terça-feira, 11 de novembro de 2008

8 motivos para lutar por uma educação melhor

Boa tarde.

Há uma semana, quando discutíamos o que este humilde blog trataria, algum insensato disse "podemos falar sobre educação". Logo pensei "Idiota. Educação? Mas que tema mais fora de moda. Não há o que se falar sobre educação. Hoje em dia nosso governo já consegue atingir a todos e os investimentos já são bem melhores".

Enfim, mas como sou como Bentinho (sim, aquele do Machado), gosto de achar pelo em ovo e questionar coisas que não fazem sentido. Por isso, em divagações inúteis, pensei em 8 críticas, 8 motivos para lutar por uma educação melhor. São apenas fruto de uma imaginação muito fértil, a la Dom Casmurro, que talvez queiram dizer alguma coisa. Só peço que me perdoem pela excessiva formalidade.

1 – A educação é instrumento de dominação ideológica das classes dominantes. De tudo que escrevo hoje, acredito este ser o item menos questionável. Não pretendo dizer que, no pouco espaço de liberdade que tem em seu trabalho, o educador não possa intervir e “atrapalhar” o processo de reprodução da ideologia das classes dominantes. Mas, de qualquer maneira, o sistema educacional como um todo, suas legislações e métodos, estão à serviço da perpetuação do domínio do grande capital.

2 – Ainda presenciamos o predomínio de uma educação tradicional. Todo educador, ou a maioria deles, dirá que uma das principais funções da educação é formar indivíduos autônomos. Esta pretensão se revela controversa ao vermos a prática pedagógica predominante, cujo auge da estupidez se deu na Ditadura Militar. É uma prática que ainda se baseia muito mais no controle e na disciplina que na construção de valores a partir do próprio indivíduo. Assim, forma um indivíduo heterônomo, nunca autônomo. Seria inocência demais não ver relação deste item com o anterior.

3 – A educação brasileira é marcada por forte dualismo. É brutal a diferença de condições de ensino entre as classes. Ao estudar como aparece a educação através das Constituições, veremos uma tendência, com algumas descontinuidades, a se privilegiar cada vez mais o ensino privado. Há incentivos fiscais diversos à escola privada, mas investimentos ridículos no ensino público. O que pode ser deduzido é que, para as classes que detêm o poder, a idéia de melhoria do ensino se aproxima mais de se expandir e “baratear” o ensino privado do que de se qualificar o ensino público. É claro que isto é fruto de um Estado dominado pelo mercado. E quando a educação vira mercadoria, ela não atende mais ao interesse público, e sim aos interesses individuais de quem a vende.

4 – O ensino se propõe a preparar o aluno para algo que é escasso. Provavelmente, o desemprego nunca foi um problema tão presente como na atualidade. Assim, se é preocupante uma educação que enfoque apenas o mercado de trabalho, é mais preocupante ainda quando esse mercado está escasso. Quem terá acesso às poucas vagas que o mercado fornece? Largam na frente os que tiveram melhor condição de renda; aqueles cujo aprendizado não foi comprometido por situações de penúria e desnutrição na infância; os que possuem “capital social”; os filhos de empresários, etc. E aos outros, de que valerá um ensino focado no mercado? Boa pergunta.

5 – Vivemos um processo de precarização universitária. Em nome da expansão de vagas, tudo tem valido. O Prouni (Programa universidade para todos) garante bolsas a estudantes de baixa renda em instituições particulares de ensino superior. Em troca, elas recebem incentivos fiscais. O problema é que a qualidade dessas instituições é cada vez pior, em vistas de um bom preço. Educação está virando um bom negócio, sobretudo no ensino superior. Além dessa questão mercadológica, nas universidades estaduais paulistas, por exemplo, vimos um aumento enorme de vagas e cursos, mas não de investimento. O resultado inevitável é a queda na qualidade.

6 – A formação docente é deficitária. Sobretudo aos professores do ensino público (com destaque aos da rede estadual, no caso de São Paulo), a formação é bastante precária. Primeiro, porque o ensino superior está sendo precarizado, e a queda de qualidade do ensino resulta na queda da qualidade do futuro docente. Segundo, porque durante a vida profissional do professor da escola pública estadual, poucas oportunidades de qualificação e educação são oferecidas pelo Estado.

7 – Os professores são mal remunerados. É difícil falar disso sem cair na obviedade: os professores recebem mal. Por receberem mal, precisam de vários empregos. Tendo vários empregos, seu tempo para preparação cuidadosa das aulas é escasso. Com tempo escasso e pouco dinheiro, não podem se atualizar, estudar, especializar, enfim, continuar seu processo de formação. Tudo isso é óbvio e muito falado. O que é estranho é que, mesmo sendo tão óbvio, nada é feito.

8 – O vestibular constitui-se uma seleção elitista. De modo geral, nosso ensino fundamental e médio está enraizado numa concepção “bancária” da educação, imposta pela ideologia dominante a que já me referi. Ao invés de levarem os alunos a problematizar e olhar de maneira crítica a realidade em que vivem, os professores “depositam” o conhecimento e os alunos o armazenam. Assim, é possível prever as características dos serão os selecionados: 1)são, salvo exceções, beneficiados pela mesma ideologia que institui uma concepção pedagógica “bancária” e, por isso, mais adaptados a ela; 2)são os que, numa concepção “bancária”, receberam melhores “depósitos”, ou seja, os que aprenderam (leia-se: decoraram) integralmente o conteúdo que cai na prova, com professores mais qualificados, em estrutura física adequada, número de alunos razoável por sala, etc. Resultado: quem tem melhor condição financeira está mais apto a ser aprovado.

Por enquanto, basta. Faltou falar de várias outras coisas (Reuni, Ensino Religioso, polemica das cotas universitárias, etc.), mas imagino que nosso caro internauta já esteja exausto de baboseiras. Deixo para meus colegas falarem desses temas irrelevantes, ou quem sabe aprofundarem o que acabei de escrever.

Que meus colegas do Blog e nossos visitantes comentadores sintam-se à vontade para discordâncias.

Agradeço vossa atenção,

Ass: Bentinho

2 comentários:

  1. Educação!
    Eu acho um tema super relevante na verdade...
    E gostei dos 8 pontos.
    Porém, acredito que o professor pode mtoo mais do que "atrapalhar" ele pode intervir de forma muito significativa. ok, que ele e seu trabalho estão envolvidos em uma coisa maior... mas a gente consegue ver por aí bons exemplos.

    Sobre o Prouni, tem o outro ponto de vista né? Quanta gente não conseguiu ingressar em uma boa universidade por causa dele???

    Penso que o problema da questão do dualismo é central... ele cria todos os outros...

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  2. Eu concordo com o comentário acima, é um tema absolutamente considerável!
    Embora a maioria de nós consigamos ver esses pontos latentes, eles ainda são negligenciados pelos poderes políticos...
    A educação brasileira está a anos em um círculo onde o currículo do ensino fundamental e médio prepara o aluno pro vestibular, que, teoricamente, seria seu "passe mágico" pro mercado de trabalho... O que vem acontecendo é uma vulgarização do ensino superior, ou seja, pura e simplesmente se formam centenas de péssimos profissionais. E, ainda pior, estamos formando mão-de-obra, apenas, nada de cidadãos capazes de refletir, criticar, questionar...

    Bem como propõe o blog, acho que vale realmente propor a reflexão acerca do tema, senão algum tipo de ação!

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