quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Carta aos amigos

Meus caros.

Espero que essa carta lhes encontrem com saúde e felicidade.

De mim não posso dizer o mesmo, já que desde a última vez que nos reunimos enfrento inúmeros problemas em todas as esferas de minha vida.

Como bem sabem, na ocasião daquele último encontro havia acabado de me separar de Vivian. Acredito que vocês se lembrem da paixão avassaladora que tinha por tão fervorosa mulher, e podem também imaginar a mesma intensidade de dor que me causou sua rejeição, repentina, diga-se de passagem, para comigo.

Desnorteado, sem amigos próximos, pois havia me afastado de todos - afinal minha vida era em função de Vivi - resolvi, após meses de solidão e autoflagelamento, buscar ajuda no que descobri ser a fonte da verdade universal:  As seções de livros de auto ajuda de todas as livrarias.

E pensar que tudo ocorreu de repente, como obra do destino. Conheci os livros de auto-ajuda através de um acontecimento muito interessante: Um dos primeiros passos para me recuperar da falta de Vivi, como qualquer ser humano normal, foi buscar a ajuda de cartomantes, leitoras de borra de café, e toda sorte de profissionais do misticismo. Foi então que um dia, saindo de minha consulta semanal na casa de Madame Waleuska, vejo em sua mesa, ao longe, perto da porta, um livro chamado: A Felicidade e a Tristeza são Escolhas Nossas. Que coisa mais fantástica que é o destino, ou melhor, que coisa maravilhosa que é o cosmo trabalhando e colocando em nossa frente todos os dias energias positivas e soluções para os nossos problemas. Mas era claro! A minha solidão e o meu abandono foram escolhas minhas, assim como provoquei diretamente o afastamento de Vivi para comigo.

Saindo da casa da Madame corri para a livraria mais próxima e encontrei apenas um último exemplar desse mesmo livro. Fui para casa e o li na mesma noite. Era uma quinta feira, no mês de maio, chuvosa e fria, totalmente contrária ao calor que me tomou o peito após terminar de ler esse livro tão enriquecedor em minha vida. Agora tudo fazia sentido. Minha vida acabava de tomar outro rumo. Agora eu era dono da minha vida e dos meus sentimentos.

Contudo, assim como com a paixão por Vivi, me joguei loucamente no meio do universo dos livros de auto-ajuda. Depois de oito meses mergulhado com essa literatura já não conseguia mais ir à uma livraria e frequentar outros tipos de seções de livros.

Eu me esforçava para procurar livros de culinária, de artes, mas sempre acabava na seção de auto-ajuda. Comecei então a chegar ao cúmulo de, na falta de lançamentos, comprar novas edições de livros que já havia lido, procurando por novos comentários, entrevistas com os autores, etc.

Já não conseguia mais fazer absolutamente nada sem antes consultar um livro:

-Se estava muito sozinho lia "Dez Maneiras de Lidar e Acabar com a Solidão"
-Antes de sair para um restaurante na esperança de conhecer alguém, lia "Vença o Medo de Conhecer Novas Pessoas", juntamente do livro "Conversas Básicas para um Primeiro Encontro"


E assim foi, durante meses, eu preso ao que tinha sido minha libertação.

Hoje, já consegui, novamente, mudar um pouco da minha vida. Agora descobri a felicidade e as lições de vida através dos reality shows: Isso sim meus queridos. Isso sim é que é verdade. Isso sim que é vida na sua mais pura forma. Mas o detalhamento deles deixo para uma próxima carta.

Bom meus caros, gostaria apenas de partilhar de minhas experiências para que os meus erros não sejam os seus.

Um efusivo abraço e espero respostas em breve.

Att.

Demerval de Freitas

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