terça-feira, 25 de novembro de 2008

Pensemos...

Boa noite meus queridos...

Primeiramente agradecer as controvérsias do meu último post... de uma certa forma conseguimos fazer salientar os objetivos deste blog... a discussão, a discórdia e assim por diante...

Contudo, essa semana estava eu pensando sobre o post de hoje e creio que o tema que irei discutir não irá agradar à um determinado amigo nosso, um certo Casmurro presente em nosso blog. Por isso, primeiramente, dedico este post ao nosso amigo Bentinho, que há muito calunia a imagem de nossa amada Capitu.

Indiscutivel a importância de Machado em nossa literatura, mas nos atamos a esta famigerada pergunta que há tempo nos rodeia: Capitu traiu ou não Bentinho?

Ultimamente li essa obra novamente, e sinceramente, hoje com a leitura mais aprimorada e cuidadosa, não consegui evidências irrefutáveis da traição de Capitu, mas sim da casmurrice precoce de Bentinho, mesmo que esse se declare desta forma apenas quando adulto. Portanto, vamos por partes.

Primeiramente lembremos que alguns 'ques' de casmurrice Bentinho já apresenta em sua infância, tendo por exemplo a passagem em que este fica totalmente transtornado por ter achado que Capitu direcionava o olhar a um cavaleiro que passava na rua, bem no fim de semana que voltara do feriado. Lembrem da construção ilusória que Bentinho fez dessa passagem.

Lendo e ouvindo comentários sobre o livro, cheguei à uma conclusão que pode ser a chave desse dilema, e por favor, discordem e apontem outras se for o caso...
Essa chave está mais precisamente no capitulo CXXXV, se não me engano, aquele intitulado OTELO...

"Jantei fora. De noite fui ao teatro. Representava-se justamente Otelo, que eu não vira nem lera nunca; sabia apenas o assunto, e estimei a coincidência. Vi as grandes raivas do mouro, por causa de um lenço. —um simples lenço!—e aqui dou matéria à meditação dos psicólogos deste e de outros continentes, pois não me pude furtar à observação de que um lenço bastou a acender os ciúmes de Otelo e compor a mais sublime tragédia deste mundo. Os lenços perderam-se. hoje são precisos os próprios lençóis; alguma vez nem lençóis há e valem só as camisas. Tais eram as idéias que me iam passando pela cabeça, vagas e turvas, à medida que o mouro rolava convulso, e Iago destilava a sua calúnia. Nos intervalos não me levantava da cadeira- não queria expor-me a encontrar algum conhecido. As senhoras ficavam quase todas nos camarotes, enquanto os homens iam fumar. Então eu perguntava a mim mesmo se alguma daquelas não teria amado alguém que jazesse agora no cemitério, e vinham outras incoerências, até que o pano subia e continuava a peça. O último ato mostrou-me que não eu, mas Capitu devia morrer. Ouvi as súplicas de Desdêmona, as suas palavras amorosas e puras, e a fúria do mouro, e a morte que este lhe deu entre aplausos frenéticos do público.
—E era inocente, vinha eu dizendo rua abaixo; — que faria o público, se ela deveras fosse culpada, tão culpada como Capitu? E que morte lhe daria o mouro? Um travesseiro não bastaria; era preciso sangue e fogo, um fogo intenso e vasto, que a consumisse de todo, e a reduzisse a pó, e o pó seria lançado ao vento, como eterna extinção...
Vaguei pelas ruas o resto da noite. Ceei, é verdade um quase nada, mas o bastante para ir até à manhã. Vi as últimas horas da noite e as primeiras do dia, vi os derradeiros passeadores e os primeiros varredores, as primeiras carroças, os primeiros ruídos, os primeiros albores, um dia que vinha depois do outro e me veria ir para nunca mais voltar. As ruas que eu andava como que me fugiam por si mesmas. Não tornaria a contemplar o mar da Glória, nem a serra dos órgãos, nem a fortaleza de Santa Cruz e as outras. A gente que passava não era tanta, como nos dias comuns da semana, mas era já numerosa e ia a algum trabalho, que repetiria depois; eu é que não repetiria mais nada.
Cheguei a casa, abri a porta devagarinho, subi pé ante pé, e meti-me no gabinete, iam dar seis horas. Tirei o veneno do bolso, fiquei em mangas de camisa, e escrevi ainda uma carta, a última, dirigida a Capitu. Nenhuma das outras era para ela; senti necessidade de lhe dizer uma palavra em que lhe ficasse o remorso da minha morte. Escrevi dous textos. O primeiro queimei-o por ser longo e difuso. O segundo continha só o necessário, claro e breve. Não lhe lembrava o nosso passado, nem as lutas havidas, nem alegria alguma; falava-lhe só de Escobar e da necessidade de morrer."


Vamos portanto, ao ponto principal... De certa forma aqui, Bentinho justifica toda a sua construção da traição de Capitu, em uma obra onde o protagonista mata a amante de forma errada, ou seja, na peça de Otelo, Desdêmora é inocente, vitima do delirio de Otelo, quando este baseou seu homicidio na evidencia de um lenço. Temos então que Bentinho se faz convencer pela seguinte hipotese: Se Otelo matou Desdemora por causa de um lenço, porque não posso fazer o mesmo com Capitu, por muito mais?


É esta a impressão que tenho da obra, talvez aqui esteja a chave que Machado tenha deixado para a compreensão desse dilema. Vale ressaltar que na época do livro, o público na sua grande maioria não se valia do conhecimento da peça de Otelo para compreender essa possivel chave da obra.

Fica ai minha sugestão... Deveria enfatizar alguns pontos, porém o post já está grande demais...
Fica ai o convite à leitura critica do livro para concordar ou discordar da minha posição...

Obs: Bentinho, não se preocupe, Capitu nunca lhe traiu com Escobar... Mas sim traiu Escobar , a vida inteira, com voce!!!

Um grande abraço e ótima semana a todos!!!
PS: O Haroldo não para de me pedir para que mande saudações...então ai vai: SAUDAÇÕES DO HAROLDO

3 comentários:

  1. Caro Calvin,

    Li duas vezes minhas reminiscências e reflito até hoje sobre elas. Se fui traído ou não, pouco me importa. Mas fazer tudo o que fiz, e jogar minha vida fora por especulações, isto sim foi o grave.

    Abraços, meu caro.

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  2. galera, vamo reduzi o tamanho dos posts
    ta foda de ler

    bjinhos

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  3. É Calvin querido, você exagerou no tamanho desse aqui. rs

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