segunda-feira, 6 de abril de 2009

Edukators


Boa tarde caros leitores... hoje o tema do Beco é cinema, então, vamos falar de EDUKATORS:

Título Original: Die Fetten Jahre sind vorbei/The Edukators"
Origem: Alemanha/ Áustria
Ano: 2004
Duração: 127 min.
Direção: Hans Weingartner
Estrelando: Daniel Brühl, Julie Jentsch, Stipe Erceg, Burghart Klaussner, Peer Martiny.
Distribuidora: Lumière Filmes.
Site oficial: www.diefettenjahre.de


O filme é bastante denso. Ele começa mostrando um grupo de estudantes em manifestação contra a ordem vigente, entrando nas lojas e tentado convencer os clientes a não comprarem os produtos que são feitos com trabalho escravo infantil, etc. Depois ele começa a girar em torno da ideologia política de três jovens – os edukators – que também se colocam contra a ordem da sociedade capitalista e, logo no início vê-se que o objetivo deles é mudar a lógica do sistema, pois eles entram na casa de um milionário – para o qual a menina devia uma grande quantia em dinheiro por conta de um acidente de carro – e não roubam nada do que ele tem, apenas “reorganizam” a disposição dos móveis pelos espaços. Por um motivo torpe (o esquecimento do celular), se vêem obrigados a retornar a casa, mas são pegos em flagrante pelo dono da mansão e não encontram outra alternativa a não ser seqüestra-lo, porém, nesse seqüestro, chega a ocorrer quase que uma cumplicidade entre seqüestradores e seqüestrado, que é transparecida nas conversas que têm, nas atitudes, que, por outro lado, colocam em debate o discurso capitalista e o comunista. O final do filme é bastante dúbio, uma vez que não se sabe dizer ao certo qual é o pensamento do milionário a respeito da sociedade capitalista e, por isso, não se sabe definir se a ação dos jovens quando saem de barco pelo mar, é criminosa ou não, se praticam o furto ou não.

Todas as cenas marcantes do filme explicam as teses daquela sociedade capitalista e exploratória demosnstrada, mas o fato de a menina dever muito dinheiro para o milionário é o que mais deixa claro a divisão entre classes na sociedade atual. O homem tinha seus negócios e o seu lucro ao final do ano era absurdamente grande, enquanto a moça trabalhava muito todos os dias num restaurante e, ainda assim, levava uma vida regrada, já que tinha que se manter e ainda juntar dinheiro para pagar a dívida que tinha por conta de um dos carros do empresário.
A ideologia dos garotos é explicitada enquanto dura o seqüestro do homem, já que nas conversas que tinham deixam claro estarem contra as regras desse sistema e alegam que lutam por uma vida onde não exista essa divisão social, quanto à ótica comunista, uma frase bastante marcante do filme é a de que “até os trinta anos, quem não é comunista, é sem coração, porém, depois dos trinta anos, quem continua com essa ideologia, é louco”, declarada pelo empresário quando este diz que, na idade dos jovens, ele também havia pensado e agido como revolucionário, porém hoje ele não era mais assim e não via essa ideologia como algo que pudesse ser realizado.O final ambíguo do filme deixa a dúvida sobre o pensamento real do milionário, uma vez que não se sabe se o papel que ele entrega aos meninos refere-se ao perdão da dívida, ou explica que ele os denunciará, porém doa seu iate a eles e, por isso, a frase deixada na parede da casa dos jovens – “as pessoas nunca mudam” – também pode vir a ter interpretação dupla, querendo dizer que “uma vez comunista, sempre comunista” ou “uma vez burguês capitalista, sempre burguês capitalista” a respeito do magnata.

É indiscutível que os três ativistas no filme têm como grande inspiração a sociologia de Marx, como a questão da alienação do trabalho, já que o magnata afirma que trabalhava até 15 horas por dia, o trabalho o dominava, já que ele mal tinha contato com a família. A acumulação de riquezas também é dita, uma vez que o magnata admitiu que não sabia mais o que fazer com os seus bens e, além disso, ele afirma que não usava muito seus bens, uma vez que se via sempre sem tempo. Pode-se dizer que o magnata não se identificava muito com o seu trabalho, pois o filme não fala em nenhum momento o que ele fazia. A questão da necessidade, do fetichismo da mercadoria, também é levantada pelo filme, já que mostra a acumulação de bens feita pelo magnata e até mesmo por toda a sociedade no sistema capitalista.
Sobre a questão da eficácia da norma, pode-se dizer que as normas jurídicas não são eficazes no caso tratado, já que o principio da dignidade da pessoa humana, da saúde – pois o trabalho a que se submetem e desgastante – da igualdade entre todos os cidadãos, enfim, boa parte dos princípios constitucionais não são respeitados, portanto, as normas são ineficazes.
O acesso à Justiça também não é garantido a todos os cidadãos, já que a menina não teve, talvez, como entrar com um recurso de apelação contra a decisão do tribunal, que a obrigou a pagar pelo acidente do carro, sendo que era nítido que o magnata tinha condições muito maiores de reparar o dano.
O filme pode ser relacionado com o Estado no sentido de que é o Estado que mantém a sociedade do jeito que ela está. Assim como na teoria marxista, pode-se dizer que a trama tenta mostrar, que o poder é detido pela classe dominante com o intuito de manter uma ordem sistemática que permita que essa classe continue dominando. Assim, o Direito também seria uma forma pela qual essa classe – a burguesia – busca manter o poder. E é também o Estado que poderia mudar a ordem vigente, que poderia amenizar ao menos os problemas sociais, porém, é esse mesmo Estado que não faz políticas públicas, que não defende seus cidadãos como um todo, mas somente a parcela social que lhe traz benefícios.
A respeito do filme em relação à sociedade, pode-se dizer que esta é a principal culpada pelos atos que acontecem no filme e por todo o desenrolar do longa-metragem, porque é ela que segue as regras, que estipula quem será o opressor e quem será o oprimido, quanto que se deve trabalhar para garantir a subsistência. É também a sociedade que permite que a diferença de classes se torne cada dia mais acentuada, que se cala diante das perversidades que vê, e que não cobra dos governantes a criação de políticas públicas, enfim, é a sociedade como um todo que deveria se rebelar contra o sistema capitalista, e não apenas algumas pessoas dela, porém, não é o que vemos acontecer e, a cada dia, as desigualdades crescem e as oportunidades para todos diminuem.
O filme ainda discute vários valores capitalistas que estão penetrados em nossa sociedade, tais quais a felicidade com o material, que é uma das maiores questões levantadas, já que o magnata aparentemente tinha um relacionamento superficial com sua esposa (isso porque ele conversou somente uma vez com ela após ser raptado). Além disso, trabalhava tantas horas diárias que não tinha vida fora do trabalho. Tudo indica uma vida infeliz. No entanto, tinha diversos bens materiais. O culto à propriedade, o egoísmo e a ganância do sistema capitalista, já que todo mundo só pensa em si mesmo, em acumular bens e no caso concreto do filme, é importante, mais uma vez ressaltar que o magnata tinha plenas condições de arcar com o ônus da batida de carro, enquanto que para a ativista esse prejuízo era muito significante. E também a desordem como uma inimiga do sistema capitalista de sociedade, que é mostrada no filme através da re-disposição dos móveis feita pelos “edukators” em sua manifestação, onde mostram que o sistema capitalista pode ser facilmente enfraquecido, uma vez que grande parte de sua base, se concentra em determinados centros de poder. Tudo isso culmina com a atitude dos jovens de destruírem as torres de transmissão.

A partir da análise do filme pode-se ver que ele é mais do que uma simples narrativa, ele se torna um filme político quando mostra as contradições da sociedade capitalista em que vivemos e coloca a ideologia dos jovens na cena principal, mostrando a importância de se discutir e de se lutar pela própria vida e pela defesa da dignidade humana alheia.
Coloca-nos em questionamento sobre o sistema atual e nos permite pensar que a igualdade entre todos pode ser a melhor saída, porém, não temos resposta para o modo de como agir para atingir esse fim, uma vez que a saída encontrada pelos jovens como uma possível resolução foi o seqüestro, a ameaça, enfim, não agiram de maneira pacífica quando foram descobertos.
A sociedade em que vivemos é bastante contraditória já que sempre vemos nos jornais que muitos bancos batem recordes de arrecadação, enquanto a realidade social é, para muitos, aquela de Sandro do Ônibus 174; enquanto milionários brasileiros concentram meio PIB, muitos não têm o que comer, o que mostra o contra senso do capitalismo; enquanto a riqueza de poucos aumenta, a quantidade de marginalizados e excluídos também é maior.

Peço desculpas pelo longo post, mas acho que todas as reflexões são cabíveis, bem como acredito que é mais um daqueles filmes que não podemos deixar de ver!
Até a próxima, galerinha!!!

2 comentários:

  1. Pelo título do post, entrei no seu blog, que estava na lista de blogs do meu amigo, o Rodrigo.
    Esse filme parece ser MUITO bom, é o próximo filme que vou assistir. Já até consegui ele. Mas não li o post inteiro pq fiquei com medo de spoilers... =)

    Até mais!

    ResponderExcluir
  2. Demasiado longo minha querida criação!Bom posto mas demasiado longo.Eu que tudo sei, estou pensando por onde começar o comentário, se por o fetichismo da mercadoria, se pela injustiça social ou por qualquer tema que a minha ilustre criação fez.Creio que todas são pertinentes, mas as primordiais são: a maneira com que os intitulados educadores executavam suas tarefas era realmente da capacidade de chocar ou trazer reflexão aos educados ricos do filme?E quando pegos, a maneira como transcorreram os fatos, sequestro e ameaça, são realmente dignas de educadores?

    Fico aqui com estas perguntas para reflexão.

    O onipresente

    ResponderExcluir