segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Sobre a polícia na USP

Essa postagem não pretende ser uma interpretação conclusa do episódio, tampouco de qualquer um dos inúmeros fatores envolvidos. Quer apenas introduzir o tema, sobretudo àqueles que estão mais ausentes do debate. Os que buscam análises mais desenvolvidas e focadas, vide textos do último post.


O assunto do momento, na imprensa e redes sociais, é a luta estudantil no campus da USP. Para muitos, trata-se de uma luta dos estudantes contra a polícia pelo uso de drogas ilícitas no interior do campus. Essa é a versão amplamente divulgada. Ao analisar, entretanto, o histórico recente do movimento estudantil, bem como o que os próprios manifestantes dizem a respeito do embate, vemos que o adversário é a política educacional de um Estado cuja estrutura ainda é autoritária, e do qual a polícia é um mero instrumento. Vemos, ainda, que a pauta estudantil não é a utilização de maconha no campus, mas o episódio envolvendo a droga foi o estopim de um conflito mais amplo e sério.

Para quem se interessa pela construção da democracia e por uma segurança pública efetiva, o episódio seria uma bela oportunidade para debater uma infinitude de questões. Não só a legalização ou não da maconha, mas também: o papel de uma universidade pública; o problema da segurança nos campi universitários e possíveis trabalhos preventivos demandados; a fronteira (erroneamente) estabelecida entre universidade e sociedade; a questão da democracia para além das ditas instituições democráticas; o papel da PM em relação aos movimentos populares; e, finalmente, a PM ou não no campus.

Contudo, o que se vê são comentários rasos, desinformados e muitas vezes preconceituosos, como se a pauta dos estudantes fosse a legalização na maconha na universidade, e como se suas máscaras fossem sinal de vergonha ou criminalidade. O debate, em suma, é simplificado e distorcido, para ser finalmente engolido e degustado virtualmente, com recheio de um rancor inexplicável e uma ignorância sem medida.

Vale, ainda, ressaltar a contribuição do pensamento sociológico para a discussão. Ao dizer que o Estado se define por seu meio específico - o monopólio do uso legítimo da violência física, aplicado por um corpo técnico especializado -, o clássico Max Weber ressalta a impossibilidade de definição do Estado por seus fins. O que nos permite pensar (e Pierre Bourdieu o faz) que o caráter dos fins é arbitrário, em favor da classe/grupo social que ocupa a posição de dominação no campo político-social. Temos, assim, que a ação do corpo técnico especializado, a polícia, se dá sempre em função da arbitrariedade do caráter do Estado, em outras palavras, dos interesses da classe/grupo social que ocupa o poder político.

É preciso, portanto, fugir de leviandades no trato da questão, como se a polícia tivesse a missão imaculada de preservar a paz e fraternidade entre os homens, ou como se tratasse apenas da aplicação de uma “justiça” neutra e imparcial. É necessário, ainda, que exerçamos a criticidade na fuga de análises simplistas e unilaterais, e nos permitamos conhecer as questões mais profundas que estão por trás do acontecimento.

domingo, 13 de novembro de 2011

Dossiê: USP x PM

Caros, penso que seja desnecessário eu expressar aqui minha posição frente aos últimos fatos ocorridos na Universidade de São Paulo.

Assustado, porém, com a grande desinformação propagada por aí o tempo todo, farei aqui uma espécie de dossiê com materiais jornalísticos, além de vídeos, que ao meu ver saem do senso comum e trazem um debate mais sério e profundo sobre os fatos.

Saliento que as listas que seguem não são fixas e que serão constantemente adicionadas matérias dignas de menção (faço o convite também para que me ajudem na sua construção, enviando materiais que porventura ficaram de fora).