terça-feira, 5 de outubro de 2010

Chega...

De política....ufa!! Isso cansa...rs..

Ou não?!
O que faz nos definir o sentimento - aquele perante de tudo, da desilusão de um idealismo, da cruel concepção do todo que pertencemos - como cansaço?

Estamos realmente cansados? Desiludidos talvez. Em alguns outros momentos melancólicos. Mas porque sempre trazemos à tona o cansaço?!

Não seria mais fácil dizer ou citar a nossa decadência?! Ou talvez nossa desilusão?! Quem sabe porque aglomeramos tanto sentimentos em um... assim como somos várias pessoas em uma....

Talvez se não aglomerássemos o todo em um só, tudo seria mais claro e fácil de definir. Mas enquanto não conseguimos, definimos este emaranhado de sentimentos como: Cansaço!

Ou Não?!



Não
Fernando Pessoa

Não, não é cansaço...
É uma quantidade de desilusão
Que se me entranha na espécie de pensar,
E um domingo às avessas
Do sentimento,
Um feriado passado no abismo...

Não, cansaço não é...
É eu estar existindo
E também o mundo,
Com tudo aquilo que contém,
Como tudo aquilo que nele se desdobra
E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais.

Não. Cansaço por quê?
É uma sensação abstrata
Da vida concreta —
Qualquer coisa como um grito
Por dar,
Qualquer coisa como uma angústia
Por sofrer,
Ou por sofrer completamente,
Ou por sofrer como...
Sim, ou por sofrer como...
Isso mesmo, como...

Como quê?...
Se soubesse, não haveria em mim este falso cansaço.

(Ai, cegos que cantam na rua,
Que formidável realejo
Que é a guitarra de um, e a viola do outro, e a voz dela!)

Porque oiço, vejo.
Confesso: é cansaço!...

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