quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Carta aos amigos III

É pedindo um tempo aos mau-entendidos passados que saludo vocês, caros amigos.

De todos os contratempos e desavenças na vida, é quando se encontra a real dificuldade que descobrimos o quão pequenos foram os acontecimentos passados, os quais tomaram tanto de nossas forças e pensamentos.

É com grande pesar e ainda dor em meu coração que venho para lhes dizer de meu filho. Postergo esse momento há meses, período de tempo que me afastei da realidade por não conseguir lidar com a mesma. Após meses de luta e dor, chegamos a uma hora onde não nos resta nada senão o alívio final. Mesquinho pode parecer o ponto de chegarmos a querer abdicar de certas situações no desejo de que elas se resolvam da forma mais rápida possível, tanto para o bem quanto para o mal. Contudo, ao ver o filho em situação desesperadora, sem mais forças, afundado em seus delírios e sem mais nenhum contato com a realidade; com uma ardência febril constante e sem tréguas; é então, neste momento, que pedimos para que o fim se aproxime e acabe com os momentos de sofrimento da pessoa amada.

Hoje fazem seis meses que meu filho se foi, e ainda procuro forças para me reerguer na vida. É com a alma esperançosa que lhes escrevo esse desabafo que me atormenta em meus sonos. Apesar de me justificar diariamente, ainda me culpo pelos momentos onde pedi para que meu filho desistisse de sua luta. Contudo, fria e calmamente vejo que não poderia mais suportar tamanha agonia tanto por sua parte, como da minha.

Espero encontrá-los em breve para que possamos relembrar momentos de alegria, tão caros hoje em minha vida.

Peço para que não respondam minha carta, pois esta é apenas um desabafo de um pai ainda corroído pelo remorso do que passou, pois, minha única esperança é que com esta vá embora também minhas dores.

Brito Corrêa.

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