quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Poesia sem nome

À porta do pensamento
Me batem os devaneios
Devaneios que se apresentam para mim
Como a própria realidade
Vizível, real
Porém não racional

Devaneio comigo mesmo
Em um plano superior ao próprio ser
Quando desço
Vejo que nunca subi
Ou subi talvez
e já fora do meu estado de transcendência
Nada faz sentido

Obrigações bastardas de cada dia
Me impedem o pensamento
Me impedem a vida

Busco nas mínimas oportunidades
A representação de um prazer reprimido
Que talvez não saiba qual seja
Prazer de alguma coisa que não vivo
Prazer de alguma coisa que não é o que me apresentam
E como me apresento

Sentado à janela
Penso em coisas que não me lembro
Um cheiro me traz a lembrança
Do que?
Da onde?

Me deparo com a vida e não a conheço.
Percebo que nunca a via
exceto agora

Me dou conta de que hoje
não caibo mais em mim mesmo
Não aceito a pessoa que está em mim
Não sou eu
Não sou o que queria ser

Desejo ser alguma coisa
Coisa que não sei bem o que
Tento me definir através das próprias coisas que já sou

Vejo o que não quero
Descarto!
Substituo pelo o que?
Amor? Bondade?
Não sei se os desejo

Busco respostas para o meu vazio
Só encontro a mim mesmo
Ainda no estado que não quero

Me conformo
Continuo a olhar pela janela

Quero algo mais
Para mim, não me basto


Ainda!

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Carta aos amigos III

É pedindo um tempo aos mau-entendidos passados que saludo vocês, caros amigos.

De todos os contratempos e desavenças na vida, é quando se encontra a real dificuldade que descobrimos o quão pequenos foram os acontecimentos passados, os quais tomaram tanto de nossas forças e pensamentos.

É com grande pesar e ainda dor em meu coração que venho para lhes dizer de meu filho. Postergo esse momento há meses, período de tempo que me afastei da realidade por não conseguir lidar com a mesma. Após meses de luta e dor, chegamos a uma hora onde não nos resta nada senão o alívio final. Mesquinho pode parecer o ponto de chegarmos a querer abdicar de certas situações no desejo de que elas se resolvam da forma mais rápida possível, tanto para o bem quanto para o mal. Contudo, ao ver o filho em situação desesperadora, sem mais forças, afundado em seus delírios e sem mais nenhum contato com a realidade; com uma ardência febril constante e sem tréguas; é então, neste momento, que pedimos para que o fim se aproxime e acabe com os momentos de sofrimento da pessoa amada.

Hoje fazem seis meses que meu filho se foi, e ainda procuro forças para me reerguer na vida. É com a alma esperançosa que lhes escrevo esse desabafo que me atormenta em meus sonos. Apesar de me justificar diariamente, ainda me culpo pelos momentos onde pedi para que meu filho desistisse de sua luta. Contudo, fria e calmamente vejo que não poderia mais suportar tamanha agonia tanto por sua parte, como da minha.

Espero encontrá-los em breve para que possamos relembrar momentos de alegria, tão caros hoje em minha vida.

Peço para que não respondam minha carta, pois esta é apenas um desabafo de um pai ainda corroído pelo remorso do que passou, pois, minha única esperança é que com esta vá embora também minhas dores.

Brito Corrêa.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Prefácio a "Carta aos amigos"

Meus caros!

É com muito prazer que retomamos esse blog e desejamos a todos um ótimo ano de 2011.

Agora já todos descansados e ainda ébrios das festividades de final de ano, está na hora do ócio criativo.

Sendo assim, anunciamos que no ano que se inicia, além da desconcordância regular dos posts e da falta de unidade dos assuntos, criamos mais inédita novela do mundo "bloguístico".

CARTA AOS AMIGOS

Sim meus queridos. Uma novela tão intrigante quanto Malhação, tão bem escrita quanto Passione, mais interativa do que Laços de Família e, quiçá, mais inovadora do que O Cravo e a Rosa.

Suspense, traição, amor, ódio, paixões avassaladoras, amizades que são resgatadas ou destruídas, revelações instigantes a todo momento, tudo isso e muito mais nessa novela que já apresentou seu dois primeiro capítulos.

Sorte de Agatha Christie ter nascido antes de nós pois, senão, não teria metade da reputação que lhe cabe hoje. Teríamos a ofuscado por completo.


Carta aos amigos II

Querido canalha: que você apodreça nestes livros de auto-ajuda. Por mim seria o mínim, depois do que você me fez.

Escrevo essa carta com o peso na ponta do lápis de toda a dor que passei. Me separei de você, não sem motivo, mas devido as circunstâncias que você criou.

No último encontro de turma que estive presente, não era a falta de felicidade ou saúde que te abalava, mas o excesso dela ao conversar com um loira, de pernas bem torneadas, no balcão do bar, enquanto eu e todos seus amigos assistíamos atônitos ao seu show de galanteios para com a moça, como se fosse um pavão se demonstrando para a fêmea. Até mesmo seus amigos solteiros ficaram com vergonha alheia de seu comportamento naquela noite. O problema maior não era você ser o galanteador do bar, mas suas desculpas  descaradas para justificar o acontecido.

Creio que seu arrependimento é tão fajuto quanto seu apego aos livros de auto-ajuda ou as histórias contadas por estes livros. Verdade mesmo é o que eu encontrei, que estava me alertando sobre você a todo tempo. Encontrei a verdade nos braços de Alana, minha amiga mais que especial.

Além de sempre contar suas canalhices, nas quais eu custava a acreditar, estava ao meu lado. Ela me ensinou a ter mais auto estima, a gostar mais do meu corpo, a conhece-lo melhor. Foi através dela que cheguei ao meu primeiro orgasmo verdadeiro, e não através deste seu pinto preguiçoso, que muitas vezes relevei em função do nosso amor.

Hoje Alana é minha mentora. Graças a ela me libertei do homem errado e encontrei enfim o prazer. 

Esta carta não é apenas para mostrar o quão errada eu estava a seu respeito, mas também partilhar o quão errada eu estava sobre mim.

Beijos.

Vivi.


Carta redigida pelo companheiro Rafael Marangoni

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Carta aos amigos

Meus caros.

Espero que essa carta lhes encontrem com saúde e felicidade.

De mim não posso dizer o mesmo, já que desde a última vez que nos reunimos enfrento inúmeros problemas em todas as esferas de minha vida.

Como bem sabem, na ocasião daquele último encontro havia acabado de me separar de Vivian. Acredito que vocês se lembrem da paixão avassaladora que tinha por tão fervorosa mulher, e podem também imaginar a mesma intensidade de dor que me causou sua rejeição, repentina, diga-se de passagem, para comigo.

Desnorteado, sem amigos próximos, pois havia me afastado de todos - afinal minha vida era em função de Vivi - resolvi, após meses de solidão e autoflagelamento, buscar ajuda no que descobri ser a fonte da verdade universal:  As seções de livros de auto ajuda de todas as livrarias.

E pensar que tudo ocorreu de repente, como obra do destino. Conheci os livros de auto-ajuda através de um acontecimento muito interessante: Um dos primeiros passos para me recuperar da falta de Vivi, como qualquer ser humano normal, foi buscar a ajuda de cartomantes, leitoras de borra de café, e toda sorte de profissionais do misticismo. Foi então que um dia, saindo de minha consulta semanal na casa de Madame Waleuska, vejo em sua mesa, ao longe, perto da porta, um livro chamado: A Felicidade e a Tristeza são Escolhas Nossas. Que coisa mais fantástica que é o destino, ou melhor, que coisa maravilhosa que é o cosmo trabalhando e colocando em nossa frente todos os dias energias positivas e soluções para os nossos problemas. Mas era claro! A minha solidão e o meu abandono foram escolhas minhas, assim como provoquei diretamente o afastamento de Vivi para comigo.

Saindo da casa da Madame corri para a livraria mais próxima e encontrei apenas um último exemplar desse mesmo livro. Fui para casa e o li na mesma noite. Era uma quinta feira, no mês de maio, chuvosa e fria, totalmente contrária ao calor que me tomou o peito após terminar de ler esse livro tão enriquecedor em minha vida. Agora tudo fazia sentido. Minha vida acabava de tomar outro rumo. Agora eu era dono da minha vida e dos meus sentimentos.

Contudo, assim como com a paixão por Vivi, me joguei loucamente no meio do universo dos livros de auto-ajuda. Depois de oito meses mergulhado com essa literatura já não conseguia mais ir à uma livraria e frequentar outros tipos de seções de livros.

Eu me esforçava para procurar livros de culinária, de artes, mas sempre acabava na seção de auto-ajuda. Comecei então a chegar ao cúmulo de, na falta de lançamentos, comprar novas edições de livros que já havia lido, procurando por novos comentários, entrevistas com os autores, etc.

Já não conseguia mais fazer absolutamente nada sem antes consultar um livro:

-Se estava muito sozinho lia "Dez Maneiras de Lidar e Acabar com a Solidão"
-Antes de sair para um restaurante na esperança de conhecer alguém, lia "Vença o Medo de Conhecer Novas Pessoas", juntamente do livro "Conversas Básicas para um Primeiro Encontro"


E assim foi, durante meses, eu preso ao que tinha sido minha libertação.

Hoje, já consegui, novamente, mudar um pouco da minha vida. Agora descobri a felicidade e as lições de vida através dos reality shows: Isso sim meus queridos. Isso sim é que é verdade. Isso sim que é vida na sua mais pura forma. Mas o detalhamento deles deixo para uma próxima carta.

Bom meus caros, gostaria apenas de partilhar de minhas experiências para que os meus erros não sejam os seus.

Um efusivo abraço e espero respostas em breve.

Att.

Demerval de Freitas