quarta-feira, 29 de abril de 2009

Machado de Assis e a Poesia

Boa noite, amáveis leitores.

Inicialmente, peço que me perdoem por saudação tão falsa. É errôneo denominá-los "amáveis", uma vez que o objetivo do blog que vos é exposto é justamente a polêmica, quando sadia e impessoal. No entanto, a falsidade vem permeando os últimos dias de minha simplória vida, e acredito que fui levemente contaminado. Exatamente o contrário da famosa "gripe suína", cujo contágio não pode ser caracterizado como leve e cujas novidades vêm se constituindo assunto quase único nos veículos comunicativos, dividindo seu espaço na imprensa apenas com o último gol de Ronaldo, que já causa-me enjôo.

Após introdução não tão breve e pouco necessária, vamos ao assunto do dia: literatura.

É quase unânime a opinião de que Machado de Assis é o maior escritor da história de nosso país, e não hesito em fazer tal afirmação (aguardo críticas nos comentários). Admiro, quase tão intensamente, Drummond, Graciliano Ramos, João Cabral de Mello Neto, Oswald de Andrade e tantos outros. Mas Machado de Assis possuí uma escrita incomum, simultaneamente clara e profunda; uma forma de dialogar com o leitor que torna suas obras instigantes do início ao fim; uma capacidade extracomunal de tratar psicologicamente seus personagens, de forma tão complexa quanto realista (sobretudo no período em que se identificou com a escola literária que leva tal nome); um olhar magistral sobre o contexto sócio-histórico em que se passa a trama, presenteando o leitor com reflexões conjunturais quase que sociológicas; possui, por fim, uma sensibilidade incrível para, nos momentos exatos, trazer digressões fenomenais que, ao mesmo tempo, auxiliam na interpretação interna da própria obra e propiciam ao leitor reflexões às suas próprias vidas. Inegavelmente, trata-se de um escritor cuja genialidade ainda está por ser superada.

No entanto, o que pouco se fala sobre ele é sua produção poética. Principalmente em sua fase romântica, Machado escreveu, sim, poesias, que raramente nos são ensinadas no Ensino Médio, e, pouco provavelmente, na graduação (excedendo-se àqueles que se dedicam ao estudo da liguagem; mais precisamente, à literatura). Sabemos que a poesia machadiana não é tão brilhante quanto sua narração. Não deixa de conter, todavia, a presença incomum da beleza literária do autor. Por isso, trago-lhes alguns versos, visando adocicar vossa semana.



Os Dois Horizontes (Machado de Assis)

Dois horizonte fecham nossa vida:

Um horizonte, – a saudade
Do que não há de voltar;
Outro horizonte, – a esperança
Dos tempos que hão de chegar;
No presente, – sempre escuro, -
Vive a alma ambiciosa
Na ilusão voluptuosa
Do passado e do futuro.

Os doces brincos da infância
Sob as asas maternais,
O vôo das andorinhas,
A onda viva e os rosais.
O gozo do amor, sonhado
Num olhar profundo e ardente,
Tal é na hora presente
O horizonte do passado.

Ou ambição de grandeza
Que no espírito calou,
Desejo de amor sincero
Que o coração não gozou;
Ou um viver calmo e puro
À alma convalescente,
Tal é na hora presente
O horizonte do futuro.

No breve correr dos dias
Sob o azul do céu, – tais são
Limites no mar da vida:
Saudade ou aspiração;
Ao nosso espírito ardente,
Na avidez do bem sonhado,
Nunca o presente é passado,
Nunca o futuro é presente.

Que cismas, homem? – Perdido
No mar das recordações,
Escuto um eco sentido
Das passadas ilusões.
Que buscas, homem? – Procuro,
Através da imensidade,
Ler a doce realidade
Das ilusões do futuro.

Dois horizontes fecham nossa vida.



Por hoje, encerro. Sintam-se à vontade para comentar.

Um abraço,

Bentinho

terça-feira, 28 de abril de 2009

VIRADA CULTURAL

Oi Pessoal!!

Hoje é terça, o que significa que tradicionalmente seria dia de falar sobre educação no Beco...

Mas, estou em outro espírito (o de bohemia, creio eu) e então resolvi pedir emprestado um texto do meu querido amigo Pimba.... Segue:

"Uma cidade de negócios, que não corre, voa... uma cidade que te engole, que é tomada pelo caos do transito... onde engravatados e esfarrapados se misturam na muvuca da avenida, e alí todos são invisíveis; cada um cada um.. cada qual cada qual, e foda-se o resto.
A cidade de concreto, em que o "bom dia" do elevador é o máximo de calor humano que se espera e que é permitido, de repente é tomada por uma tempestade de interações e sensações.
Pois sim, torna-se palco da Virada Cultural. É a mágica da arte, que tem o poder de juntar, divertir, conscientizar, libertar as pessoas...
É nesse clima que a cidade se São Paulo passa o fim de semana do dia 2 e 3 de Maio. Com uma programação variada, reuni diversas tribos, todos pocurando e compartilhando diversão, arte e cultura.
Há 5 anos isso acontece, e apesar de confusões (as que acontecem em todos lugares que juntam muita gente!), a Virada continua aí, firme e forte, crescendo cada vez mais.
Democrática, pacífica e humana, São Paulo pode se orgulhar desse grandioso evento, que a cada edição conquista mais e mais adeptos . Programe-se.
Quem sabe não mudamos essa cara da cidade?"



Uma baita oportunidade de conhecer artistas novos, presenciar os já consagrados, entrar em contato com pessoas legais, conhecer novas faces da cultura brasileira, etc, etc, etc. , sem falar em todas as sensações que a arte pode causar!

Vamos???

Um Beijo!
Colombina

segunda-feira, 27 de abril de 2009

La Lengua de las Mariposas

Saudações Pessoas!

O filme que indico hoje é: 'A língua das Mariposas'

La lengua de las mariposas
1999, Cor, 96 min
Direção José Luis Cuerda
Gênero Drama
Idioma Espanhol


O drama se passa em grande parte pela ótica de um garoto de 7 anos que vai descobrindo a vida fora de casa:
- A primeira vez na escola, o medo perante o professor e a vergonha dos colegas.
- Observando como se davam os relacionamento entre os casais mais velhos, busca também pra si uma paixão.
- O desenvolvimento de uma grande amizade com o professor que o ajuda em suas dúvidas sobre morte, amor e educação.
- O gosto pela música e o aprendizado de tocar bateria para a banda da cidade.

Tudo isso acontece porém, na Espanha dos anos 30, e sem entender muito bem o que acontecia vai observando e tecendo sua própria interpretação perante os fatos: de um lado as pessoas importantes da cidade, como o clero e os comerciantes, que apoiavam declaradamente um Nacionalismo tendo como referência a Itália e a Alemanha.
De outro lado pessoas próximas, como o professor e o pai, que defendiam mais justiça social e tinham como referência o tão subversivo Comunismo.

Isso tudo debatido abertamente, nas ruas e mesas de bar, até ser dado o estopim da Guerra Civil Espanhola e tudo mudar: começa uma perseguição em massa dos comunistas onde um deles assume seu posicionamento de esquerda perante a guerra e outro se esconde afirmando ser nacionalista.
O menino então se encontra em extrema dúvida em que posição assumir e não falarei mais pra não estragar o filme.

Fica o trailer (que não é grande coisa):


Nada mais justo terminar essa publicação com uma frase de um cara que lutou nessa guerra (do lado dos comunistas, claro):

"Se você quer uma imagem do futuro, imagine uma bota prensando um rosto humano para sempre"
(George Orwell)

quarta-feira, 22 de abril de 2009

O Verão é a Capa dos Pobres

As significações da literatura são muitas.

Proposições estéticas variadas com os mais diversos intuitos e finalidades...

isso quando há finalidades.

Posto isso, devaneio inútil, vamos à um texto, sucinto....prometo.


"Almocei na fronteira do ar livre, rente a uma janela aberta. Era já o meio da tarde, e o restaurante estava deserto: o sol prendera-me na praia, envolvera-me de torpor, e entre o banho e a areia se tinham escoado as horas. É uma sensação agradável esta de ter o corpo um pouco áspero de sal, a antegozar o duche que nos espera em casa. E enquanto a costeleta de vitela não vem, vai-se beberricando o vinho fresco e estendendo a manteiga em bocadinhos de pão torrado, para enganar a fome subitamente acordada. Vida boa.

O momento é tão perfeito que podemos falar de coisas importantes sem que as vozes tenham de subir, e nenhum de nós pensa em ganhar no diálogo e ter mais razão do que a pode ter um comum ser humano que respeite a verdade. Além disso, é verão e, como eu disse, estamos na fronteira do ar livre. A aragem faz estremecer umas plantas cheirosas a que podemos chegar com os dedos e em volta das quais zumbem os insectos do tempo. Quebrada pela folhagem, há uma réstia de sol que se derrama pelas madeiras envernizadas da janela. Vida boa.

Temos a pele doirada e sorrimos muito. No interior do restaurante levanta-se uma grande labareda: é a cozinha que oferece os seus mistérios. Logo a seguir o empregado traz a costeleta, rescendente no seu molho natural, e nós infringimos as mais comezinhas regras da gastronomia mandando adiantar-se mais vinho branco. E ela vem, a garrafa, com a sua transpiração gelada e o truque mágico de embaciar os copos que a recebem. Ah, vida boa, vida boa.

Estamos agora calados, absorvidos na delicada operação de separar a carne do osso. Sob o gume da faca as fibras macias separam-se sem custo. O molho penetra nelas, aviva-lhes o sabor-oh, que bom é comer assim, depois de um ardente dia de praia, no restaurante de janelas abertas, com perfumes de flores e este cheiro maior do verão.

Voltamos a conversar, dizemos coisas vagas e lentas, inteligentes, numa plenitude de bem-aventurados. O sol, que desceu um pouco mais, desliza nos copos, acende fogos no vidro e dá ao vinho uma transparência de fonte viva. Sentimo-nos bem, com o restaurante só para nós, rodeados de madeiras fulvas e toalhas coloridas.

É nesta altura que se dá o eclipse. Uma sombra interpõe-se entre nós e o mundo exterior. O sol afasta-se da mesa violentamente, e a mão de um homem passa a moldura da janela, avança e fica imóvel por cima da mesa - de palma para cima. O gesto é simples e não traz palavras a acompanhá-lo. Apenas a mão estendida, à espera, pairando como uma ave morta sobre os restos do almoço.

Ninguém fala. A mão recolhe-se apertando a esmola, e, sem agradecer, o homem afasta-se. Entreolhamo-nos devagar, com os lábios deliberadamente cerrados. De repente, tudo sabe a inútil e a cobardia. Depois, com mil cautelas, pegamos no carvão em brasa. Se não estivéssemos a almoçar, teríamos dado a esmola? E que teria acontecido se a recusássemos? Sentiríamos depois mais remorsos que de costume? Ou houve simplesmente o medo de que a mão seca e escura descesse como um milhafre sobre a mesa e arrancasse a toalha, no meio do estilhaçar dos vidros e das louças, num interminável e definitivo terramoto?"

José Saramago - A Bagagem do Viajante.



Este breve conto é um exemplo da delicadeza com que o autor se vale para tratar de temas tão densos.

A aprecisação de um bom vinho...
Boa comida...
Boa culinária...
Boa conversa...
Boas companhias...

Que o mundo se exploda?!

Quando menos esperamos, o mundo bate à porta, ou melhor, põe a mão sob a sua mesa.
Estraga seu jantar, sua comida, sua conversa.

Faz você lembrar de um mundo que até então havia esquecido, não visto...um mundo que preferia não enxergar.

O mundo nos mostra a cara e de repente o condenamos por ele ser o que ele é, quando ele só é um resultado daquilo que somos...e sendo assim, colocamos em cheque a única 'função' da realidade, que é simplesmente ser...

Este ser da realidade que nos incomoda....preferiríamos fazer parte de um outro ser...um ser que não é real...
um ser que construímos em um belo jantar, com uma bela comida, com boas companhias....

E que por favor a realidade não bata à porta nestas breves construções estéticas do meu próprio ser!

terça-feira, 21 de abril de 2009

Educação e Inconfidência Mineira

Boa noite, caro leitor.

Hoje o Brasil inteiro não trabalha (ou pelo menos, deveria não trabalhar). Não, isso não é culpa da crise que gera milhões de desempregados. E também não é final de copa do mundo, nem feriado religioso. O que comemoramos hoje é a Inconfidência Mineira.

Resumindo o que a maioria das pessoas aprende no colégio: um grupo de pessoas, na cidade de Vila Rica, inspiradas pelos ideais vindos da Europa, planejava uma insurreição que libertasse o Brasil da Coroa Portuguesa, constituindo-se uma primeira movimentação favorável à independência.

No entanto, a interpretação costumeira dos fatos costuma ser equivocada. Primeiro, não havia um sentimento de unidade nacional, ou seja, os conspiradores não planejavam libertar a nação, mas sim a própria capitania. Em segundo lugar, os descontentamentos com a Coroa não eram tão político-sociais quanto econômicos: os realizadores eram pessoas ligadas às grandes propriedades de terra que estavam descontentes com os tributos exigidos pela Metrópole e o intervencionismo do governo português na conduta econômica. Além disso, pela própria origem dos "revolucionários", não se tinha um projeto de libertação dos escravos.

O lema da revolução Libertas Quæ Sera Tamen (Liberdade ainda que tardia) era uma alusão apenas a uma liberdade política e econômica para que os fazendeiros lucrassem mais e tivessem maior influência. Não era um movimento de caráter popular, nem ao menos se almejava maior participação política das classes subalternas.

Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, o qual nem se sabe se foi um líder real da conspiração ou um mero "bode espiatório", foi transformado em herói nacional no Brasil republicano. Transformou-se numa figura que liga o povo brasileiro ao ideário da liberdade e fortalece a identidade nacional, como se constituíssimos uma nação realmente livre e soberana. Como se seu povo tivesse alcançado a liberdade.

Infelizmente, até hoje a educação nacional carrega consigo uma certa idolatria à figura de Tiradentes e transmite uma sensação de heroísmo dos inconfidentes. É evidente que nada disso é inocente. Deixo para os leitores adicionarem mais curiosidades e desmistificações do movimento, bem como debaterem acerca da necessidade que se tem de se promover, falsamente, figuras como Tiradentes que se transformam em heróis nacionais que nunca foram.

Um abraço a todos,

Bentinho.



Ao som de: Maria Rita - A Festa
(plagiando o hábito de meu amigo Snoopy)

segunda-feira, 20 de abril de 2009


Seguindo o espírito de "dois pra lá, dois pra cá" também é meu primeiro post do ano!

Tudo bem que eu estava mais para lá do que para cá, mas agora que tudo voltou ao normal... fico contente em estar de voltar ao blog que está com ambiente novo, novas cores, novos posts, novos comentadores etc etc etc


Falando em novo, saiu a lista dos ' DEZ MELHORES FILMES QUE VOCÊ NÃO PODE PERDER EM 2009 '. Aqui está:

1 - Harry Potte e o Enigma do Príncipe

2 - X-Men Origins: Wolverine

3 - Transformers: A vingança dos derrotados

4 - Anjos e Demônios

5 - O exterminador do futuro - A salvação

6 - Star Trek

7 - The Spirit - O Filme

8 - A troca

9 - Dragonball

10 - A Era do Gelo 3


Olhando bem para esta lista, tirando " Anjos e Demônios " (e olhe lá, porque se seguir a mesma linha que ' O Código da Vinci ' será apenas mais um suspense envolvendo secundariamente idéias sobre religião e crença) nenhum dos demais filmes desperta algum espírito crítico no telespectador!

Tudo bem, concordo que a gente não precisa criticar tudo o tempo inteiro; que muitas vezes as pessoas vão ao cinema para esquecerem o mundo lá fora...pra dar risada, chorar, vibrar etc porque é realmente um dos únicos momentos de lazer. Porém, de DEZ filmes, NOVE não tratarem de temas criticos???
A gente pode até achar coisas para discutir com base nesses filmes, lições de vida interessantes e tudo mais... mas mesmo assim, é algo muito indireto e superficial. Isso me faz pensar que o cinema como ferramenta de transformação tem sua área de atuação muito restrita no Brasil: poucos cinemas exibem filmes e documentários não norte-americanos estilo hollywoodianos; e poucas pessoas vão assistir tais exibições.

Isso me entristece muito, porque os sucessos de bilheteria sempre são aquelas mega produções que gastam milhões em efeitos especiais e animação gráfica, que cada cena exibida é perfeita; mas que na verdade não acrescentam nada a quem está assistindo. Na verdade idealizam um estilo de vida e um padrão estético que faz as pessoas saírem da sala de cinema pensando: "nossa, como eu queria ser assim ou ter aquilo"... enquanto a situação do "mundo real" só piora cada vez mais.

Talvez seja ingenuidade minha, mas filmes/documentários/curtas têm muito poder de transformação do pensamento! Não tem como você sentar e assistir um documentário sobre infância - que mostra uma menininha bonitinha que faz balé, natação, ingles e tudo mais, dizer que já se "considera adulta" e do outro lado ver um menininho da mesma idade que ela quebrando pedra pra ganhar uma miséria e conseguir ajudar a mãe, dizendo que ainda se considera criança * - e não parar para refletir sobre aquilo, não querer ajudar, fazer a sua parte!!!

Enfim, esse post soou mais como um desabafo. Mas gostaria que você, leitor, ajudasse a disseminar meios alternativos de cinema, porque nós precisamos sim de filmes divertidos e cheios de aventura, ou de romances e assassinatos! Mas não só isso, e não apenas os produzidos por um lugar X do planeta que detém esse monópolio (entre muitos outros rsrs).
O CINEMA É UM MEIO DE TRANSFORMAÇÃO ou de ao menos suscitar um desejo pela transformação, e precisamos aproveitar isso em favor da humanidade.
Mas não percam as estréias dos DEZ melhores hein!

Gracias!


* O documentário citado é "A invenção da infância" de 2000, por Liliana Sulzbach.
Olá Olá sras. e srs. do Beco.

Ok ok, esse é o meu primeiro post do ano. Por que não?

Bem, meio ambiente é um tema complicado. Na verdade, em um primeiro momento ele é bem simples: "salvem o meio ambiente". Ok. Salvem.

sujeito oculto: 2ª pessoa do plural: vós, vocês.

Nós acreditamos que é preciso cuidar do meio-ambiente, manter as águas despoluídas, as matas verdes, e os bichinhos da floresta vivos. Entretanto, estou convicta que não temos a real dimensão dos esforços que isso demanda. Nós apoiamos as causas, mas o que fazemos DE FATO por elas?

Nós vivemos no lixo. Hoje, o que possuímos detém significado por que é nosso. Tentem comprar um carro. 1 ano de uso o carro já desvaloriza absurdamente. Reformar a casa. Aquela mesa que você pagou em 212 vezes no boleto não vale mais nada, no máximo vc vai colocar um cartaz no IFCH para vendê-la por 150 reais. Negociáveis.

Conversando em uma aula uma colega me disse "mas nós temos tanta coisa pra fazer! estudar, trabalhar, ganhar dinheiro, sustentar a casa no futuro, casar... A vida nos leva numa velocidade absurda, não temos muito tempo pra pensar em outras coisas". Sabe, achei isso tão cliché, e tão verdadeiro.

Fechar a torneira, separar o lixo é "fazer a sua parte", mas no momento, fazer apenas a nossa parte é muito pouco! E isso me irrita muito no mundo. A Amazônia está tão longe, que não me importo. Aquele derramamento de óleo, aqela reserva indígena ameaçada, aquela sociedade protetora de animais em Americana (que é aqui do lado) em que todos os animais estavam doentes e mal cuidados é longe demais. Tudo é longe demais. Nossa preguiça vai longe demais.

Nesses momentos tenho um pouco de vergonha de existir. Nossa existência, hoje, está voltada para trabalhar, obter dinheiro. O resto é resto. Não pensamos mais. Não pensamos mais se isso ou aquilo realmente importa. O homo sapiens virou homo inércia. Simples assim.

Vou viver a minha vida. Alguém vai se preocupar com o meio ambiente. E então eu vou comprar os produtos dele. Afinal, salvar o meio ambiente, hoje, não é mera responsabilidade social, é um nicho de mercado! .

Salvem o meio ambiente.

Salvem.

Vocês.

domingo, 19 de abril de 2009

Não-roubo?

Era uma vez uma casa muito engraçada.
Tal casa alocava-se em uma via escura de um bairro que remetia mais a um feudo.
Nessa casa moravam cinco rapazotes que se destacavam por sua malemolência típica dos povos tropicais. Porém eram determinados em sua vida acadêmica (tá, nem todos) e suavam para ter e compartilhar uma renda monetária entre os demais e assim fazer daquele local o menos miserável possível (a não ser pela limpeza, que era algo secundário).
Um belo dia, logo após a páscoa, três deste rapazotes voltavam fatigados de mais um dia de labuta e após subir a dura rampa que os leva pra casa deslumbravam vagamente a possibilidade de descanço.
Chegando lá, como já estavam em atraso com o alto aluguel, se deslocaram até a surrada porém charmosa caixinha donde juntavam seus míseros trocados e, para surpresa de todos, estava vazia!

Não é possível! - exclamava um.
Deve ser brincadeira! - exclamava outro.
Mundo mundo, vasto mundo! - recitava ainda o outro.

Fato é que tal humilde residência fora roubada, e os cinco rapazotes ficaram com uma casa nada engraçada, sem mesa, sem dvd, sem dinheiro nem nada.


Saudações Pessoas!

Tal história se repete todos os dias.
Normalmente é com o vizinho ou com a mulher que chora na televisão, você fica chocado por alguns segundos depois muda de canal e termina seu miojo.
Mas quando acontece com você, primeiro vem a revolta e depois os questionamentos.
Você queria por que queria que a policia tivesse ali e prendesse o maldito.
Você queria ver o rosto do cara e queria ter suas coisas de volta.
Mas você sabe que o cara que roubou provavelmente tá mais na merda que você.
Sabe que o cara roubou porque naquela escura rua só tem gente surfando em dinheiro e pensa que você é um deles.
Sabe que isso não é uma escolha de vida, como muitos afirmam, mas que o cara foi/é coagido a fazer isso.

Enfim, como o tema é livre e o dia ja ta acabando, é isso que tenho em mente e compartilho com vocês.

"A propriedade é um roubo; portanto, não sou ladrão."
(Gino Amleto Meneghetti)

quarta-feira, 15 de abril de 2009

E o convidado(a) do dia é...

Como este é um ambiente livre...
estou cedendo meu espaço ao pedido de postagem de uma pessoa que já nos acompanha faz algum tempo: Amelie Poulain

Dou às boas vindas em nome de todos, e segue o texto da nossa companheira:


O Oscar e o melhor filme




Sempre que um filme é indicado ao Oscar, por qualquer categoria que seja, surge um burburinho padrão: aquelas letras cintilantes são impressas na capa do dvd; páginas dedicadas em jornais, revistas, sites; comentários em quase todos os programas de tv; e, assim, o respeito pela obra cresce, algumas vezes, inclusive, de forma nem tão justa... Quando o filme é premiado então, temos tudo isso é exacerbado, com o toque especial das críticas, especializadas ou não.

Como boa cinéfila, acompanho as notícias de produção, estréias, e, é claro, tudo que envolve o Oscar, o Festival de Veneza, Berlim, tudo o que permeia o maravilhoso mundo da sétima arte. Esse ano, porém, procurei desenvolver uma técnica diferente, não li as críticas, não assisti às produções, e, após o Oscar, assisti, em “doses homeopáticas” alguns dos filmes que se destacaram na premiação (o que continuo fazendo desde então).

Vez ou outra discordo dos membros da Academia (que, sinceramente, me assombram! Os imagino como dinossauros com um poder assustador nas mãos...), mas, confesso, este ano o prêmio de melhor filme foi impecável!

Quem quer ser um milionário?” já merece o prêmio, de acordo com minha humilde opinião:

- primeiro por não ser um filme americano (sem preconceitos, mas por fugir do circuito “hollywoodiano” dos grandes atores e dos grandes orçamentos);

- segundo por não relatar histórias do holocausto, o que já se tornou padrão entre os prêmios e, digo mais, não conscientiza muitos dos preconceituosos que ainda existem, infelizmente;

- e, terceiro, por tudo o que o filme é, o elenco, a trilha sonora, a fotografia, tudo é de absoluta qualidade.

O filme é engraçado, emocionante, parte do pressuposto do menino pobre que conhece o inferno e a injustiça desde muito cedo - muito comum, mas o roteiro o torna excepcional, a trama de construção da história é o que o faz merecedor do prêmio de melhor filme.

E, o melhor, mostra a Índia que os “Caminhos da Índia” ocultaram até então, e as verdadeiras histórias além do Taj Mahal... Simplesmente, assistam!

Amelie Poulain

terça-feira, 14 de abril de 2009

Educação

Boa tarde! Li um texto há alguns dias que falava sobre a educação e o desenvolvimento social do Brasil e achei interessantes algumas idéias do texto. Por isso, caros leitores, como o tema de terça-feira do Beco é EDUCAÇÃO, resolvi colocar aqui o que vi de mais chamativo.
O principal ideal liberal de educação é o de que a escola não deveria estar de serviço a nenhuma classe específica, ou seja, ela não deveria estar vinculada a interesses econômicos, políticos ou religiosos. A educação deveria estar a serviço do individuo enquanto ser social e não diferenciar as pessoas por causa da aristocracia ou de suas posses.
A partir disso, pode-se dizer que o liberalismo, em regra, acreditava que as vocações, ou talentos individuais (que seria a realização individual para a construção do progresso do todo, geral) era o que possibilitava que o indivíduo ocupasse uma posição na sociedade, ou seja, seus dotes inatos e sua motivação para o aperfeiçoamento permitiam que ele fizesse parte da estrutura social. A educação liberal trata, de acordo com aquele texto, os alunos de forma igual, pretendendo contribuir para que haja justiça social e, a sociedade seria hierarquizada com base nos méritos individuais, por isso, pode-se dizer que a posição que um indivíduo ocupa na sociedade está ligada à educação e à instrução que recebeu e não à família onde nasceu ou à fortuna que possui.
John Locke pensava que a diferença entre os homens se dava pela educação e, por isso ele foi um importante doutrinador da escola anticlassista, apesar de ser contra a universalização da educação, uma vez que ele acreditava que a ordem social já estava previamente estabelecida, o que já dividia os ricos e os pobres, definindo o tipo de instrução que estes deveriam ter.
Rousseau, que era idealista no campo da educação, por acreditar que ela deveria formar um indivíduo pleno, em sua totalidade, independente de sua função na sociedade, teve importantes seguidores nesse campo. Porém, ele tinha uma idéia bastante elitista da educação e concentrava suas teorias num tipo ideal, que era rico o suficiente para custear um mestre, esquecendo-se da educação das massas.
Voltaire já era um defensor da discriminação social, pois ele dizia ter medo da universalização da instrução e, mais do que isso, ele acreditava que educar toda a massa era uma total perda de tempo. Isso se dava porque ele receava o esclarecimento popular, pois ameaçaria a burguesia, porque ocorreria a minimização das desigualdades entre as classes.
Diderot, apesar de fazer parte do mesmo grupo de teóricos de Voltaire, pensava diferente deste, incentivando a instrução das massas. Ele chegou a sugerir a criação de uma universidade.
Condorcet propunha soluções práticas, com base em um sistema de ensino que fosse capaz de estabelecer a igualdade de oportunidades. Mas ele também alegava que não era suficiente que o Estado respeitasse os direitos naturais do homem, ele deveria, além disso, assegurar o gozo dos direitos pelos cidadãos, o que significava também, intervir na supressão das desigualdades sociais – que para ele eram: a desigualdade de riqueza, de profissão e de instrução. Segundo Condorcet, só com a educação é que seria possível eliminar o despotismo sobre as pessoas. Dessa forma, ele diz que toda criança deve poder usufruir do seu direito de saber. Ele também afirma que ser independente não é apenas ser capaz de suprir suas necessidades próprias, mas também ser capaz de exercer por si mesmo os direitos garantidos por lei, sendo assim, independente politicamente. A partir disso ele defende que a educação só é emancipadora na medida em que confere às crianças os conhecimentos que tornarão possíveis que se bastem materialmente, politicamente e moralmente. Também por isso, o Estado deferia instruir as pessoas, ensinando apenas as ciências positivas, respeitando a liberdade de crenças e de opiniões. A obrigação de educar os filhos no sentido moral, filosófico e religioso seria dos pais e dos padres.
Coloco aqui uma discussão particular com relação a Karl Marx: ele, assim como os liberais, defendia a “educação para todos”. Mas acho interessante ressaltar que, embora defendessem o mesmo fim, as premissas eram outras, ou seja, enquanto para Marx, a educação para todos estava ligada ao princípio da igualdade entre os indivíduos, para os liberais o princípio que regia este pensamento era o da liberdade, explicando, para eles as escolhas livres determinavam o papel de cada um na sociedade, uma vez que todos os seres humanos partiam da mesma situação originária.
Achei interessante dar um panorama geral e deixar o Beco aberto às discussões sobre o tema. Como está a nossa educação hoje!? Se ela não é para todos, onde estão os ideais?! A educação que existe é emancipadora!?

TEXTO: CUNHA, Luiz Antonio. Educação e Desenvolvimento Social no Brasil. F. Alves: Rio de Janeiro, 1979. O papel social da educação.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

"Eu sou Colombina, eu sou Pierrot!"

Oi amigos e leitores!

Primeiramente tenho que pedir desculpas porque esse posto deveria ter vindo ao ar ontem, e não veio.

Um pedido de desculpa especial a minha querida Psiquê, pois estou invadindo o dia de post dela!

Como domingo é dia de tema livre e o post era de domingo, resolvi contar a história da minha própria personagem...

A história de Pierrot, Colombina e Arlequim foi criada pela Comédia Dell’arte, surgida na Idade Média na Europa.
Essa e outras histórias faziam parte de um tipo de teatro popular, sem teto fixo, que acontecia em pequenos palcos na rua.

Pierrot um padeiro, era ingênuo, romântico, um clássico sonhador! Ele era apaixonado por uma dama de companhia da corte que se chamava Colombina. Esta era bela, inteligente, irônica e metida em fofocas, tinha seus setimentos divididos entre o sonhador Pierrot e malandro Arlequim. Arlequim é preguiçoso, espertalhão e namoradeiro.

O trio permanece até hoje, sendo lembrado nos carnavais.

(informações tiradas da internet por ai..)

Noite dos mascarados - Chico Buarque de Holanda 1966

Quem é você, adivinha se gosta de mim
Hoje os dois mascarados procuram os seus namorados perguntando assim
Quem é você, diga logo que eu quero saber o seu jogo
Que eu quero morrer no seu bloco, que eu quero me arder no seu fogo
Eu sou seresteiro, poeta e cantor
O meu tempo inteiro só zombo do amor
Eu tenho um pandeiro, só quero um violão
Eu nado em dinheiro, não tenho um tostão
Fui porta-estandarte, não sei mais dançar
Eu, modéstia à parte, nasci prá sambar
Eu sou tão menina, meu tempo passou
Eu sou colombina, eu sou pierrô
Mas é carnaval, não me diga mais quem é você
Amanhã tudo volta ao normal, deixa a festa acabar, deixa o barco correr
Deixa o dia raiar que hoje eu sou da maneira que vo...cê me quer
O que você pedir eu lhe dou, seja você quem for
Seja o Deus quiser.

Pierrot - Los Hermanos

O Pierrot apaixonado chora pelo amor da Colombina
E é sua sina chorar na ilusão em vão, em vão
E a Colombina só quer um amor
Que não encontra num braço qualquer
Essa menina não quer mais saber de mal-me-quer
Só do Pierrot, Pierrot, Pierrot, Pierrot...
E o Pierrot apaixonado chora pelo amor da Colombina
E na esquina se mata a beber pra esquecer, pra esquecer
E o Pierrot só queria amar
E dar um basta a esta dor já sem fim
Mas Colombina trocou seu amor por Arlequim
E o Pierrot, chora!
Pierrot, chora!
Pierrot, chora!
Pierrot, chora...

Colombina - Ed Motta
Se você voltar pra mim,
Juro para sempre ser arlequim
E brincar o carnaval
Viver uma fantasia real
Sou um triste pierrot mal-amado
Mestre-sala desacompanhado
Um bufão no salão a cantar..
.Colombina, hey!
Seja minha menina, só minha
Bailarina, hey!
Mandarina da China, rainha
Quero ser seu rei!
Um rei momo, sem dono, sem trono
Abram alas pro amor!
Minha vida sem você
É uma canção de amor tão clichê
O meu "bem-me-quer" não quis
Fez de mim um folião infeliz

Beijos a todos!
Sejam Pierrot, sejam Arlequim.

Colombina.

sábado, 11 de abril de 2009

É (quase) Páscoa!



Saudações pessoas!

O tema de hoje é religião,
Hoje é véspera de páscoa.
Logo, falarei sobre isso.

Estamos no meio do feriado,
Sou demasiado preguiçoso.
Logo, colarei um texto aqui.

Espero que gostem do texto tanto quanto eu.
Com vocês, alguém que definitivamente sabe o que diz: Frei Betto.

TRAVESSIA

"Quem ainda brinca de criança no domingo de Páscoa e esconde ovos de chocolate no jardim? Resta em nós uma perene idade da inocência.
A ternura denuncia a veracidade do amor, sublinha Milan Kundera. Recôndito no qual evocamos, nostálgicos, as missas de domingo, as procissões sob andores cercados de velas, o toque salvífico da água benta, o silêncio acolhedor de igrejas que o gótico não teve vergonha de desenhar como vulvas estilizadas.

Jesus ressuscitou! - celebra esta festa de aleluias.

Ainda que a razão não alcance a dimensão do fato pascal, a intuição capta a crise da modernidade a nos induzir a um mundo sem mistérios e enigmas. Mundo sombrio, onde os mortos se sobrepõem aos vivos.

Até o advento do Iluminismo, a inteligência recendia a incenso. Copérnico e Galileu decifraram a harmonia da natureza como reflexo do Criador, e Newton acertou seus cálculos pelos ponteiros dos relógios das catedrais. Depois, o dilúvio inundou os claustros. A razão irrompeu soberana, relegando à superstição tudo que não fosse mensurável. Então, o mistério aflorou.

De que valem perguntas quando se julga possuir todas as respostas? Voltaire e os enciclopedistas ousaram secularizar a inteligência e, mais tarde, Baudelaire e Rimbaud tatearam ávidos em busca de um Deus capaz de aplacar-lhes a sede de Absoluto. Dostoiévski revestiu-se da figura emblemática de Jesus, despiu seus monges das vestes eclesiásticas, escancarou-lhes a alma atormentada pelos demônios da dúvida.

Nietzsche roubou o fogo dos deuses e incendiou de liberdade o espírito humano. Sartre proclamou que o inferno são os outros e erigiu o absurdo da morte em ato final que destitui a vida de qualquer sentido.
Entre angústias e utopias, o último século foi também marcado pelo enigma Jesus. Corações e mentes o acolheram como paradigma: Claudel, Simone Weil, François Mauriac, Chesterton, Péguy, Graham Greene, Alberto Schweitzer etc. No Brasil, Murilo Mendes, Sobral Pinto, Gustavo Corção, Tristão de Athayde, Hélio Pellegrino etc.

Hoje, pavores transcendentais já não atribulariam a alma poética de um William Blake. Entre tanta miséria, esvai-se o encanto. Jesus é Deus que se fez homem e, de homem, virou pão. Pai Nosso/pão nosso. Esta concretude assusta. A fé cristã não proclama a ressurreição da alma, mas "da carne". Jesus não é a figura do Olimpo grego enaltecida pela força irrepresável da literatura. É o judeu crucificado, por razões político-religiosas, na Palestina do século I, e cujas aparições, como ressuscitado, contradizem as regras da ficção literária. Que autor criaria um personagem imortal com chagas nas mãos e ansioso por comida? As narrativas evangélicas são, tecnicamente, descrições de um fato objetivo. À luz da fé, proclamação de que Jesus é o Cristo.

Antes de cair em mãos da repressão que o assassinou, Jesus fez-se comida e bebida. Poeta e profeta, dominava a linguagem realista dos símbolos. Eis aqui o desafio atual à inquietude da inteligência. O pão repartido passa a ser corpo divino; o vinho partilhado, aliança feita com sangue e prenúncio da festa sem fim. O Deus de Jesus não é um velho Narciso à cata de adoradores nem um algoz irado com os pecadores. É Abba, o pai amoroso ("mais mãe do que pai"), cujo dom maior é a vida.

Já não temos as longas guerras que inquietaram espíritos como Tolstoi e Camus; o que vemos, de Bagdá a Guantánamo, é escabroso comparado à engenharia marcial dos exércitos em conflito: a estrada rumo ao futuro palmilhada de corpos degradados e famintos. Hoje, tropeça-se na rua em seres esquartejados em sua dignidade. Todos os discursos oficiais e todos os ajustes fiscais ofendem a condição humana por exaltarem a concentração do lucro e ignorarem a partilha da vida. Em sua hipocrisia, o sistema salva sua aura cristã e exclui o pão. A metafísica monetarista estabiliza moedas e desestabiliza famílias; reduz a inflação e aumenta a miséria; socorre bancos e multiplica o desemprego; abraça o mercado e despreza o direito à vida - e vida em abundância, para todos.

Agora, a globalização despolitiza, o esoterismo desculpabiliza e o consumismo individualiza. Livres de ideologias messiânicas, de culpas aterrorizadoras e de altruísmo coletivo, estamos à deriva neste início de século, cujas pitonisas proclamam que "a história acabou".

Páscoa é travessia - também para uma ética política, que torne o pão acessível a cada boca e, o vinho, alegria em cada alma. Somos nós que, em vida, precisamos ressuscitar as potencialidades do espírito, premissas e promessas de uma verdadeira dignidade humana. Num misto de Marcel Proust e Caçador da Arca Perdida, necessitamos urgentemente empreender a busca da consciência perdida, onde a solidária indignação contra as injustiças tenha cheiro de madeleines apetitosas. Caso contrário, seremos engolidos por esses simulacros de pirâmides - os shopping centers - que sequer têm estrutura para contar à posteridade quão grande foi a pobreza de espírito de uma geração que tinha, como suprema ambição, meia dúzia de engenhocas eletrônicas."

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Sobre Rock'n Roll...

Caro leitor,

Já inicio pedindo vosso perdão pelo caráter demasiado jornalístico que tomará minhas palavras. Mas creio ser necessário mencionar um assunto - ou melhor, dois - relevantes no mundo musical, embora sejam temas não dispertem tantas discussões. Aliás, acredito que uma postagem relativamente imparcial é até saudável em face à polêmica criada pela magistral resenha escrita por meu amigo Snoopy.

Em primeiro lugar, é impossível não falar sobreo show da banda Kiss, que ocorreu na última terça-feira em São Paulo, na Arena Anhembi. Foram duas horas de apresentação, repletas de música de qualidade, efeitos visuais, explosões e muita idolatria a Paul Stanley e cia. Segundo as notícias do mundo virtual, as principais canções do grupo foram contempladas e levaram o público ao delírio.

Geovana Luzia, uma fã que compareceu à apresentação, relatou com breves palavras: "É o maior espetáculo já visto, mas a emoção toma as palavras. Ficar 8 horas de pé, ser esmagada por outros fãs mais loucos ainda vale a pena quando se ouve 'You wanted the best, you've got the best, the hottest band in the wordl, Kiss'." Com certeza, foi uma experiência incrível para que aprecia o estilo.

Ainda falando do mundo do Rock, vale lembrar que no último dia 5 de abril, relembramos a morte do polêmico cantor Kurt Cobain, do grupo Nirvana. Reproduzo abaixo um trecho de uma reportagem veiculada pela página do yahoo, sobre algo que vêm causando muitas discussões nos últimos anos.

"As circunstâncias da morte de Cobain até hoje são nebulosas. Embora a versão oficial tenha sido o suicídio, muitos fãs da banda acreditam que o músico tenha sido assassinado.
A principal suspeita de mandar matar o líder do Nirvana é sua esposa, a roqueira Courtney Love. A ex-vocalista do Hole nega qualquer inteção de matar Kurt e afirma que ele já havia tentado cometer suicídio antes.
Alguns fatos ajudam a reforçar a teoria de Kurt Cobain teria sido assassinado. A espingarda que causou a morte de Cobain foi encontrada sobre o peito do vocalista. Na época, a polícia não encontrou impressões digitais legíveis para ajuda no caso. Mas o que mais gera especulação são o posicionamento da arma depois do disparo e o local onde foi encontrada a cápsula. Segundo a teoria, tudo indica que a cena do crime teria sido alterada.
Na época, o investigador do caso defendeu que com a quantidade de heroína que havia em seu sangue, Kurt Cobain não poderia ter puxado o gatilho.
Antes de se matar, o líder do Nirvana teria deixado uma carta de despedida, outro fato que gera mais especulação sobre um possível assassinato. Alguns especialistas sugerem que a caligrafia que aparece no final da carta se despendido é diferente da apresentada no restante do bilhete."

Aguardo comentários sobre os dois temas.
Uma ótima Páscoa aos cristãos. Um bom feriado a todos.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Ambulantes Propagandas

Estamos começando com tudo mesmo hein?!
Visual novo, blog a todo vapor (com exceção de nossa ami
ga Dois pra la, Dois pra cá... neh?!)
Mas estamos ai...

Deveria falar de educação hoje...
mas não quero...rs
meu ponto fraco venceu novamente...a poesia...

Segue então, sem demora, um de meus preferidos...autoexplicativo





Em minha calça está grudado um nome
que não é meu de batismo ou de cartório,
um nome... estranho.
Meu blusão traz lembrete de bebida
que jamais pus na boca, nesta vida.
Em minha camiseta, a marca de cigarro
que não fumo, até hoje não fumei.
Minhas meias falam de produto
que nunca experimentei
mas são comunicados a meus pés.
Meu tênis é proclama colorido
de alguma coisa não provada
por este provador de longa idade.
Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,
minha gravata e cinto e escova e pente,
meu copo, minha xícara,
minha toalha de banho e sabonete,
meu isso, meu aquilo,
desde a cabeça ao bico dos sapatos,
são mensagens,
letras falantes,
gritos visuais,
ordens de uso, abuso, reincidência,
costume, hábito, premência,
indispensabilidade,
e fazem de mim homem-anúncio itinerante,
escravo da matéria anunciada.
Estou, estou na moda.
É doce estar na moda, ainda que a moda
seja negar minha identidade,
trocá-la por mil, açambarcando
todas as marcas registradas,
todos os logotipos do mercado.
Com que inocência demito-me de ser
eu que antes era e me sabia
tão diverso de outros, tão mim-mesmo,
ser pensante, sentinte e solidário
com outros seres diversos e conscientes
de sua humana, invencível condição.
Agora sou anúncio,
ora vulgar ora bizarro,
em língua nacional ou em qualquer língua
(qualquer, principalmente).
E nisto me comprazo, tiro glória
de minha anulação.
Não sou - vê lá - anúncio contratado.
Eu é que mimosamente pago
para anunciar, para vender
em bares festas praias pérgulas piscinas,
e bem à vista exibo esta etiqueta
global no corpo que desiste
de ser veste e sandália de uma essência
tão viva, independente,
que moda ou suborno algum a compromete.
Onde terei jogado fora
meu gosto e capacidade de escolher,
minhas idiossincrasias tão pessoais,
tão minhas que no rosto se espelhavam,
e cada gesto, cada olhar,
cada vinco da roupa
resumia uma estética?
Hoje sou costurado, sou tecido,
sou gravado de forma universal,
saio da estamparia, não de casa,
da vitrina me tiram, recolocam,
objeto pulsante mas objeto
que se oferece como signo de outros
objetos estáticos, tarifados.
Por me ostentar assim, tão orgulhoso
de ser não eu, mas artigo industrial,
peço que meu nome retifiquem.
Já não me convém o título de homem.
Meu nome novo é coisa.
Eu sou a coisa, coisamente.

Eu, Etiqueta
Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Edukators


Boa tarde caros leitores... hoje o tema do Beco é cinema, então, vamos falar de EDUKATORS:

Título Original: Die Fetten Jahre sind vorbei/The Edukators"
Origem: Alemanha/ Áustria
Ano: 2004
Duração: 127 min.
Direção: Hans Weingartner
Estrelando: Daniel Brühl, Julie Jentsch, Stipe Erceg, Burghart Klaussner, Peer Martiny.
Distribuidora: Lumière Filmes.
Site oficial: www.diefettenjahre.de


O filme é bastante denso. Ele começa mostrando um grupo de estudantes em manifestação contra a ordem vigente, entrando nas lojas e tentado convencer os clientes a não comprarem os produtos que são feitos com trabalho escravo infantil, etc. Depois ele começa a girar em torno da ideologia política de três jovens – os edukators – que também se colocam contra a ordem da sociedade capitalista e, logo no início vê-se que o objetivo deles é mudar a lógica do sistema, pois eles entram na casa de um milionário – para o qual a menina devia uma grande quantia em dinheiro por conta de um acidente de carro – e não roubam nada do que ele tem, apenas “reorganizam” a disposição dos móveis pelos espaços. Por um motivo torpe (o esquecimento do celular), se vêem obrigados a retornar a casa, mas são pegos em flagrante pelo dono da mansão e não encontram outra alternativa a não ser seqüestra-lo, porém, nesse seqüestro, chega a ocorrer quase que uma cumplicidade entre seqüestradores e seqüestrado, que é transparecida nas conversas que têm, nas atitudes, que, por outro lado, colocam em debate o discurso capitalista e o comunista. O final do filme é bastante dúbio, uma vez que não se sabe dizer ao certo qual é o pensamento do milionário a respeito da sociedade capitalista e, por isso, não se sabe definir se a ação dos jovens quando saem de barco pelo mar, é criminosa ou não, se praticam o furto ou não.

Todas as cenas marcantes do filme explicam as teses daquela sociedade capitalista e exploratória demosnstrada, mas o fato de a menina dever muito dinheiro para o milionário é o que mais deixa claro a divisão entre classes na sociedade atual. O homem tinha seus negócios e o seu lucro ao final do ano era absurdamente grande, enquanto a moça trabalhava muito todos os dias num restaurante e, ainda assim, levava uma vida regrada, já que tinha que se manter e ainda juntar dinheiro para pagar a dívida que tinha por conta de um dos carros do empresário.
A ideologia dos garotos é explicitada enquanto dura o seqüestro do homem, já que nas conversas que tinham deixam claro estarem contra as regras desse sistema e alegam que lutam por uma vida onde não exista essa divisão social, quanto à ótica comunista, uma frase bastante marcante do filme é a de que “até os trinta anos, quem não é comunista, é sem coração, porém, depois dos trinta anos, quem continua com essa ideologia, é louco”, declarada pelo empresário quando este diz que, na idade dos jovens, ele também havia pensado e agido como revolucionário, porém hoje ele não era mais assim e não via essa ideologia como algo que pudesse ser realizado.O final ambíguo do filme deixa a dúvida sobre o pensamento real do milionário, uma vez que não se sabe se o papel que ele entrega aos meninos refere-se ao perdão da dívida, ou explica que ele os denunciará, porém doa seu iate a eles e, por isso, a frase deixada na parede da casa dos jovens – “as pessoas nunca mudam” – também pode vir a ter interpretação dupla, querendo dizer que “uma vez comunista, sempre comunista” ou “uma vez burguês capitalista, sempre burguês capitalista” a respeito do magnata.

É indiscutível que os três ativistas no filme têm como grande inspiração a sociologia de Marx, como a questão da alienação do trabalho, já que o magnata afirma que trabalhava até 15 horas por dia, o trabalho o dominava, já que ele mal tinha contato com a família. A acumulação de riquezas também é dita, uma vez que o magnata admitiu que não sabia mais o que fazer com os seus bens e, além disso, ele afirma que não usava muito seus bens, uma vez que se via sempre sem tempo. Pode-se dizer que o magnata não se identificava muito com o seu trabalho, pois o filme não fala em nenhum momento o que ele fazia. A questão da necessidade, do fetichismo da mercadoria, também é levantada pelo filme, já que mostra a acumulação de bens feita pelo magnata e até mesmo por toda a sociedade no sistema capitalista.
Sobre a questão da eficácia da norma, pode-se dizer que as normas jurídicas não são eficazes no caso tratado, já que o principio da dignidade da pessoa humana, da saúde – pois o trabalho a que se submetem e desgastante – da igualdade entre todos os cidadãos, enfim, boa parte dos princípios constitucionais não são respeitados, portanto, as normas são ineficazes.
O acesso à Justiça também não é garantido a todos os cidadãos, já que a menina não teve, talvez, como entrar com um recurso de apelação contra a decisão do tribunal, que a obrigou a pagar pelo acidente do carro, sendo que era nítido que o magnata tinha condições muito maiores de reparar o dano.
O filme pode ser relacionado com o Estado no sentido de que é o Estado que mantém a sociedade do jeito que ela está. Assim como na teoria marxista, pode-se dizer que a trama tenta mostrar, que o poder é detido pela classe dominante com o intuito de manter uma ordem sistemática que permita que essa classe continue dominando. Assim, o Direito também seria uma forma pela qual essa classe – a burguesia – busca manter o poder. E é também o Estado que poderia mudar a ordem vigente, que poderia amenizar ao menos os problemas sociais, porém, é esse mesmo Estado que não faz políticas públicas, que não defende seus cidadãos como um todo, mas somente a parcela social que lhe traz benefícios.
A respeito do filme em relação à sociedade, pode-se dizer que esta é a principal culpada pelos atos que acontecem no filme e por todo o desenrolar do longa-metragem, porque é ela que segue as regras, que estipula quem será o opressor e quem será o oprimido, quanto que se deve trabalhar para garantir a subsistência. É também a sociedade que permite que a diferença de classes se torne cada dia mais acentuada, que se cala diante das perversidades que vê, e que não cobra dos governantes a criação de políticas públicas, enfim, é a sociedade como um todo que deveria se rebelar contra o sistema capitalista, e não apenas algumas pessoas dela, porém, não é o que vemos acontecer e, a cada dia, as desigualdades crescem e as oportunidades para todos diminuem.
O filme ainda discute vários valores capitalistas que estão penetrados em nossa sociedade, tais quais a felicidade com o material, que é uma das maiores questões levantadas, já que o magnata aparentemente tinha um relacionamento superficial com sua esposa (isso porque ele conversou somente uma vez com ela após ser raptado). Além disso, trabalhava tantas horas diárias que não tinha vida fora do trabalho. Tudo indica uma vida infeliz. No entanto, tinha diversos bens materiais. O culto à propriedade, o egoísmo e a ganância do sistema capitalista, já que todo mundo só pensa em si mesmo, em acumular bens e no caso concreto do filme, é importante, mais uma vez ressaltar que o magnata tinha plenas condições de arcar com o ônus da batida de carro, enquanto que para a ativista esse prejuízo era muito significante. E também a desordem como uma inimiga do sistema capitalista de sociedade, que é mostrada no filme através da re-disposição dos móveis feita pelos “edukators” em sua manifestação, onde mostram que o sistema capitalista pode ser facilmente enfraquecido, uma vez que grande parte de sua base, se concentra em determinados centros de poder. Tudo isso culmina com a atitude dos jovens de destruírem as torres de transmissão.

A partir da análise do filme pode-se ver que ele é mais do que uma simples narrativa, ele se torna um filme político quando mostra as contradições da sociedade capitalista em que vivemos e coloca a ideologia dos jovens na cena principal, mostrando a importância de se discutir e de se lutar pela própria vida e pela defesa da dignidade humana alheia.
Coloca-nos em questionamento sobre o sistema atual e nos permite pensar que a igualdade entre todos pode ser a melhor saída, porém, não temos resposta para o modo de como agir para atingir esse fim, uma vez que a saída encontrada pelos jovens como uma possível resolução foi o seqüestro, a ameaça, enfim, não agiram de maneira pacífica quando foram descobertos.
A sociedade em que vivemos é bastante contraditória já que sempre vemos nos jornais que muitos bancos batem recordes de arrecadação, enquanto a realidade social é, para muitos, aquela de Sandro do Ônibus 174; enquanto milionários brasileiros concentram meio PIB, muitos não têm o que comer, o que mostra o contra senso do capitalismo; enquanto a riqueza de poucos aumenta, a quantidade de marginalizados e excluídos também é maior.

Peço desculpas pelo longo post, mas acho que todas as reflexões são cabíveis, bem como acredito que é mais um daqueles filmes que não podemos deixar de ver!
Até a próxima, galerinha!!!