terça-feira, 8 de abril de 2014

Aquele último...

O que leva uma pessoa a dar aquele último passo?
Não um passo qualquer, mas aquele passo no vazio. Aquele passo, que naquele instante, é a única e última resposta para tudo. Aquele passo no desconhecido, no topo de um edifício do qual você não ve a base.
 
O que nos faz, nesse momento, ir adiante e não olhar para trás?
 
A seriedade dessa questão extrapola aqui qualquer tipo de regra, de convenção. A decisão de "parar por aqui", de não seguir adiante e tomar as rédeas de uma vida da qual não se tem mais controle, pode ser uma decisão vista como um gesto de coragem para uns, e de covardia para outros. Cabe a cada um fazer seus julgamentos.
 
Porém, a parte nossos pré-conceitos, o que fixa os meus pensamentos é tudo aquilo que gerou esse último passo. Infelizmente qualquer tipo de resposta racional para a questão se afasta de mim toda vez que me ponho a pensar sobre o assunto. No lugar da razão entra em cena um lado completamente emotivo de pensar o mundo. É aquela forma de pensar as coisas onde não entra em cena a razão humana, mas sim uma sensação, um estado de espírito que nos põe a refletir sobre as coisas. É aquela hora onde em seus pensamentos não estão presentes palavras, mas apenas sensações e sentidos, como se uma trilha sonora tomasse conta dos seus pensamentos e apenas imagens, sons e sentidos te ajudassem a interpretar a situação.
 
É aí então que mora a dificuldade de expressar em palavras tudo aquilo que penso, ou melhor, sinto sobre o assunto.
 
Ontem assisti ao filme A Long Way Down, que está muito longe de ser um ótimo filme, mas me fez repensar essas questões. Rapidamente, o filme trata de quatro (quase) suicídas que se encontram e tentam se ajudar, e por ai vai o filme. Em questão de história, fotografia, trilha sonora, nada de novo.
 
No filme temos alguns casos retratados: O cara de sucesso que perdeu tudo e se sente humilhado a todo momento; a mãe solteira com um filho deficiente que sente uma profunda solidão; uma adolescente que perdeu a irmã e ainda tenta lidar com isso; e um rapaz que sente um profundo desamparo.
 
Temos então os mais variados casos para que possamos tentar entender algo sobre o assunto. E entender não cientificamente, mas entender no sentido de conseguir sentir, brevemente, tudo aquilo que se passou naqueles últimos segundos no topo do edifício.
 
Muito pouco provável que um dia eu tenha uma resposta certa para isso. Apesar das teorias psicológias, dos quadros de desamparo, das patologias identificadas, para mim é difícil pensar que podemos generalizar um sentimento de total agonia pela vida que brota em uma pessoa. Colocar todo esse sofrimento dentro de rótulos e organizá-los em prateleiras é desrespeitar toda e qualquer representatividade que esses sofrimentos tenham tido para essas pessoas. É trazer a tona um rótulo de fraqueza de uma pessoa em relação a um sentimento, que na verdade não existiu. O que existiu muitas vezes foi simplesmente a escolha da pessoa de, simplesmente não querer sofrer mais. É muitas vezes a pessoa tomando a frente de uma vida da qual já não era protagonista a muito tempo. É uma escolha, e não uma consequência de uma fraqueza.
 
A intenção não é trazer respostas, mas por para fora reflexões. Não é decifrar, mas...uma pergunta volta a cabeça:
 
O que leva uma pessoa a dar aquele último passo?
 
O que respondemos então?