terça-feira, 11 de agosto de 2009

O trabalho em nossas terras

Boa noite, assíduos e amáveis leitores.

O Beco Livre hoje retorna à sua atividade, com algumas mudanças: escalas diárias de temas estão abolidas. Teremos temas mensais que servirão de base para discussões entre as postagens dos integrantes, com a colaboração dos visitantes. Pedimos, portanto, que comentem sempre. Decidimos começar com um tema relacionado com a vida cotidiana de todos nós: o trabalho. Longe de querer definir o que é trabalho, comecemos com uma breve retomada histórica deste tema tão abrangente.

Ora, é sabido que nós, latino-americanos, vivemos uma história de dependência desde as colonizações, que alteraram o caráter do trabalho aqui então existente. Os povos pré-colombianos – desde os mais “primitivos” até os grandes impérios (Incas, Maias, Astecas) – desconheciam a moeda e o salário. Mesmo nos povos onde existia a escravidão, não se tinha um regime de trabalho sistemático e exploratório como o que foi implementado posteriormente. No império inca, por exemplo, a propriedade da terra era coletiva, e a produção era destinada ao Estado teocrático, que distribuía os alimentos pela vasta população.

Com a chegada dos portugueses e espanhóis, os povos nativos foram praticamente dizimados e os sobreviventes foram escravizados ou marginalizados. A Conquista, e sua concepção mercantilista, integrou o Novo Mundo na nascente Divisão Internacional do Trabalho. E da pior forma possível: através da exploração escravista de negros e indígenas, fomos literalmente saqueados. As diversas regiões de produção converteram-se em latifúndios, que serviam apenas ao mercado externo, e a riqueza mineral saía de nossa terra para fazer escala na península ibérica e enriquecer a Inglaterra. Nosso ouro e nossa prata, aliás, foram os financiadores da Revolução Industrial.

Os séculos passaram: a burguesia cresceu, tivemos a explosão do pensamento iluminista na Europa, as revoluções liberais, a ascensão da democracia burguesa, as independências e repúblicas nas colônias, a tardia – e ainda atrasada – industrialização da América Latina, etc. Enfim, chegamos aos nossos dias. Caro leitor, reflita comigo nesta indagação: nosso papel na Divisão Internacional do Trabalho mudou?

Antes, quando colônias, tivemos nossa terra divida de forma desigual; com plantações que atendessem mais ao mercado externo que interno; com trabalho explorado na cidade e muito explorado no campo. Ora, nossa função de colônia era alimentar o capitalismo internacional com nossos minérios e alimentos que saíam daqui a preços ridículos, enquanto nos víamos dependentes dos países mais ricos da Europa ocidental. Estes nos vendiam a preços absurdos inúmeros produtos que não podiam ser produzidos aqui, porque nossas terras estavam submetidas a interesses estranhos.

Repito a pergunta: mudou nosso papel na Divisão Internacional do Trabalho? Somos menos dependentes que antes? Somos menos explorados que antes? Acabou a exploração no campo e nas minas? Se não acabou, quem está ganhando as custas dos camponeses e mineradores? A situação é reversível?

Agradeço vossa atenção.
Casmurro



“A Divisão Internacional do Trabalho consiste em que uns países se especializam em ganhar e outros em perder” (Eduardo Galeano)