quarta-feira, 12 de novembro de 2008

As intermitências da morte


Quebrando um pouco clima formal decorrente da discussão sobre educação no post anterior... vamos falar de literatura rs na verdade fazer uma propaganda de um livro recente e excelente!
As Intermitências da morte, de José Saramago, lançado em 2005!
O livro trata de um país que a partir da virada de ano ninguém mais morre, a morte (tratada no livro em letra minúscula mesmo) deixa de agir, de tanto que as pessoas reclamam dela! A partir daí o autor começa a narrar a felicidade geral de alguns, misturada com a infelicidade de outros e com o desespero sobretudo econômico de uma série de setores: funerário, seguradoras, hospitais...
Mas o mais interessante é o desespero da autoridade religiosa local porque fim da morte significa que não há ressurreição, e não havendo tal... não faz sentido existir a religião! Começado todo esse caos, as pessoas depositam cada vez mais confiança no primeiro ministro que governa juntamente com um Rei, que (como nunca acontece no mundo real) só é informado das coisas que acontecem quando elas chegam no limite.
Depois que passou o momento de euforia, aos poucos algumas pessoas começaram a lamentar a ausência de morte, principalmente as que queriam morrer e aquelas que tinham parentes que estavam em uma espécie de 'coma' e os hospitais e casas de repouso mandavam de volta para a família cuidar. Então essas famílias começaram a atravessar a fronteira e deixar que os parentes morressem e fossem enterrados em terras vazias de outro país. Essa prática se tornou tão constante que o governo teve que intervir colocando um monte de soldados nessa fronteira; mas como em qualquer situação, por mais suja que seja, sempre tem gente pra lucrar em cima, uma máphia passou a ameaçar o governo pra que alguns soldados 'deixassem' o livre comércio de pessoas a morrer continuar; e o governo cedeu!
Mas o caos social atingiu certas dimensões que fez com que a própria morte intervisse novamente e voltasse a matar, mas com um bônus para a população: ela avisaria com uma semana de antecedência de seu único e fatal golpe, através de uma carta entregue pelos correios locais, para que as pessoas que fossem morrer pudessem se despedir adequadamente de sua existência terrena...

A partir daí a narrativa fica impossível de ser interrompida. O autor passa a descrever a morte, que obviamente é mulher; e sua longa e solitária existência milenar! Revela o lado frágil da morte, suas angústias e indagações, sua inveja dos homens por nunca ter vivido e ao mesmo tempo sua curiosidade por conhecer a vida, por saber o que é viver. A narrativa se desloca do mundo real e todas as complicações e frustrações mundanas, para uma dimensão desconhecida por todos nós, pintada sempre como o fim de tudo ou como o meio necessário para se atingir uma eternidade de bons frutos (não para todos, é claro...). Um certo dia, escrevendo de seu próprio punho as cartas diárias a serem enviadas, a morte se depara com algo nunca ocorrido durante o exercício de sua eterna função: a devolução de uma carta! Tentou envia-la novamente, e mais uma vez ela voltou! Até que a morte constatou que tal destinatário deveria ter morrido há uma semana...mas continuava a viver... como???
Indignada com tal fato a morte resolve tomar suas próprias providências, ignorando ensinamentos e práticas milenares, mas.................

eu não vou contar né! Deixo a leitura de fascinante obra sob interesse do leitor! Espero ter conseguido instigar alguém a lê-la, porque realmente vale a pena!

" Você não é a vida - Sou muito menos complicada que ela ".

Saudações!

6 comentários:

  1. Hey Psiquê...
    fiquei com vontade de ler!..rsrs

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  2. Não li este do Saramago , mas como a postante acima fiquei com vontade de ler.

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  3. Eu estou lendo..
    é mto bom!!
    faz-nos pensar sobre coisas nunca antes imaginadas, os problemas que a falta de mortes poderia nos trazer, enfim...

    (Por enquanto anônimo)

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  4. Saramago dispensa comentários... o cara é foda! Rs!

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