sábado, 12 de dezembro de 2009

O homem e o mito

Boa noite, caros leitores.

É com prazer que eu e meu amigo sarnento lutamos pela sobrevivência deste espaço. Sendo assim, tentamos manter a versatilidade temática que sempre marcou o bom e velho beco. Por isso que venho falar-lhes de uma questão que nos inquieta a todos.



Não sou filósofo e, embora goste da filosofia, prefiro me dedicar ao pensamento sociológico. Contudo, o autor o qual estudo - que não é filosófo nem sociólogo, mas jornalista - muito me fez pensar com um artigo cuja reflexão venho partilhar.

Neste artigo de 1925, José Carlos Mariátegui discorre sobre a subjetividade do revolucionário e chega no dilema sobre a importância do mito - no caso, o mito de que a revolução constitui a "luta final" pela humanidade. Sem pensar na já batida discussão capitalismo x socialismo, acho que o mais interessante é como o autor se posiciona filosoficamente diante do debate sobre o mito, com uma afirmação que vale a pena citar:

"O ceticismo satisfazia-se em atestar a irrealidade das grandes ilusões humanas. O relativismo não se conforma com o mesmo resultado negativo e infecundo. Começa ensinando que a realidade é uma ilusão, mas termina reconhecendo que, por sua vez, a ilusão é uma realidade. Nega que existam verdades absolutas, mas se dá conta de que os homens têm de acreditar nas suas verdades relativas como se fossem absolutas. Os homens precisam de certeza. Que importa se a certeza dos homens de hoje não é a certeza dos homens de amanhã? Sem um mito, os homens não podem viver fecundamente."

Pois bem. Algumas questões brotam disso: por que os homens "têm de acreditar nas suas verdades relativas" e "precisam de certeza"??? Simplesmente para que levem a revolução às ultimas consequencias, ou para própria felicidade (como se esse fosse um conceito fechado)? Que será mais saudável: uma vida de extremo racionalismo - que culmina num ceticismo que chega a desprover a vida de sentido - ou a prisão dentro dos mitos herdados culturalmente? Será a ignorância uma bênção? Afinal, não é disso que trata o início da Bíblia?

Naturalmente, não tenho essas respostas. Contudo, Mariátegui encerra seu texto com mais uma afirmação inquietante:

"O homem iletrado não se preocupa com a relatividade do seu mito. Não lhe seria possível sequer compreendê-la. No entanto, melhor que o literato e do que o filósofo, geralmente encontra seu próprio caminho. (...) Seu instinto desvia-o da dúvida estéril. Só ambiciona aquilo que todo homem pode e deve ambicionar: cumprir bem sua jornada".


Por fim, é necessário fazer algumas considerações. Mariátegui, no texto, fala especificamente do mito de que a revolução socialista constitui-se a "luta final" da humanidade. Contudo, Mariátegui também reconhece que próprio fascismo só foi tão longe e ganhou tanta adesão pela proposição de diversos mitos (como o da superioridade ariana) e por se contrapor ao ceticismo burguês.

Eis, portanto, a pergunta filosófica final: é possível separar o homem do mito? Não é isso que pretende o culto à Razão?



Deixo-vos refletir, visitantes.

Aquele abraço.

Casmurro.

5 comentários:

  1. Então minha assombrada criação, achas que eu sou um mito?
    Será que não fizeste do entrelaço entre Capitu e Escobar um mito?
    Uma coisa tens que encarar como fato, ao homem se faz necessário a criação de mitos e mesmo que a minha mais adorada busque a criação, os mitos se fazem necessários para o imaginário fantástico que eu dei as vocês.

    O Onipresente.

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  2. Olá, Anônimo.

    Coloquei a imagem porque o filme retrata essa questão do homem e do mito, mostrando como é tênue a linha entre as realidades subjetiva e objetiva.

    Ainda vou tratar mais dessa questão no cinema. Don Juan deMarco também é um bom filme para refletir sobre isso.

    abraços.

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  3. Deus esta meio burrão ou drogado.............. até que enfim voltaram a postar aqui..... pensei que os 8 que postavam tinham morrido.

    Deus me segura!

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  4. post novo, ou acabo dinovo?

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