sábado, 28 de agosto de 2010

E agora?

Então são eleições: o tempo do debate. O tempo sério de discussão sobre os futuros do país, estado, etc. Em um mundo ideal existiriam pessoas sérias se dispondo a ser “A” nossa representação política nas camadas de poder. Mundo ideal, ou mesmo seu vislumbramento, hoje acredito já ser alguma coisa de ganância e pretensão exacerbada. Mesmo assim me pego iludido com projeções do vir a ser: mero momento de insensatez que logo a realidade me prova o contrário.

Mas, nosso sistema cognitivo insiste em nos ludibriar e nos fazer acreditar que a própria realidade é fictícia - um dia Platão nos disse que teríamos a dificuldade de acreditar na verdade pura: nessas horas provo o gosto amargo dessa teoria. Pois bem, em alguns momentos, parecidos com a crença num símbolo religioso, me pego pensando e discutindo de maneira séria os processos políticos do Brasil. Aí é quando, de forma repentina, como uma rasteira seguida de um chute na cara, a realidade me aparece:

Netinho empata com Quércia em pesquisa Datafolha e disputa em SP fica acirrada

Será realmente possível? Figuras inexperientes fazendo uso da sua imagem pública, nunca antes participante de ambientes de gestão política, se candidatando ao Senado Federal?! Figuras que vivem da “auto publicidade” através de programas que vivem das políticas de assistencialismo. Nada contra o assistencialismo civil enquanto o estado encurta seus braços. Mas como pensar em um candidato a senador, o qual a única experiência é baseada nesses tipos de práticas. Agora teremos um estado totalmente assistencialista? O que falar? Mas de outro lado, a culpa é dele? Ele apenas se candidata, sua seriedade deveria ser julgada pelos outros agentes políticos, vulgo população civil. Porém, a culpa é da maioridade dessa população? Voltaremos a falar da falta de informação? Quais as causas desses índices? O Estado que aliena a população no sentido de preservar a engrenagem governamental? Seriedade e moralidade são quesitos de eliminação para os processos políticos?

Prefiro pensar que ainda estou na caverna vendo os reflexos da realidade. Espero com uma fé religiosa que a realidade verdadeira seja o oposto dessas sombras.


OBS: pra quem não percebeu, voltamos!

10 comentários:

  1. No caso de Netinho, Calvin, creio que ainda seja cedo para espantar-se. Faltando 1 mês para as eleições, voto em cargos menores que a presidência da República ainda não estão consolidados. Na minha forma de ver, o voto em Netinho representa 2 coisas que não podem ser ignoradas: 1- ele é o segundo candidato da coligação do PT, o que leva eleitores para ele, sem dúvida; 2 - o candidato mais bem posicionado nessas eleições na coligação do PSDB é o Quércia, que causa urticária nas pessoas de bem. Quanto mais próximo das eleições chegarmos, creio que A.Nunes tende a ficar mais conhecido e roubar votos tanto de Netinho (pessoas que votam nele por falta de opção) quanto de Quércia (pessoas com senso de moralidade mais apurado mas que não votam no PT e em Netinho de jeito nenhum). Sem contar tb, que ainda 25% das pessoas não decidiu qual será seu segundo voto para senador, o que aumenta, e muito, a imprevisibilidade até a eleição.

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  2. Trata-se de uma relação dinâmica entre democracia e educação.

    - Celebridades decadentes se candidatam porque têm chances de ganhar, ou puxar votos para os partidos.

    - A chance existe porque há muitas pessoas que votam nelas.

    - Muitas pessoas votam nelas porque não foram politicamente educadas; porque vivemos num país com uma ampla população de baixo capital cultural; porque a educação pública está perdida - não visa nem a cidadania (como deveria), nem o mercado, nem o vestibular (como não deveria mesmo, mas o vestibular existe).

    - Com uma educação precária, em que as pessoas de baixa renda não são educadas para a democracia e a criticidade - aliás, não são educadas para nada - esse tipo de candidato continua sendo eleito.

    - Com esses caras eleitos, a educação continua uma bosta.


    É preciso quebrar esse ciclo. Conscientizar, desenvolver educação popular, repensar as formas de crítica, enfim... É preciso preparar continuamente a sociedade civil para a democracia, a despeito do próprio Estado jogar contra uma educação decente.

    Bom, fica meu desabafo.

    Aquele abraço.

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  3. Saliento aqui que Netinho foi um o terceiro vereador mais votado nas últimas eleições municipais em São Paulo.

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  4. Bem, creio que nosso amigo Casmurro pegou na veia do problema acerca dos dois novos representantes paulistas para o senado.

    A maioria da população acha absurdo a candidatura de algumas pessoas, a exemplo: Quércia, Netinho, Tiririca, Maluf, etc... O problema não é a candidatura de elenco como exemplifiquei, mas como dito por nosso amigo Casmurro, a elevação da consciência política brasileira a fim de não eleger ícones do atraso político como Quércia (o dono de Campinas) ou não eleger candidatos como Netinho ou Tiririca, que pouco sabem de política e usam a imagem artística para sua promoção.

    Creio que além da educação é necessário tempo. Consciência política se ganha através de tempo de democracia, sem querer discutir o conceito de democracia.

    Por enquanto é isso.

    Abracos

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  5. Creio que nosso amigo Casmurro pegou na veia do problema acerca da eleições de representantes paulistas para o Senado e expandido para todos os cargos disponíveis.

    Conversando com vários setores da população sobre a eleição, todas as pessoas que conversei acham um absurdo candidaturas de ícones do atraso político brasileiro como Quércia e Maluf ou de figuras frutos da mídia que estão decadentes candidatando-se. Em algumas conversas, algumas pessoas dizem que o país não tem jeito, outras desacreditam de projetos como o Ficha Limpa ou de boas propostas, devido a atual situação.

    Creio, que apesar da análise pessimista, sou otimista na expectativa. Em primeiro lugar, não sou contra a candidatura de figuras decadentes da mídia. Creio que é necessário a elevação da cultura política do país e isso demanda dois fatores: educação e tempo.

    Pela educação a cultura política seria aprimorada como já dito em comentários anteriores, mas é necessário tempo para amadurecimento desta consciência, tendo em vista que nossa democracia foi retomada a pouco tempo.
    Assim figuras que ridicularizam a classe de representantes como o personagem Tiririca e seu bordão possam se candidatar mas não se eleger.

    Abraços.

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  6. Casmurro, meu caro, vc é muito pessimista! Um pessimismo infundado que trata as pessoas mais pobres praticamente como imbecis. Não é apenas uma questão de educação política, como tentarei demonstrar:

    1 italianos são um povo tradicionalmente democrático, não? Tiveram um grande PC, votaram muito nele. Tiveram maquiavel, gramsci, bobbio tanto como pensadores quanto como representantes. São, para parte significativa da teoria democrática, um dos povos mais educados politicamente na Europa. Tem bons índices de educação e tradição social-democrata. Aí eu pergunto: quem elegeu Cicciolina? Sim, esses mesmos italianos.

    2- Mas italianos são latinos, e latinos não são racionais. Peguemos um povo anglo-saxão, notoriamente marcado por tradição democrática e altos índices de educação como os americanos. Quem é o governador da California, o estado mais rico, mais educado e mais importante dos USA? Sim, Arnold Schwarzenegger.

    Acho que Cicciolina e Scwarzenegger já são pitorescos demais e fazem netinho de paula e frank aguiar parecerem até corriqueiros. Dito isso, vamos ao que interessa.

    Não é apenas uma questão de educação "para a cidadania" ou "educação para a criticidade" (o que é, evidentemente, uma impossibilidade lógica, dada a condição da escola dentro da sociedade e sua função na socialização das crianças no mundo capitalista) mas, muito mais creio eu, uma questão de força institucional dos partidos e da democracia enquanto sistema de governo. Acompanhe meu raciocínio:

    Um candidato como Netinho pode se candidatar e prometer que vai dar "um dia de princesa" a cada menina pobre do Brasil. Não é isso que o faz ser bem votado. Se fosse apenas a fama e o glamour a razão pela qual as pessoas escolhem uma celebridade como candidato, Moacir Franco deveria estar melhor posicionado nas pesquisas. Netinho é candidato de um partido com razoável organização interna e disputa a eleição em uma das principais chapas em disputa, tendo sua foto colada ao lado da foto do puxador-mor de votos do mundo que é Lula. Isso não pode ser ignorado.

    Um segundo ponto importante é o fato que já mencionei acima. Ainda falta um mês para eleição e os votos para os cargos menores do sistema eleitoral ainda não estão consolidados. Dessa forma, as pessoas ainda não conhecem os candidatos e Netinho é certamente um nome familiar. Muita gente faz isso, oq também ajuda a puxar votos para ele.

    Assim: Não são necessariamente as pessoas que são deseducadas politicamente, todas boçais que ao invés de avaliar as melhores propostas, votam na celebridade. É preciso ver que tem partidos e dinâmicas da eleição também por trás disso e que contam, e muito, na hora em que uma pesquisa como a citada aparece.

    Aí vc pode dizer, se tivéssemos partidos fortes, ideologicamente consistentes, em que houvesse grande participação da base na definição das candidaturas isso não aconteceria.

    Concordo e discordo. Concordo que um candidato que se faça só pelo fato de ser famoso não tem vez, já que os controles democráticos internos ao partido impedem que esses arrivistas cheguem a se candidatar.

    Mas discordo que isso seja necessariamente verdadeiro para Netinho. Não sei vc, mas eu não conheço a conduta de Netinho como vereador tampouco sua história dentro do PCdoB. Não sei se ele é um bom vereador ou se é apenas um aproveitador. Duvido, permita-me, que vc saiba. Creio que é mais um preconceito que pode ser infundado contra o candidato apenas porque ele não seguiu os caminhos esperados para um político. Entrou na política após fazer sucesso como pagodeiro. Isso não é garantia de que o cara será um péssimo representante ou um aproveitador.

    De alguma maneira, casmurro, essa sua leitura parece mais uma afirmação elitista de inspiração pequeno burguesa que propriamente um diagnóstico sobre a política paulista. Afinal, suspeito que vc crê na sua própria educação Política?

    E se eu dissesse que votar em Plínio demonstra justamente o contrário?

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  7. Grande Bizzarro! Serei breve:

    - Não se trata de votar em Plínio ou em Serra, mas de ter condições básicas para compreender os projetos (ou pelo menos do projeto exposto)dos candidatos, analisar o histórico político, as concepções dos partidos, etc. Muitas pessas não conhecem nem a divisão dos 3 poderes, ou o que supostamente faz um deputado. Aí, defendo que é um problema que passa pela educação política.

    - Aproveitei a brecha de Netinho para falar do volume de pessoas sem histórico político, sem propostas claras, que entram para ser marionetes, ou para puxar votos para partido - e Netinho (candidato a Senador), evidentemente, não se enquadra nesse último perfil. Também não conheço o Netinho e não acho que o fato, em si, de ser artista ou esportista impeça do sujeito ser um bom candidato (eu cogitaria votar no Caetano ou no Sócrates, por exemplo, se fossem candidatos). Não falei de Netinho, mas aproveitei a postagem para comentar esse espetáculo eleitoral sem conteúdo (ou com conteúdo velado).

    - Enfatizo, novamente, que não há uma tentativa educacional sistemática para a cidadania ou para democracia. Acredito que esse problema passe, sim, pelo capitalismo, mas não que seja uma impossibilidade lógica. E aí, caímos no mundo subjetivo da utopia: acredito ser possível que uma forma crítica de pensar, contra-hegemônica, se espalhe pelos espaços da sociedade civil, chegando, um dia, aos espaços institucionais por via da luta política. Por isso que clamo a educação popular, a conscientização política (em sentido freiriano) que favorece uma visão ampla e estrutural, por parte do indivíduo, dos problemas que lhe afetam diretamente.

    É a minha utopia, e nela você vai encontrar aporias, contradições, e impossibilidades lógicas se partir de um ponto de vista cético. É o velho debate sobre o "fim da história", afinal, não?

    Bom, a conversa saiu demais do tema. Esse é meu ponto de vista, com o qual sei que você não vai concordar...

    Abraços!

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  8. Claro q não vou concordar. Quando alguém propões "conscientização politica (em sentido freireano)" eu não posso achar q a pessoa está falando sério.

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  9. hauahauhau

    Bizzarro, você vai acabar indo pro inferno com tanta repulsa aos valores cristãos hauahua

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  10. Fala, Bizzarro...

    Primeiro eu só posso concluir que você não faz idéia de qual é a concepção de Paulo Freire de educação política e conscientização. Se fizesse, não faria essa interpretação tão destoante da minha intenção, e eu não precisaria me referir a ele (e a Gramsci, indiretamente) para explicar meu ponto de vista, pois é facilmente dedutível a qualquer um que já tenha lido o autor. Disso, vemos que seu último comentário é integralmente preconceituoso. De todo modo, que fique claro que a educação política de Paulo Freire, em nenhum momento pressupõe uma massa de boçais.

    Caso tenha interesse no autor, ou queria entender melhor o que intentei dizer no primeiro comentário, recomendo que leia o livro introdutório denominado "Conscientização", que é uma coletânea de fragmentos de Freire. Em seguida, leia "Pedagogia do Oprimido", em que se desenvolve a crítica ao método educativo vigente e se propõe um novo método, voltado para a educação política conscientizadora. Por fim, leia "Pedagogia da Autonomia", uma síntese final de toda obra do autor, escrita próxima a sua morte, em que toda sua teoria é revisitada e revista.

    Mas, sinceramente, não acredito que terás interesse nesse tipo de leitura.

    Por fim, frizo que não descarto a força institucional dos partidos para o fato mencionado, mas, se formos pensar a questão desse ponto de vista institucional, creio que não só a força institucional dos partidos, mas um contexto de crise ética da credibilidade das instituições políticas favorece o chamado "voto de protesto", o qual, em tempos de voto em papel, era feito em personagens fictícios ou candidatos inexistentes.

    É um outro tema relevante para discussão. Em breve postarei sobre as eleições.

    Abraços.

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