terça-feira, 19 de junho de 2012

Insubmissão, sentimento e política

Como venho martelando continuamente em meus últimos devaneios, o que tem me incomodado, pelos mais diversos motivos, tem sido a criação de paradigmas sobre a realidade. Dito de outro modo, a instauração de verdades absolutas que deixamos nos guiar cotidianamente sem questionar os seus motivos. Mas se não há a verdade a ser seguida, o que seguiremos? Se a ciência não dá conta da realidade, qual outro método usamos? Em suma: posto tudo isso, o que deve ser feito? Afinal, apontar os erros e desconstruir o dado é mais fácil quando não há preocupação em descobrir alternativas.

Bom, partindo da premissa já discutida de que toda ordem é em si delimitadora da multiplicidade do mundo real, ou seja, a fantasia de uma lógica própria da funcionalidade do mundo que inexiste na prática, trago a minha solução apologética: nada mais óbvio para se combater o rancor da racionalidade da teoria e a ciência do que o sentimento expresso pela arte ou mesmo o afeto. 

Isso mesmo, o sentimento (mas sem pieguismo) me parece a linha de fuga fundamental para se quebrar esse ciclo vicioso do pragmatismo e da funcionalidade perpetuada por milênios e fortificada nos últimos séculos. 


A lógica perversa da dialética finita, isto é que tem uma síntese a ser alcançada, precisa ser superada através da constatação óbvia de que a dialética que move o mundo é permanente, plural e múltipla. É preciso perceber que enquanto buscarmos um sistema que se resolva em si, enquanto buscarmos a solução final para as linhas da vida continuaremos retendo, delimitando, enquadrando e violentando o mundo de possibilidades e experiências a serem descobertas e reinventadas.


Em outras palavras, o que defendo aqui como compromisso político é a insubmissão. 


Veja bem, como insubmissão não considero aqui a reação já que essa implicaria, em contrapartida, uma opinião formada que vai em direção oposta a estabelecida. A insubmissão, pelo contrário, pressupõe que não há uma direção a ser tomada a não ser a indiferença frente aquilo que é estabelecido. É simplesmente ignorar os caminhos apontados pela razão e seguir as linhas de fugas possíveis. É estar comprometido com a defesa da multiplicidade e contra tudo aquilo que estabeleça um poder (centralizado ou não). É contribuir para a criação de formas de escape a ordem. 

É assim que chego ao sentimento como fonte de insubmissão: diferentemente da racionalidade funcionalista e pragmática, que age de maneira violenta e coercitiva, é o sentimento aquele que deve ser enfatizado em prol de uma maior compreensão do experienciado. Criar novas sensações e não as reproduzir. Libertar a potência sentimental do ser humano aprisionada pelo raciocínio lógico: ao invés de reconhecer e sistematizar o que é sentido é preciso apenas sentir. 

Basta ao culto dos grandes pensadores: é preciso valorizar os grandes sentidores.