza a sociedade criada por Huxley.
- Houve em edição limitada um vinil onde o próprio Huxley narrava o livro (imagem que segue) e se alguém conseguir um desse pra mim eu dou o que quiserem em troca (quase tudo).


"A história é uma farsa"
(Aldous Huxley)

Sempre tem como ficar pior!

Primeiramente, me desculpem por postar na madrugada de quarta feira e não na terça feira como deveria, mas com essa greve do transporte público está dificil chegar aonde devemos na hora certa, não é mesmo?
Sem mais delongas introduzo o tema a ser tratado hoje: REFORMA ELEITORAL. Seguindo a mesma linha de Quincas na terça passada acho que cabe a discussão de alguns temas referentes ao nosso querido governo e o que está tramitando nos mais altos escalões do poder público.
Pois bem, reforma eleitoral que tem em um de seus projetos a adoção de algo que poderíamos chamar de voto indireto. Não sei se vocês sabem, mas atualmente quando votamos em um deputado e ele ultrapassa o número de votos necessários a sua eleição, ele vai "ganhando cadeiras" na Câmara, e assim vai puxando alguns membros do partido até corresponderem o número de votos ao de cadeiras. É complicado, sim! Mas dá pra piorar...
Vejam bem, os queridos representantes do povo, que se preocupam com os interesses deste e nada a mais, e dedicam sua atividade política ao zelo de tais interesses, querem que esse sistema mude para o seguinte: cada partido elabora uma lista de nomes de candidatos, por exemplo:
PARTIDO QUE QUER O PODER (PQP):
1- FULANO
2- CICRANO
3- BELTRANO
4- JOÃO
5- ANTONIO
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400- MARIA
Para eleger os cinco primeiros, por exemplo, seriam necessários 1 milhão de votos. Mas, o eleitor brasileiro deu esses 1 milhão de votos para a Maria, que por estar no último lugar da lista não se elegerá! Fantástico não!? Maravilhoso, é o avanço em questão de reforma política eleitoral, não tem como nosso governo ter pensado mais em nossos interesses.
Minha gente, convenhamos: se do jeito que é já tem um monte de partido que se sujeita aos seus "chefões" ou caciques, como um monte de gente prefere chamar; imagina com isso? Quem escolherá os primeiros candidatos da lista? QUEM TEM MAIS PODER DE INFLUÊNCIA NO PARTIDO, é claro! Sem contar que para atingir esses votos necessários fica muito fácil, é só pagar um "cachê" pra Ivete que o povo todo vota nela e tcharammmmm... os primeiros da lista se elegem!
Mas o governo não faria isso sem se justificar solenemente perante nós, governados! Segue um trecho de uma reportagem feita com nosso querido ministro Tarso Genro, o exemplo de defesa do interesse público!
- A lista fechada não submete o eleitor à vontade da caciquia dos partidos?
Essa é uma visão totalmente equivocada. Caciquismo partidário é o que temos hoje.
- Como se dá o caciquismo atual?
Ele se dá em cima da votação nominal. A lista aberta, que determina a votação nominal tal como temos hoje, concentra votos de maneira totalmente estranha à vontade do eleitor. Privilegia os conchavos políticos. O resultado desses conchavos cria lideranças artificiais.
- Qual é a vantagem da lista fechada?
Ela dá mais segurança ao eleitor. Ele pode examinar o partido e a lista que o partido ofereceu. O voto dele vai para o partido de sua preferência. Sempre. E vai representar a escolha de candidatos dispostos numa lista. O eleitor vai saber em quem está votando.
- A votação nominal não é mais democrática?
É falsa essa visão. A votação nominal é o que alimenta a relação personalista, o fisiologismo. Alimenta um sistema de alianças meramente de conveniência entre os partidos, que leva a uma deformação da representação. Valorizando os partidos estaremos valorizando o próprio processo democrático. Não entendo que a votação nominal seja superiror. Ela é despolitizada, personalizada e sem conteúdo político.
- A lista fechada não perpetua o caciquismo?
A dúvida é razoável. Mas ela é compensada por um outro aspecto. No sistema atual, de voto nominal, há as pessoas que desfrutam do privilégio do caciquismo formado pelo dinheiro. Na lista nominal, aqueles candidatos que tem mais força econômica adquirem mais força política dentro dos partidos e dentro da comunidade. Isso deforma a representação.
- Como evitar o privilégios aos caciques na elaboração das listas?
A própria lei pode determinar um processo amplamente democrático no interior dos partidos, para que a lista seja votada. O Ibsen [Pinheiro] fez acréscimo positivo: a possiblidade de apresentação de duas listas. O grupo que tiver em torno de 30% dos votos no colégio interno do partido que vai decidir sobre a lista pode ter o direito de apresentar uma segunda lista. Ou pode determinar uma proporcionalidade na composição da lista e na própria ordem dos nomes. Isso combate o caciquismo.
- De que maneira a lista fechada fortalece os partidos?
Não haveria mais campanha individual. O candidato teria que fazer campanha para a sua lista. Se estou entre os 15 primeiros, vou trabalhar, visitar pessoas, apresentar o meu nome, mas não numa propaganda individual. A campanha será em cima da lista. O eleitor vai veririficar se dentro daquela lista há nomes aceitáveis ou não. Pode concluir: Tenho simpatia por esse partido, mas a lista que ele me oferece não é razoável. Tem pessoas das quais eu discordo ou que já responderam a processos por corrupção. Vou procurar um partido que não tenha isso. O eleitor vai formar os seus critérios políticos e partidários, para eleger os seus deputados e vereadores. Me parece um voto muito mais democrático e moderno. Pergunto: O que é mais correto, apostarmos numa melhoria dos partidos ou deixarmos a oligarquia financeira continuar controlando os pleitos?
Francamente! Temos cara de palhaços.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Sobre Corrupção

Boa noite, caros leitores.

Peço que perdoem este velho casmurro pela ausência de ontem. Estive num evento social de alta classe na quarta-feira pela noite, e uma empada má temperada ocasionou-me um mal estar durante todo dia de ontem. Peço perdão, igualmente, a meus camaradas do Beco, pelo atraso nesta postagem.

Venho falar-vos de um tema muito comentado nos notíciarios e conversas de bar, mas pouquíssimo levantado nos meios acadêmicos: a corrupção.

Os que se dedicam ao estudo de sociologia ou da ciência política, costumam ater-se às bases espistemológicas e metódicas das teorias sociais e das práticas partidárias delas consequentes, mas pouco se dedicam a tentativas de explicação, mensuração e análise das causas e consequencias do ato corrupto.

Nos últimos anos, todavia, este ramo tem crescido, embora ainda seja incipiente, e trazido importantes contribuições. Acadêmicos já vêm buscando definir corrupção de uma maneira mais clara e estudiosos buscam analisar casos em países. Evidentemente, tal trabalho é repleto de limitações, dado que trata-se de uma atividade criminosa que raramente é descoberta e cuja repercussão depende muito da boa (?) vontade da imprensa local. Ainda assim, organismos importantes, como a ONU e o Banco Mundial, têm se ocupado do assunto.



Uma das formas de realizar uma possível mensuração é através de uma pesquisa empírica que busque registrar a sensação popular em relação aos níveis de corrupção no país. É evidente que tal sensação é oriunda não só da quantidade de casos existentes, mas da história do país e da relação da imprensa dominante com o governo situacional. Ainda assim, é uma base razoável.

Sobre o assunto, a ONG Transparência (www.transparency.org) faz estudos importantes. Bem como sua co-irmã Transparência Brasil (www.transparenciabrasil.org.br). No site Às Claras (www.asclaras.org.br) podemos verificar o histórico de todos os políticos do Brasil, inclusive os financiadores das campanhas. É um dado interessantíssimo antes de colocarmos o dedo nas urnas em 2010.

Por hoje, fico por aqui.
Só mantenho a questão: Porque as ciencias sociais fogem do debate da currupção? Por que, ao invés de reclamar, não utilizamos estes instrumentos que temos para refletir melhor em quem votamos?


"Qual é o pior inimigo? O pai da corrupção ou o filho do mendigo? Quem é o grande culpado? O ladrão que tem 100 anos de perdão ou você que vota errado?" (Gabriel Pensador)

quarta-feira, 6 de maio de 2009

"Minha liberdade é escrever. A palavra é o meu domínio sobre o mundo." C.L.



Clarice Lispector é autora de romances, contos, livros infantis e textos jornalísticos. Como quase toda literatura da época, ela era influenciada pela forma de arte modernista.
Considerada uma autora de subjetividades, que dava ênfase em questões existenciais, metafísicas e filosóficas, mas, levando-se em conta o momento histórico em que escrevia, recebia inúmeras críticas, por não deixar claro em suas obras, um posicionamento político, nem frente à questão do judaísmo – o motivo que fez sua família deixar a Ucrânia - , nem frente à ditadura militar.
Embora a autora tenha ganhado fama por seus escritos que ressaltam questões subjetivas, há sim, em sua obra o retrato e a contestação das diferenças sociais brasileiras, e isso tanto no tema abordado nos romances quanto na forma poética de escrever as histórias.
"A paixão segundo GH" é um marco nas obras da autora, pois ao mesmo tempo em que reafirma as questões individuais, metafísicas, traz pela primeira vez a questão das diferenças sociais e suas conseqüências. Não me estenderei falando deste livro, pois é na obra "A hora da estrela" que a questão da pobreza, da marginalização das classes oprimidas e da reprodução de um sistema injusto existe de maneira muito enfática. Não farei aqui um resumo dessa história, pois ele pode ser facilmente encontrado por ai, tentarei ressaltar outros pontos, ligados a autora.
Em "A hora da estrela" Clarice Lispector e o personagem escritor-narrador Rodrigo, se confundem. A autora mistura ficção e realidade, ela, através de Rodrigo, demonstra a dificuldade que o intelectual brasileiro tem de retratar a população de baixa renda, a distância que separa as camadas privilegiadas dos menos favorecidos. Além disso, Clarice reconhece a situação dual do intelectual, divido entre o compromisso com os marginalizados e sua dependência do sistema já existente, para o qual colabora na reprodução das idéias “dominantes”, da moral e do tradicionalismo em troca de alguns privilégios. No livro, podem ser observadas também críticas da autora aos meios de comunicação de massa (o rádio que Macabéia ouvia todos os dias) que também trabalham a favor da reprodução, à presença quase cotidiana no Brasil da prostituição, do charlatanismo e da ilegalidade não punida.
Quanto à estética, A hora da estrela está dentre as obras onde Clarice faz opção pelo feio, a autora denomina de “literatura feita com a ponta dos dedos”, a utiliza depois do golpe dos militares em 1964. A lógica é usar de uma estética feia, para retratar uma situação nacional de igual feiúra, portanto, uma posição política e ideológica de Clarice.
Durante todo o livro, a autora faz um retrato dos “dois Brasis”, que vivem lado a lado, especialmente nos centros urbanos: de um lado o rico (materialmente, culturalmente, detentor dos meios de comunicação, etc), ambicioso, influente e estudado, e do outro o pobre, explorado, indigente e que nem ao menos consegue articular suas próprias idéias.

Deixo aqui algumas perguntas, além é claro, de esperar qualquer tipo de comentário sobre o texto, Clarice, etc.

A arte carrega em si uma obrigação de contestar a realidade?
E a arte pela arte?
O que dizem/ fazem nossos intelectuais? Reproduzem um sistema já existente? Se sentem compromissados com os marginalizados?
Um Beijo!
Colombina

terça-feira, 5 de maio de 2009

Cega? Depende...

Saudações pessoas!

Não falarei de educação.

Farei uma crítica sobre uma coisa que me incomodou bastante nos últimos dias: a crise no judiciário.

Adoro crises, as vejo como pontos de liminariedade entre um antigo modo de ser para um que está por vir. Torço para que o que venha seja melhor que o anterior.

Mesmo sem ter nenhuma envergadura moral nem embasamento teórico pra isso, peço aos futuros bacharéis em direito que compõem nossa trupe que se manifestem em meus equívocos.
Serei direto: eu acho o STF uma baboseira, uma palhaçada e uma fanfarronice.
Seguindo os preceitos de Montesquieu, penso que os três poderes devem ser totalmente indepedentes. Separar o legislativo do executivo é uma tarefa árdua, que fica pra um próximo debate.

Agora, me digam, como pode a última instância da justiça brasileira ser composta por cargos de CONFIANÇA e ainda por cima VITALÍCIOS ?
Não seria uma enorme influência partidária e política num orgão que deveria ser exemplo de imparcialidade?

O sistema juduciário é uma incognita: dizem que o número de advogados e de juízes ultrapassa o de qualquer país do mundo. Porém, os processos são todos truncados e lentos por nossa burocracia tupiniquim. Além dos recursos que vem em salários exorbitantes comparados com a realidade do país.

A atual discussão entre Joaquim Barbosa e Gilmar Mendes reflete escancaradamente a imparcialidade existente em todas instâncias.
A lei até pode ser imparcial, mas sua aplicação não. Não, mesmo.



O pobre do seu José, mulato de olhos pretos, que roubou um pacote de macarrão pra sustentar os filhos é preso e espancando ficando até anos esperando que algum recurso mude isso.

O rico do seu Daniel, branco de olhos azuis, que roubou bilhões e manda no congresso desde o começo dos anos 90, fica um dia na cadeia e consegue seu habeas corpus de um amigo fiel.

Se essa enorme diferença de recursos impede uma igualdade na hora da contratação de um advogado, não cabe ao juíz garantir a imparcialidade??

Como confiar em um juíz que convoca a imprensa para criticar o MST se ele mesmo é um grande latifundiário?
Já pesquisaram a biografia do supremo presidente do supremo? Procurem... ficarão surpresos.



Fato é: não acredito nem na independência nem na imparcialidade da maior parte do sistema judiciário brasileiro. A justiça cega pra mim é uma grande piada.


"Não basta que todos sejam iguais perante a lei. É preciso que a lei seja igual perante todos"
(Salvador Allende)

segunda-feira, 4 de maio de 2009


Mais uma vez cá estou, nessa manhã “climaticamente” conturbada, para falar sobre cinema. Mas hoje não vou falar dos ‘top dez’ haha aliás, o filme que trago aqui não é nem um pouco do estilo hollywoodiano de final feliz.

Réquiem Para um Sonho, filme clássico do ano de 2000 do diretor Darren Aronofsky, com um elenco que na época não era tão estrela: Jared Leto, Marlon Wayans, Jennifer Connelly e Ellen Burstyn. A história gira em torno dos quatro personagens, respectivamente: Harry, Tyron, Marion e Sara; cada um com seus vícios e com as conseqüências que isso traz.


Harry e Marion formam um casal desesperadamente apaixonado que planeja o que todo casal apaixonado costuma planejar: ter uma fonte de renda estável e viver feliz para sempre! Massss como nem tudo é perfeito (e como esse filme retrata bem isso!) os dois são viciados em heroína, bem como Jared, amigo de Harry. Os dois são inicialmente apenas consumidores, mas com o tempo decidem vender; mesmo sendo “pequenos traficantes” eles conseguem ter muitos lucros e o negócio parece prosperar. Com isso parece que a vida dos jovens é realmente maravilhosa, o casal se declara apaixonadamente após o consumo de drogas, os amigos se divertem juntos, compram um monte de coisas, enfim, tudo corre muito bem.


Paralelamente é retratada a história de Sara, viúva, mãe de Harry e viciada em televisão! Ela passa o dia inteiro assistindo um reality show, até o dia que ligam na casa dela e a convidam para participar de tal programa. A mulher fica muito feliz, conta para todas as amigas da vizinhança, fica fazendo os preparativos, imaginando o que vai falar etc. Ela se imagina com um lindo vestido vermelho apresentando o filho (um jovem - na visão dela - bem sucedido que tem uma namorada perfeita e que recentemente a presenteara com uma televisão enorme e maravilhosa) para a platéia! Mas quando ela vai experimentar o vestido, adivinhem??? Ela não cabe no vestido! Então, como é muito comum nos dias de hoje (mas não vou entrar no mérito da questão, fica para outro dia) ela vai a um médico para tomar pílulas de emagrecimento! O médico nem olha pra ela, faz meia dúzia de perguntas e receita um monte de comprimidos coloridos. Ela começa a tomá-los, e ai tudo muda: até então, ela era apenas uma velha pacata que ficava o dia inteiro no seu apartamento sentada na frente da televisão; e então de repente ela tem energia para tudo: limpa a casa, arruma isso, arruma aquilo, vai de um lado para o outro... até que nem a televisão a prende mais! E sim, ela continua sonhando com o dia que irá para o programa de televisão no seu lindo vestido vermelho falar do seu filho maravilhoso.

Lindo até agora não acham!? Mas é a partir desses acontecimentos que o filme honra a sua fama de excelente.


Como nem tudo na vida são flores como a maioria dos filmes americanos tentam fazer parecer que são, tudo tem uma conseqüência. E a conseqüência desses vícios para os nossos personagens é cruel! Receber heroína na cidade (que eu não me recordo qual é) ficou praticamente inviável, há uma verdadeira escassez da mercadoria no mercado; isso gerou duas conseqüências: o dinheiro de Harry e Jared foi acabando, e a droga de Harry, Jared e Marion também! E isso gerou duas conseqüências: o casal começou a brigar e brigar, não parecendo mais aquele casal apaixonado do começo do filme; e os dois amigos resolveram viajar para trazer a heroína de outro Estado.


Do outro lado, os efeitos das pílulas de emagrecimento começaram a diminuir em Sara, e ela procura mais uma vez o médico, que nem olha na cara dela, e fala pra ela continuar tomando. E o que ela faz??? Aumenta o número de comprimidos tomados, mistura um monte... e por que? Porque ela queria desesperadamente sentir a mesma animação que sentiu no começo, e deu certo, por um tempo.


E o que Marion faz com a falta de drogas? EU NÃO VOU CONTAR, vocês vão ter que assistir... mas vou avisar, é muito tenso, quem não tem estomago pra cenas fortes nem assista, porque é C H O C A N T E.


E os dois amigos??? Não é difícil de imaginar se a viagem deu certo ou não, até porque o gênero do filme é drama, mas as cenas que mostram o que acontece são de fazer qualquer pessoa parar e refletir não apenas sobre as drogas, os vícios etc mas sobre a vida, sobre a nossa existência, sobre o que o que a gente é capaz de fazer em nome de certas coisas que simplesmente nem deveriam ser cogitadas na nossa mente!


E a Sara, coitada... só vou dizer uma coisa: ela termina o filme no programa de TV, linda no seu vestido vermelho, apresentando o seu filho perfeito... ao lado do seu marido morto. Preciso dizer mais alguma coisa?

domingo, 3 de maio de 2009


Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

(...)

VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias.

As religiões, conforme o que elas mesmas pregam, deveriam coexistir em harmonia entre si, ou pelo menos é assim que eu entendo. Não me faz sentido uma religião que pregue a imposição de seus dogmas e crenças para o restante da população, recusando e rebaixando as crenças alheias. Entretanto, é interessante notarmos que as religiões simplesmente não são capazes de coexistirem, elas necessitam de contante disputa. Disputam mais fiéis? Mais dízimos? Mais lugares no céu? Não sei, não entendo.

Algumas delas, abertamente, estão em conflito com outras religiões. O conceito de Jihad vem a ilustrar essa situação, no caso muçulmano. Nas disputas no (não tão distante assim) oriente médio, a disputa religiosa se mistura com a questão territorial e com tantos outros quetais que é difícil entender todas as nuances do conflito.

Aqui pertinho me lembro de dois casos passíveis de serem citados. Um deles é, naturalmente, a demonização das religiões afro. Prefeituras perseguem alegando a necessidade de alvará das casas de culto, utilizando-se da burocracia, muitas vezes, para minar um culto associado à pobreza, bruxaria, macumba. Temidas e desconhecidas as religiões afro sofrem com preconceitos de toda sorte. Outro caso a ser lembrado é o "chute na santa" do bispo da Universal que em tv , ao vivo, chutou apenas a padroeira do Brasil.

Não é questão de acreditar ou não. Convenhamos, isso é o fim da picada. Como uma religião pode se propor a isso???

Naturalmente não vou levantar a bandeira contra a Universal, mesmo por que é apenas a mais notória, não significando ser a única que persegue outras religiões em busca da manutenção e reforço dela própria. O que eu gostaria de levantar hoje é essa dificuldade de coexistir. Por que o ser humano é assim? No ideal, meu, de nossa legislação e imagino que de tantas outras pessoas, religiões deveriam auxiliar a respeitar-nos uns aos outros.

Coloco aqui uma foto do admirável Bono, do U2. Pode ter um milhão de defeitos, mas eu acho que o papel daqueles que são notórios e estão nos meios de comunicação é pregar a paz, o respeito, entre outras questões importantes. E não chutar a santa.


Não deveria ser tão difícil coexistir em paz.

Boa semana.

Abraços a todos!













sexta-feira, 1 de maio de 2009

Segundo!

Buenas meus caros!!!

Segue ai, depois de muito tempo, mais uma poesia de minha autoria.
Como sempre, não gostem, critiquem, mas só o façam com carinho porque sou um rapaz sensível!rs

bom feriado a todos!!

À porta do pensamento
Me batem os devaneios
Devaneios que se apresentam para mim
Como a própria realidade
Vizível
Real
Porém não racional

Devaneio comigo mesmo
Em um plano superior ao próprio ser
Quando desço
Vejo que nunca subi
Ou subi talvez
E já fora do meu estado de transcendência
Nada faz sentido

Obrigações bastardas de cada dia
Me impedem o pensamento
Me impedem a vida

Busco nas mínimas oportunidades
A representação de um prazer reprimido
Que talvez não saiba qual seja
Prazer de alguma coisa que não vivo
Prazer de alguma coisa que não é o que me apresentam
E como me apresento

Sentado à janela
Penso em coisas que não me lembro
Um cheiro me traz a lembrança
Do que?
Da onde?

Me deparo com a vida e não a conheço.
Percebo que nunca a tinha visto,
exceto agora

Me dou conta de que hoje
não caibo mais em mim mesmo
Não aceito a pessoa que está em mim
Não sou eu
Não sou o que queria ser

Desejo ser alguma coisa
Coisa que não sei bem o que
Tento me definir através das próprias coisas que já sou

Vejo o que não quero
Descarto!
Substituo pelo o que?
Amor? Bondade?
Não sei se os desejo

Busco respostas para o meu vazio
Só encontro a mim mesmo
Ainda no estado que não quero

Me conformo

Continuo a olhar pela janela

Quero algo mais
Para mim, não me basto


Ainda!